China proíbe cópia de hinos e impressão de materiais religiosos em gráficas

Donos de gráficas na China podem ser punidos caso façam a impressão de materiais religiosos que não foram aprovados pelo governo.

fonte: Guiame, com informações do Bitter Winter

Atualizado: Segunda-feira, 19 Outubro de 2020 as 3:14

Bíblias impressas em chinês na fábrica da Amity Printing, maior produtora de Bíblias na China. (Foto: Reuters/Nir Elias)
Bíblias impressas em chinês na fábrica da Amity Printing, maior produtora de Bíblias na China. (Foto: Reuters/Nir Elias)

Autoridades da China estão proibindo a publicação de materiais religiosos que não foram aprovados pelo governo, atingindo diretamente as empresas de impressão do país, de acordo com a Bitter Winter, uma revista sobre liberdade religiosa e direitos humanos na China.

Em 14 de setembro, uma gráfica na cidade de Luoyang, na província de Henan, foi inspecionada pelos departamentos de educação e proteção ambiental, para determinar se a empresa imprime materiais religiosos proibidos.

“Eles verificaram meu armazém, examinaram todos os registros e até as folhas de papel no chão para ver se tinham conteúdo proibido”, disse o gerente da gráfica. “Se algum desses conteúdos for encontrado, serei multado ou, pior, meu negócio será fechado”.

O gerente disse que teve que recusar todos os pedidos de impressão de livros religiosos. “As inspeções são muito rigorosas”, ele explica. “Qualquer conteúdo religioso torna a questão política, não religiosa. Embora faixas nas ruas digam que as pessoas têm diferentes crenças religiosas, a única fé que podem praticar livremente é a do Partido Comunista”.

A maioria das outras gráficas de Luoyang visitadas pela equipe da Bitter Winter também não aceitam pedidos de impressão de materiais religiosos.

“O governo não permite a impressão de materiais religiosos em todo o país, especialmente cristãos”, explicou um gerente de vendas de uma das empresas visitadas. “Qualquer um que receber esses pedidos infringe a lei e pode ser preso. Esta é uma linha que não podemos cruzar de jeito nenhum. Uma gráfica na cidade foi fechada pela impressão de livros religiosos, e alguns de seus funcionários foram presos”.

Proibições semelhantes são aplicadas às empresas de fotocópia. “Não me atrevo a fazer cópias de duas folhas com hinos religiosos por causa das investigações rigorosas”, disse o atendente de uma loja de fotocópias em Luoyang. “Me disseram para denunciar qualquer pessoa que vier tirar cópias de materiais religiosos”.

O dono de outra loja de fotocópias confirmou que materiais religiosos estão proibidos de serem copiados. “Se os negócios forem descobertos, eles podem ser multados em até dez vezes sua renda mensal; ou pior, os funcionários podem até ser presos”, confirmou. “Se não temos certeza se um texto é religioso, devemos guardar sua cópia e relatar às autoridades”.

Restrições nos correios da China

Para os serviços postais, os materiais religiosos são rotulados como “contrabando”.

“O governo exerce um controle estrito sobre as mercadorias enviadas pelo correio”, disse o funcionário de uma empresa de correspondências em Luoyang. “Só o envio de livros aprovados pelo governo é permitido. Todos os livros com 'má informação', incluindo religião, não podem ser despachados”.

Em 20 de junho, uma fiel da Igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade de Jiyuan, em Henan, foi ao correio para enviar materiais evangélicos para sua filha no exterior, mas foi informada de que suas publicações eram “objetos ilegais”.

“Eu sabia que era ilegal enviar objetos inflamáveis, drogas, armas e munições, mas até materiais religiosos agora são ilegais”, lamentou a cristã.

Restrições à liberdade de correspondências acontecem não só entre os cristãos. No início de setembro, mais de 100 budistas da cidade de Weihai, na província de Shandong, compraram CDs online com sermões de Khenpo Sodargye, um conhecido mestre budista tibetano. 

Quando o remetente levou o pacote para um correio na capital provincial de Jinan, acabou sendo preso. Os nomes e endereços dos compradores foram encaminhados para as delegacias em Weihai e os budistas foram convocados para interrogatório.

“Por causa do controle rígido, os livros budistas não aprovados pelo Estado só podem ser comprados por meio de fontes clandestinas”, disse um budista de Weihai.

Durante uma reunião sobre budismo, organizada em 31 de julho pelo Bureau de Assuntos Religiosos da cidade de Fuzhou, na província de Jiangxi, todos os templos da cidade foram proibidos de guardar livros religiosos de Hong Kong e Taiwan. A ordem foi tomada em nome da “prevenção de infiltração estrangeira”.

“O governo controla as religiões por medo de que as pessoas de fé sejam influenciadas por estrangeiros para irem contra o Partido Comunista”, comentou o diretor de um templo budista em Jiangxi. “O governo controla todos os livros sobre o budismo; nada que não esteja de acordo com a ideologia do PCC é permitido e considerado ilegal. Apenas materiais religiosos que promovem o Partido têm permissão para circular”.

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