As lições de uma velha cidade: utilizando as dificuldades e o conhecimento a nosso favor

Pérgamo decidiu que usaria a dificuldade como um trampolim, não como uma desculpa para se acomodar ou vitimizar.

fonte: Guiame, Alisson Magalhães

Atualizado: Terça-feira, 11 Julho de 2023 as 2:19

Ruínas de Pérgamo. (Foto: Yandex)
Ruínas de Pérgamo. (Foto: Yandex)

Pérgamo foi uma das cidades mais importantes da Ásia. Fundada no século V antes de Cristo, cresceu conquistando toda a região costeira do continente, próxima ao mar Egeu. Ficava onde hoje está a cidade de Bergama, na Turquia. Pérgamo é citada no livro de Apocalipse, na Bíblia. Sua igreja, no primeiro século, foi um dos sete destinos de uma das cartas que o apóstolo João escreveu. Você pode conferir em Apocalipse 2:14.

A importância de Pérgamo se dava principalmente pela sua vasta e riquíssima cultura. Já no século III a.C. a biblioteca da cidade começava a rivalizar com a biblioteca de Alexandria, no Egito. Habitada por pensadores e amantes das artes e cultura, a cidade manteve desde cedo uma política de paz com o Império Romano, mas despertou a ira do Egito quando começou a travar uma disputa sobre qual cidade teria a maior biblioteca: Alexandria ou Pérgamo.

Essa disputa fez com que o rei de Alexandria — principal fornecedora do papiro — se recusasse a enviar papiros para Pérgamo, na tentativa de impedir que seus pensadores continuassem escrevendo. Nesse momento de dificuldade, o Rei Eumenes II ordenou que fosse encontrado outro material que substituísse o papiro na confecção de manuscritos. Foi dessa situação que se descobriu que o couro, após envernizado, poderia não apenas servir para a escrita, como duraria muito mais tempo, e então foi inventado o Pergaminho. E é por conta do pergaminho que temos acesso hoje a vários manuscritos antigos, inclusive os da Bíblia. É incrível como podemos usar a dificuldade a nosso favor.

Como se escreve sem papel? Como se criam livros sem sua matéria-prima? Como transformar uma biblioteca na maior do mundo sem livros? O embargo de Alexandria caiu como uma bomba e poderia ter efeitos devastadores para a cidade de Pérgamo e para a própria civilização. A Dificuldade poderia representar o fim do sonho — “Está tudo perdido para nós” —, um convite ao comodismo — “já somos a segunda biblioteca do mundo, vamos nos contentar com o que temos” —, ou até mesmo uma afronta e levá-los a uma guerra que poderia destruir ambas as bibliotecas, o que seria uma tragédia cultural para toda a humanidade.

Felizmente nenhuma dessas coisas aconteceu. Por quê? Porque Pérgamo decidiu que usaria a dificuldade como um trampolim, não como uma desculpa para se acomodar ou vitimizar. Pérgamo era habitada por pensadores e, no momento da dificuldade, estes fizeram jus à sua herança e legado culturais: inventaram sua própria matéria-prima e, por consequência, reinventaram a maneira de se escrever em seus dias.

A Lição? Quem tem recursos — não estou falando de dinheiro — e disposição sempre contorna as dificuldades que se apresentam em qualquer área da vida. Talvez ninguém culparia os habitantes de Pérgamo se reclamassem abertamente, se fizessem de vítima a fim de tentar conseguir apoio das outras nações, ou mesmo se fossem à guerra, mas eles sabiam o que eram e tinham recursos, então não ficaram se lamentando e reclamando da dificuldade. Ao invés disso, transformaram sua dificuldade em um produto que lhe rendeu fama e riqueza durante anos. O papel só começaria a substituir o papiro depois do século XIII.

Em tempos onde o país vive uma polarização inédita, regada a surtos de vitimismo e flerte com o assistencialismo, refletir sobre a história de Pérgamo nos traz um lembrete importante do quando somos nós os principais responsáveis e protagonistas da nossa própria história, e nos ensina o quanto precisamos parar de buscar desculpas e começar a assumir responsabilidade nos ajuda a tomar atitudes para melhorar a nossa própria vida.

Que reaprendamos a arte de pensar ao invés de tentar terceirizar a responsabilidade pelas nossas dificuldades. Penso que se aprendermos essa pequena lição e a colocarmos em prática, todos podemos ter um anos bem melhores do que a vida tem sido até agora.

Alisson Magalhães é Ministro Ordenado na Igreja do Nazareno, formado em Teologia pela Faculdade Nazarena do Brasil, professor de Teologia em cadeiras teológicas, pastorais e na área de música e adoração. Autor do livro Cristianismo 4.0 – Desafios para a comunicação cristã no século XXI, à venda pela Book Up Publicações. Consultor em Comunicação Governamental e Marketing Político, atualmente serve com sua esposa, Elaine, na Serra Catarinense, onde também atua como jornalista e Chefe de Gabinete na prefeitura de Palmeira/SC.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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