Casamento: O laço que une. É o alicerce de qualquer nação e a base para o seu crescimento. No entanto, a lei judaica restringe com quem os filhos de Abraão podem se casar – mesmo entre aqueles que partilham a sua própria fé. A Torah nos diz que nem um homem amonita nem um homem moabita pode se casar com descendentes diretos de Abraão.
É verdade que eles podem se casar com outros convertidos, mas nunca poderão entrar em união direta com descendentes da Congregação de Israel.
A Torah nos diz o motivo desta restrição. “Sobre o fato de que eles (Amon) não te saudaram com pão e água quando saíste do Egito e por empregar (Moabe) Bilaam, filho de Pe’or, para te amaldiçoar” (Dt 23:4-5).
Deve-se realmente perguntar: de acordo com a Torah, qualquer pessoa pode se tornar judia? Requer a aceitação das mitsvot [mandamentos] e das responsabilidades que o Judaísmo acarreta. No entanto, parece que a Torah tem grandes motivos para proibir que homens descendentes da nação de Amon e Moabe se casem com descendentes diretos de Abraão. Certamente não se trata apenas da recusa de pão e água ou da contratação de um feiticeiro para amaldiçoar os judeus. Afinal de contas, os egípcios escravizaram os descendentes de Ia´aqov [Jacó], no entanto, os convertidos egípcios podem casar-se com judeus – embora depois de três gerações de espera. Até mesmo os descendentes convertidos de nosso inimigo Esaú podem se casar com os filhos de seu irmão inimigo, Ia´aqov. Qual é então a característica maligna inerente de Amon e Moabe que não permite sua união com Abraão?
Um jovem estudante brilhante entrou nos portais da Yeshiva Torá Voda’ath [escola judaica] na década de 1940. Vindo de uma distinta família rabínica que incutiu nele uma mente criativa, ele questionou algumas das regras e restrições misteriosas do dormitório que foram impostas tendo em mente meninos de menor caráter.
Mas regras, disse o conselheiro do dormitório, são regras e ele queria que o jovem estudante fosse temporariamente expulso até que ele concordasse em se conformar. Uma expulsão desse tipo não teria deixado ao jovem (que morava fora da cidade) outra alternativa senão deixar a Yeshiva.
Eles levaram o assunto ao Rosh Yeshiva, Rabino Yaakov Kamenetzky. “É verdade”, disse ele, “regras são regras, mas devo algo a este jovem”. O conselheiro do dormitório parecia atordoado.
“Nos anos 1800, o bisavô deste menino ajudou a estabelecer o kollel (programa de bolsas para estudiosos casados da Torah) no qual eu estudaria algumas décadas mais tarde. Tenho uma dívida de gratidão com sua família. Se as regras não permitirem sua permanência no dormitório, ele dormirá na minha casa.”
Uma característica essencial do povo judeu é a gratidão. Os filhos de Avraham [Abraão] são inculcados com isso, seja por gratidão a Hashem [forma que judeus usam para se referir a Deus] ou a seus mensageiros mortais. No entanto, parece que Amon e Moabe não sentem gratidão. Seu antepassado foi Ló, sobrinho de Avraham que criou Ló e o salvou durante uma guerra violenta. Avraham ensinou a Ló o espírito de hospitalidade e ajudou-o a estabelecer-se na vida. Contudo, os filhos de Ló, Amon e Moabe, não demonstraram gratidão. Na verdade, eles estavam ansiosos para destruir os filhos de Avraham – tanto física como espiritualmente. Não pode haver fusão dessas duas características.
Podemos lidar com os inimigos. Quando um edomita ou egípcio aceita a fé, ele pode tornar-se um verdadeiro parceiro em todos os aspectos que unem os judeus – até mesmo no casamento. Mas na harmonia da família judaica, na construção do futuro da nossa nação, não há espaço para ingratos.
As mulheres moabitas, contudo, estão isentas da proibição. Parece que eles não tinham controle sobre as decisões. Quão interessante é notar que a convertida moabita, Rute, a mulher que demonstrou tremenda gratidão para com sua sogra, foi o exemplo que estabeleceu um precedente que suspendeu a proibição das convertidas mulheres moabitas.
Essas ações de gratidão e compreensão levaram ao nascimento do Rei Davi, o antepassado de Mashiach [Messias].
Tradução: Mário Moreno
Por Rav. Mário Moreno, fundador e líder do Ministério Profético Shema Israel e da Congregação Judaico Messiânica Shema Israel na cidade de Votorantim. Escritor, autor de diversas obras, tradutor da Brit Hadasha – Novo Testamento e conferencista atuando na área de Restauração da Noiva.
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