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Shavuot – uma repetição do Sinai

O dia em que os céus se abriram.

fonte: Guiame, Mário Moreno

Atualizado: Segunda-feira, 17 Maio de 2021 as 12:55

(Foto: Canva)
(Foto: Canva)

A Festa de Shavuot é uma das três principais festas anuais do calendário bíblico. Todos sabemos da importância e do significado desta festa dentro do calendário bíblico – judaico. Por isso a Bíblia também diz: “contem cinquenta dias”, e é por isso que, na Brit Hadasha, o nome para o feriado foi geralmente traduzido como “Pentecostes”, pois esta palavra grega está associada ao quinquagésimo dia. Portanto, os eventos dos dois primeiros capítulos do livro de Atos devem ser vistos dentro do contexto de Shavuot.

Temos então as palavras de Ieshua em Atos 1:4 onde ordena a seus discípulos que não «partissem de Jerusalém», e somente entenderemos este mandamento se nos lembrarmos que Shavuot é uma das três festas bíblicas de peregrinação – shalosh regalim -, quando todos os Judeus deveriam subir a Jerusalém conforme está escrito na Torah: «Três vezes ao ano, todos os seus homens aparecerão diante do IHVH, seu Elohim, no lugar que ele escolher: na festa dos pães ázimos, na festa das semanas e na festa dos tabernáculos» (Dt 16:16).

E temos então em Atos 2:

“Ao cumprir-se o dia de Shavuot, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio dos céus um som como de um vento impetuoso, e encheu todas a casa onde estavam assentados. E apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles” (At 2:1-3).

Agora vamos nos lembrar que, no século I, a festa de Shavuot já estava associada ao pacto feito pelo Eterno com Israel através de Moshe. Entenderíamos então que certamente não era coincidência que a descida do Espírito fosse descrita no dia de Shavuot, e pudéssemos ver todos esses belos e profundos paralelos entre o Eterno dando sua Palavra e dando seu Espírito. Como o evento mais importante e profundo da história Judaica —receber a Torah no Monte Sinai— aconteceu no Shavuot, certamente não foi coincidência que os céus se abriram e o Espírito desceu sobre os discípulos no mesmo dia. Portanto, Lucas descreve conscientemente os eventos de Atos 2 em termos de um «segundo Sinai».

Isso deve ser entendido dentro do contexto da tradição judaica que relata os fatos ocorridos lá no Sinai apontando para o cumprimento da profecia de Joel. A relação entre Sinai e profecia é muito grande, veja por exemplo: “Venha e veja que os atributos do Santo Abençoado não são como os atributos de carne e sangue. Um rei de carne e osso não é capaz de fazer guerra, ser escriba e ensinar crianças. No entanto, com o Santo Abençoado, não é assim; ontem no mar, D-us era como um guerreiro, como diz (Êx 15:3) “D-us é um homem de guerra“, e diz (Jó 26:12) “Na força de D-us, D-us dividiu o mar” – e hoje, ao dar a Torah, D-us desceu para ensinar a Torah aos filhos de D-us, e assim diz (Jó 36:22) “Veja, D-us está além do alcance do poder de D-us; quem governa como D-us?”, isto aconteceu[?]: (Êx 20:1) “E D-us disse todas essas coisas“.

Estas palavras conectam os dois eventos como um momento em que o eterno “desceu” para ensinar a Torah aos judeus! E como isso fica explícito? Com as palavras “E D-us disse todas essas coisas” (Midrash Shemot Rabah 28.6).

Em ambas as ocasiões, Shavuot se torna o dia em que os céus se abriram e o próprio D-us reivindica seu povo. O «ruído como um vento violento» em Atos 2 certamente ecoa o trovão de Êxodo 20:18, e o fogo de Atos é paralelo ao fogo de Êxodo. No Midrash Shmot Rabba, temos este comentário sobre Êxodo 20: «Uma voz foi dividida em sete e elas foram divididas em setenta línguas». Como aconteceu no Sinai, em Shavuot diferentes vozes são ouvidas e as pessoas de várias nacionalidades as ENTENDEM como uma mensagem magnificando ao Eterno”! O texto do Midrash Shemot completo diz mais:

“Outra explicação: “E D-us disse todas essas coisas, dizendo” – o rabino Yitzchak disse: O que os profetas profetizariam no futuro em cada geração, eles receberam do Monte Sinai. Como Moshe disse a Israel (Dt 29:14): “Mas com aqueles que estão aqui conosco hoje e com aqueles que não estão aqui conosco hoje”. Não diz [no final do verso] “conosco hoje”, mas “hoje conosco”; estas são as almas que serão criadas no futuro, que não têm substância, sobre as quais “posição” não é mencionada. Pois mesmo que eles não existissem na época, cada um recebeu o que era dele. E assim também [afirma] (Ml 1:1): “O fardo que D-us falou a Israel por [‘na mão de’] Malaquias” – não afirma “nos dias de Malaquias”, mas antes “nas mãos de Malaquias”, como a profecia já estava em suas mãos do Monte Sinai, mas até aquele momento, ele não tinha permissão para profetizar. Da mesma forma, Yeshayahu disse (Is 48:16): “desde o momento em que eu estava lá”. Yeshayahu disse: “Desde que a Torah foi dada no Sinai, eu estava lá e recebi essa profecia, exceto [apenas] ‘agora D-us enviou a mim e Seu espírito'” – até agora, ele não tinha permissão para profetizar. E não foram apenas os profetas que receberam suas profecias do Sinai, mas também os sábios que surgiram em cada geração – cada um deles recebeu o que era dele do Sinai. E também [afirma] (Dt 5:19): “Essas coisas o Senhor falou a toda a sua congregação, uma […] grande voz e não cessou”: O rabino Yochanan disse: “Uma voz foi dividida” em sete vozes e foram divididas em setenta idiomas “; O rabino Shimon ben Lakish disse: “Dela profetizou todos os profetas que surgiram”. Os Sábios disseram que não tiveram eco. O rabino Shmuel bar Nachmani disse em nome do rabino Yochanan: “Qual é o significado de ‘A voz do IHVH está em força’ (Sl 29:4)? Alguém pode realmente dizer isso? Não é verdade que, com um único anjo, nenhuma criatura pode resistir à sua voz, como afirma (Dn 10:6): ‘E seu corpo era como berilo (társico) e a voz de suas palavras era como a voz de a multidão. E será que o Santo, bendito seja Ele, a respeito de quem está escrito (Jr 23:24): ‘Não encho os céus e a terra’, preciso falar com força? Antes, ‘A voz do Senhor está em força ‘- na força de todas as vozes.” E este versículo apoia a visão do rabino Yochanan: “O IHVH dá a palavra, os anunciadores são um grande exército” (Sl 68:12).”

Temos então agora uma visão diferente do que aconteceu em Jerusalém naquele dia… Não foi somente uma manifestação grandiosa, foi também uma manifestação dos céus descendo à terra e a voz celestial foi ouvida e entendida e transformou aquelas pessoas num grande exército que anunciaria as boas novas aceca do Mashiach!

Por isso temos o registro que diz: «E quando esse som ocorreu, a multidão se juntou e ficou confusa, porque todos os ouviram falar em sua própria língua. Então ficaram todos maravilhados». Assim, o mandamento de Ieshua aos apóstolos para esperar em Jerusalém também pode ser entendido como uma ordem de que, assim como a Torah – sua Palavra foi dada em Shavuot, seu Espírito também seria dado em Shavuot como a manifestação da Torah Viva que já havia estado entre eles.

O que significam as “setenta vozes”

O oculto e o revelado

Para aquelas pessoas que participaram do evento ocorrido em Jerusalém no século primeiro havia um entendimento de que não somente a profecia estava se cumprindo diante de seus olhos como também as afirmações da tradição judaica confirmavam que estas foram manifestações divinas e messiânicas que apontavam para o início da “era messiânica” e este seria o tempo em que o Messias ben Iosef seria anunciado até que viesse novamente na figura do Messias ben David!

O que ocorreu no Sinai e depois repetiu-se em Jerusalém demonstra que o mistério das “setenta vozes” estava relacionado à disseminação da Palavra do Eterno por todo o mundo. Na tradição judaica o número 70 está associado às nações da terra; então quando são ouvidas estas vozes no Sinai entendemos que a Palavra do Eterno seria difundida em todo o mundo – também em todas as línguas – e quando ocorre o evento do derramar do Espírito o Santo em Shavuot ocorre também uma outra experiência: as pessoas que participaram da Festa – que vieram de fora de Israel – ficaram sabendo do ocorrido 50 dias antes; um irmão judeu havia morrido em Pessach este homem viveu e mostrou todos os sinais referentes ao Messias. Agora, o seu nome é anunciado como o Redentor de Israel – o Messias ben Iosef – e Sua Palavra deverá ser levada a todo o mundo.

Como esta mensagem e a experiência impactante do poder do Espírito o Santo haviam tido lugar ali naquele dia, então os peregrinos apo partirem estavam levando em suas “bagagens” não somente a vivência de mais uma festa de Shavuot; eles agora estavam carregando uma experiência extraordinária com o Espírito o Santo e também a mensagem salvadora acerca de Ieshua.

O que aconteceu naquele lugar naquele tempo não foi somente mais uma Festa de Shavuot; ocorreu ali o cumprimento da profecia de Joel que diz: “E há de ser que depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito” Jl 2.28-29. Os peregrinos foram a Jerusalém para cumprir a mitsvá da Festa de Shavuot, mas naquele ano foram surpreendidos pela poderosa intervenção do Espírito o Santo fazendo com que a profecia ocorresse ali e mais um parágrafo da história de Israel dewcritas nas Escrituras fosse vivida ali.

Deu início então um período em que Ieshua passa a ser anunciado como o Ungido – Messias – para todos os habitantes da terra. Isso para cumprir o que Ele disse: “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido. Porquanto tudo o que em trevas dissestes à luz será ouvido; e o que falastes ao ouvido no gabinete sobre os telhados será apregoado” Lc 12.2-3. Esta palavra torna-se então o foco da vida dos judeus que estão na diáspora, pois agora aquilo que era somente uma promessa passa a ser anunciado como um fato histórico vivido por centenas de judeus em Israel.

Kefa – Pedro – fala sobre isso quando diz aos irmãos reunidos ali em Jerusalém: “Saiba, pois, com certeza, toda a casa de Israel que a esse Ieshua, a quem vós crucificastes, Elohim o fez Senhor e Ungido. Ouvindo eles isto, compungiram-se tocados em seu coração e perguntaram a Kefa e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos? E disse-lhes Kefa: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Ieshua o Ungido para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito o Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Elohim, nosso Senhor, chamar” At 2.36-39.

Agora, o que era uma vaga promessa, distante, torna-se o foco da vida de muitos homens e mulheres em Israel e em todo o Império Romano.

E hoje?

Temos em nossos dias dois grupos distintos: os judeus – e suas ramificações – e o cristianismo – protestantismo – que seguem – pelo menos em parte – aquilo que foi descrito aqui.

O tempo tem passado e a cada dia aproxima-se o momento da redenção final do homem, quando Ieshua virá buscar seu povo para estar consigo para sempre. Portanto, a repetição dos dois eventos que marcaram a história de Israel aponta para uma conclusão interessante: no deserto – Sinai – e em Jerusalém a Palavra viva do Eterno esteve presente e pode então transformar a vida daqueles que a ouviram.

Nosso desafio é levar esta palavra adiante para que as pessoas possam não somente ter acesso à Salvação em Ieshua, mas também possam ser transformadas pela unção do Espírito Santo tornando-se assim canais para que outros sejam alcançados.

Shavuot foi e ainda é para nós um grande “marco” que nos remete a um tempo de visitação, onde os céus e a terra encontram-se e ocorre então o Grande Evento em que a Torah viva vem para nos tocar e transformar em “criaturas restauradas”.

Baruch ha Shem!

Por Rav. Mário Moreno, fundador e líder do Ministério Profético Shema Israel e da Congregação Judaico Messiânica Shema Israel na cidade de Votorantim. Escritor, autor de diversas obras, tradutor da Brit Hadasha – Novo Testamento e conferencista atuando na área de Restauração da Noiva.

*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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