Cuba registrou mais de 600 violações da liberdade religiosa em 2023

Além das violações, o relatório da Christian Solidarity Worldwide aponta ressurgimento das táticas de repressão severa.

fonte: Guiame, com informações do Evangelical Focus

Atualizado: Terça-feira, 2 Abril de 2024 as 9:08

O relatório surge em meio aos protestos de milhares de cubanos em várias cidades. (Foto ilustrativa: Unsplash/Alexander Kunze)
O relatório surge em meio aos protestos de milhares de cubanos em várias cidades. (Foto ilustrativa: Unsplash/Alexander Kunze)

A Christian Solidarity Worldwide (CSW) publicou um relatório sobre as “táticas linha dura” adotadas pelo regime comunista cubano, em meio aos protestos recentes na ilha decorrentes da crise alimentar e dos serviços públicos.

Segundo o relatório da CSW foram registrados 622 casos de violações da liberdade de religião ou crença em Cuba em 2023, juntamente com um ressurgimento das táticas de repressão severa.

Isso afeta "grupos religiosos de todas as vertentes, incluindo afro-cubanos, Testemunhas de Jeová, protestantes e católicos, associações registradas e não registradas, inclusive algumas afiliadas ao Conselho de Igrejas de Cuba (CCC)".

Líderes religiosos e políticos presos

A CSW também documenta violações sistemáticas dos padrões mínimos da ONU para o tratamento de presos políticos, onde é negado o direito de possuir uma Bíblia ou qualquer outra literatura religiosa, além de não receberem visitas de líderes espirituais.

A organização cristã identifica diversos líderes religiosos detidos durante e após os protestos de 11 de julho de 2021. Entre eles está o pastor protestante Lorenzo Rosales Fajardo, cuja detenção acaba de ser declarada como arbitrária pelo Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária.

No início de março, Maridilegnis Carballo, esposa de Lorenzo, relatou no Facebook que seus filhos também foram alvo de assédio na escola.

“Há muito tempo não postava nada nas redes, pois sei que não é o caminho para resolver minhas inconformidades, e nós que estamos nesse processo sabemos quanto custa aos nossos familiares presos injustamente o que fazemos pelas redes. Mas nesta oportunidade, apesar das consequências, não posso deixar de demonstrar uma vez a minha indignação com as injustiças e o assédio aos familiares dos presos de 11 de julho.”

‘Violações de direitos humanos’

A CSW aponta que “todos relataram violações consistentes da liberdade de religião e de outros direitos humanos na prisão”.

“Líderes religiosos e suas congregações que tentaram responder às necessidades humanitárias, que se tornaram cada vez mais agudas em muitas partes da ilha, foram perseguidos, multados e, em muitos casos, viram a ajuda que tentavam distribuir ser confiscada.”

Além disso, “aqueles considerados dissidentes pelo governo cubano foram repetida e sistematicamente impedidos de frequentar cultos, geralmente através de detenções arbitrárias de curta duração”.

Um pastor, que preferiu permanecer anônimo devido a ameaças, afirmou: "Tudo o que faço é o meu trabalho pastoral, e meu trabalho é um mandamento do Senhor. Continuarei a realizar este trabalho, mesmo que isso signifique ir para a prisão".

Protestos na ilha

O relatório surge em meio aos protestos de milhares de cubanos que marcharam pelas ruas de várias cidades em 17 de março, exigindo alimentos e eletricidade.

Essas manifestações foram consideradas semelhantes às ocorridas em 11 de julho de 2021, como relatado pela mídia internacional.

A situação é tão crítica que o regime cubano, incapaz de fornecer leite para crianças menores de sete anos, solicitou assistência ao Programa Mundial de Alimentos da ONU pela primeira vez em seus 65 anos de governo comunista, conforme relatado pela imprensa mundial.

"Ainda que muitos cubanos tenham visto como única opção o exílio, ainda há muitos que, mesmo diante de ameaças, assédio e a possibilidade de prisão, continuam a falar contra a injustiça e a se posicionar em defesa daqueles em suas comunidades que estão sofrendo", conclui o relatório.

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