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Experiências ou Doutrinas Bíblicas?

Nem toda manifestação sobrenatural provém de Deus.

fonte: Guiame, Roberto Cruvinel

Atualizado: Segunda-feira, 8 Julho de 2019 as 12:05

(Foto: Road Revelations)
(Foto: Road Revelations)

Como devem ser dirigidas as nossas vidas?

Por experiências sobrenaturais ou pela doutrina Bíblica?

Esta é uma pergunta que poderia ser feita com muita propriedade em nossos dias.

Estamos em um momento da história do cristianismo no qual se buscam de maneira desordenada as experiências espirituais em detrimento da doutrina bíblica.

Não nego a legitimidade das experiências espirituais, pois a Bíblia está repleta delas. O próprio novo nascimento é uma experiência espiritual, de caráter pessoal (Jo 3.3-6). A própria vivência no evangelho é uma experiência, a qual mostra o resultado – uma vida transformada (2 Co 5.17).

Toda experiência espiritual deve ser analisada à luz da Bíblia Sagrada, sendo esta superior em autoridade àquela.

Vejamos o que o apóstolo Paulo ensinou à Igreja da Galácia:

“Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema.” (Gl 1.8)

Ainda com referência ao contexto imediato deste versículo, vemos no v.6 que a palavra “outro” é a tradução do termo grego “e/teroj” (heteros), que poderia ser melhor traduzido por “de tipo diferente”.

Nenhuma manifestação espiritual, por mais legítima que possa parecer, pode anular ou alterar as Sagradas Escrituras.

Minha grande preocupação é ver que, atualmente, muitos cristãos estão permitindo que suas vidas sejam dirigidas por experiências e muitas vezes não levam em conta as advertências e a direção revelada nas páginas da Bíblia. Não raro, muitos procuram provar a legitimidade de suas experiências “forçando” a interpretação de certos textos bíblicos.

Sem dúvida, as experiências espirituais têm o seu lugar na vida de cada cristão; creio que cada crente em Jesus deve ter uma experiência pessoal e profunda com seu Salvador, algo sobrenatural, que modificará sua vida. Por outro lado, devemos praticar o ensino contido no texto de 1 João 4.1,3, onde nos exorta a provarmos os espíritos, pois nem toda manifestação sobrenatural provém de Deus, como nos apresenta exemplos a própria Bíblia. Vejamos:

a. (1 Sm 28.1-20) - Saul perturbado e longe de Deus, consulta uma feiticeira para ter uma comunicação com Samuel, servo de Deus, que havia morrido. Houve uma experiência sobrenatural, porém, os melhores comentadores entendem que a referida feiticeira viu na realidade um demônio. Saul pensou que era o espírito de Samuel vindo da parte de Deus (existem alguns teólogos que infelizmente creem da mesma maneira). Se Saul estivesse na presença do Senhor, procuraria agradar e ouvir a Deus de maneira legítima, conheceria e praticaria a Lei que proibia e condenava o seu procedimento (Dt 18.10-12). Quantos que, no afã de proporcionar um crescimento para sua igreja, não se enquadram aos paradigmas doutrinários bíblicos, procurando desculpas para justificar seus atos, desprezando o conselho de Deus e seguindo seus próprios corações. “Há caminhos que ao homem parece direito, mas ao cabo dá em caminhos de morte.” (Pv 14.12).

b. (2 Cr 18.12-27) O rei de Israel, chamado Acabe, gostava de ouvir palavras de elogio e bênção, e contrariava-se quando a mensagem de Deus não era exatamente aquilo que ele queria ouvir. Esse rei, como muitos, não queria seguir a verdade, permitindo o Senhor Deus que um espírito mentiroso falasse na boca dos “profetas”, e quando esses profetas da mentira foram desmascarados pelo profeta de Deus, mostraram uma reação violenta. Da mesma maneira procedem em nossos dias os arautos das inovações doutrinárias, que quando confrontados com a Palavra de Deus, evitam mostrar as bases bíblicas e fundamentos de seus ensinos, e por vezes não admitindo qualquer contestação ou suspeita relacionados à legitimidade de suas experiências, o que para alguns, parece que são infalíveis.

c. No Novo Testamento, entre outras manifestações espirituais narradas, citaremos uma que está registrada no livro de Atos dos Apóstolos, onde Paulo deparou-se com uma jovem que declarava serem ele e seus companheiros servos do Deus Altíssimo, e o apóstolo repreendeu o espírito de adivinhação (demônio mesmo), que controlava a vida daquela jovem (At 16.16-18). Como falta discernimento de espíritos em nossos dias, pois quantas vezes o inimigo das nossas almas se apresenta como um anjo de luz tentando nos enganar, com doutrinas e manifestações mirabolantes, com elogios, com evangelhos falsificados, com títulos e posições elevadas, e infelizmente não são poucos os irmãos que, ao invés de repreender o espírito maligno e os procedimentos antibíblicos, procuram eximir-se de responsabilidades com o seguinte argumento: “Se esta obra é de Deus...” (Atos 16.16-18). “E não é de admirar; porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros de justiça; e o fim deles será conforme suas obras.” (2 Co 11.14,15).

Observamos nestes poucos exemplos a evidência de que, nem todas as manifestações espirituais são provenientes de Deus; e somente firmados na Palavra de Deus podemos analisar a origem de tais manifestações.

A febre moderna de ser dirigido por experiências, está causando muita confusão no meio evangélico.

Não são poucas as igrejas que são dirigidas única e exclusivamente por revelações, sonhos, visões, profecias e outras manifestações e a Bíblia perdeu o lugar de destaque.

Ainda que as manifestações espirituais sejam uma realidade, principalmente no movimento pentecostal, não podemos ser dirigidos pelo coração (Jr 17.9), ou ainda exacerbar no emocionalismo. É por isso que o Senhor nos exorta a meditarmos na Palavra (Js1.8a; Tg 1.22), para que possamos estar aptos para discernir os espíritos.

“Amado, não deis crédito a qualquer espírito, antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 Jo.4.1)

A palavra “experiência” vem do latim “experior”, que significa “provar ou submeter a teste”. Em filosofia, esta palavra é usada para referir-se ao conhecimento adquirido através da percepção dos sentidos; e é o que acontece nesta “febre por experiências”.

Muitas pessoas e grupos evangélicos estão vivendo única e exclusivamente pelo que sentem, quando na realidade devemos viver pela fé, vivendo pelo que cremos (Hb 10.38; 11.1,6) e devemos crer na Palavra de nosso Deus; viver pela fé nas promessas do Senhor, conhecendo as doutrinas bíblicas; entendendo que o conhecimento e a prática das Escrituras levam o crente em Jesus à verdadeira experiência espiritual e pessoal, agradando a Deus e mostrando os frutos de uma vida transformada.

Portanto, apesar da legitimidade das experiências sobrenaturais dentro do contexto bíblico, ninguém pode elevá-las ao status doutrinário, ou ainda, acima das doutrinas bíblicas.

É necessário ter muito cuidado para que não aconteça que pela falta de conhecimento bíblico entremos pelo caminho do sensacionalismo, vivendo por emoções e não pela fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e Sua Palavra.

Trecho do livro "A VIDA DA IGREJA - Uma reflexão sobre a Comunidade Cristã". 

Por Roberto Cruvinel, pastor da Igreja AD Pleroma e O Brasil para Cristo, mestre em Teologia, especialização em Filosofia Cristã, Professor de grego bíblico - Diretor da Escola Teológica Pr. Virgílio dos Santos Rodrigues.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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