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Aprendendo a orar através do Salmo 23

Série Reflexões.

fonte: Guiame, Cris Beloni

Atualizado: Quinta-feira, 24 Outubro de 2024 as 3:56

Salmo 23 (Imagem ilustrativa criada por IA)
Salmo 23 (Imagem ilustrativa criada por IA)

O livro de Salmos nos ensina a orar a Deus através de um relacionamento íntimo com Ele. É lá que aprendemos que ‘orar é conversar com o Pai’. Observe que há mais salmos de lamentos do que de louvor. Isso porque foram seres humanos como nós que os escreveram.

Os salmistas compartilharam suas dores e dificuldades, mas também relataram como o Criador se manifesta para nos consolar e providenciar o socorro. O texto que é, provavelmente, o mais lido e mais conhecido da Bíblia é composto por palavras de conforto para quem está vivendo tempos de angústia.

No Salmo 23, por exemplo, Deus é o Bom Pastor que cuida com zelo de suas ovelhas. Davi refletiu a experiência dele como pastor de ovelhas, dentro da cultura do Oriente Médio. Vamos refletir sobre isso?

“O Senhor é meu pastor e de nada terei falta”

A expressão inicial do rei Davi abrange um significado bem maior que as nossas traduções podem alcançar. Segundo o hebraísta Getúlio Cidade, há poucas passagens que se referem a Deus como Pastor. No original, são apenas duas palavras (Adonai Roí, que quer dizer ‘pastor de mim’). Essas palavras sintetizam muita coisa a respeito desse cuidado.

O verbo “faltar” (chaser no original) não se refere apenas à provisão material. Segundo sua raiz primitiva, significa falhar, ser abatido, ser diminuído ou reduzido. De modo mais amplo, pode-se dizer que Deus é o Pastor que não deixará faltar nenhum tipo de provisão, seja no mundo físico, emocional ou espiritual. Não pelo que Ele pode nos dar, mas por quem Ele é. Logo, o texto não está dizendo que teremos tudo o que desejamos.

O rei Davi estava afirmando que não falharia em seus desafios, não seria abatido pelos inimigos, nem seria envergonhado e, muito menos, viveria enlutado. Tudo isso por causa da presença do Pai na vida dele. Resumidamente, é uma promessa grandiosa demais que cabe em uma só expressão: ‘O Senhor é meu Pastor, de nada sinto falta’ ou ainda ‘Ele é suficiente, eu já tenho tudo’.

“Em verdes pastagens me faz repousar e me conduz a águas tranquilas”

A nossa tendência é trabalhar sem parar, ainda mais nos dias de hoje. Mas esse não é o plano de Deus para a humanidade. Deus nos trata como filhos e nos quer ao lado Dele — não trabalhando “para” Ele e sim “com” Ele.

Não deveríamos andar ansiosos com coisa alguma, como nos afirma a Palavra de Deus. Ele quer nos ver repousando, ou seja, descansando em águas tranquilas. Por isso, temos que tomar cuidado para não entrar na atual onda de “produzir” cada vez mais.

Nós precisamos frutificar e isso ocorre naturalmente quando estamos com Ele. O verdadeiro Pastor nos faz descansar e não estressar. As obras dos homens são pesadas, mas a obra de Deus é suave. Somente Ele refrigera a nossa alma.

“Restaura-me o vigor. Guia-me nas veredas da justiça por amor do seu nome”

Só quem descansa tem vigor. Deus é o nosso descanso e Ele revigora a alma aflita. Ele alivia o espírito quebrantado e nos guia para uma vida pacífica e justa, através de caminhos retos.

“Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem”

De acordo com o arqueólogo Rodrigo Silva, existe um lugar físico chamado “Vale da Sombra da Morte” por onde Davi passava com suas ovelhas. O caminho era perigoso e as ovelhas poderiam cair por conta dos caminhos íngremes e estreitos.

O risco de morte ocorria também por conta dos animais selvagens que se escondiam para atacar. Os pastores tinham uma técnica de adestramento onde usavam a música para guiar as ovelhas. Eles cantavam ou tocavam algum instrumento e as ovelhas formavam uma fila indiana.

A segurança delas se dava por conhecerem a voz do pastor. Além disso, ele usava a “vara” como instrumento de correção ou punição para que as ovelhas não se desviassem da trilha ou para espantar os lobos que tentavam atacar o rebanho. Sua ponta era como uma lança que servia para ferir os predadores.

O outro lado da vara era um cajado, palavra que vem do original “mishenet” e quer dizer “apoio ou sustento”. Ele era usado pelo pastor como uma bengala, onde ele podia se apoiar durante a caminhada. Além disso, o cajado, que tinha um formato de gancho, era usado para resgatar as ovelhas que caiam em buracos.

O mesmo instrumento tinha 3 funcionalidades: a lança tinha uma função protetora, o cajado tinha função salvadora e a vara tinha função disciplinar.

“Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos”

A providência divina chega quando mais necessitamos. Deus prepara as bênçãos mais abundantes para aqueles que o amam verdadeiramente e a ação do inimigo não é capaz de impedir que tais bênçãos cheguem até nós.

É por isso que o Salmo ressalta que o “banquete” é servido à vista dos inimigos. Celebre o “pão de cada dia” e também a mesa espiritual farta. Essa mesa é mais que suficiente para o sustentar em suas guerras ou lutas rotineiras.

“Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice”

No tempo em que o salmo foi escrito, era costume dos judeus ungir a cabeça das pessoas que visitavam suas casas, como forma de honrá-las. Essas palavras indicam que Deus nos recebe tão bem, que faz até o nosso cálice transbordar. Ou seja, Deus faz infinitamente mais do que imaginamos. O seu amor por nós é infinito e eterno.

“Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver”

Precisamos compreender que somos filhos e que a casa do Pai é a nossa casa! Ele é o nosso Pastor e não precisamos de mais nada. Ele é suficiente!

E essa foi a reflexão de hoje. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!

 

Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.

*O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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