“Contra você, porém, tenho isto: você abandonou o seu primeiro amor. Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio”. (Apocalipse 2.4,5)
Vamos ao contexto
Quando João estava preso na Ilha de Patmos e teve a visão com Jesus, “achando-se no Espírito” como ele descreveu, uma de suas primeiras missões era enviar cartas às sete igrejas. Éfeso foi a primeira, já que estava numa das principais cidades do Império Romano.
A cidade portuária era muito movimentada, onde havia o Templo de Diana. A igreja em Éfeso — plantada estrategicamente pelo apóstolo Paulo — chegou a ser liderada por João e Timóteo.
Em sua carta, Jesus disse que conhecia as obras dos efésios, elogiando o “trabalho árduo e a liderança”. Além disso, citou a força e a perseverança deles em “desmascarar os impostores” que tentavam se infiltrar no meio dos cristãos.
Éfeso foi uma igreja com a teologia alinhada às Escrituras e, mesmo assim, “abandonou o seu primeiro amor”.
O que significa “abandonar o primeiro amor”?
O “primeiro amor” é o sentimento mais nobre que existe. Quando a Bíblia nos compara a uma noiva, ela nos remete a entender o relacionamento com Cristo como um futuro casamento.
No início do namoro tudo é mais intenso, sincero e romântico. O noivo é a prioridade em todos os aspectos de nossas vidas. Mas, se o relacionamento esfriar, os sentimentos primários vão deixando de existir.
Porém, como noivo, Jesus percebeu que a noiva [Igreja em Éfeso], apesar de se mostrar eficaz, competente e fiel, não estava mais demonstrando um amor prioritário. Ela continuava amando a Deus, mas de maneira fria.
Ou seja, conhecer Jesus, saber tudo sobre Ele e fazer todas as coisas certas não é suficiente. Jesus não estava falando sobre “saber ou fazer”, mas sobre “sentir”.
Quem é o amor da sua vida?
O nosso relacionamento com Deus é ilustrado, na Bíblia, como o relacionamento de pai e filho. Jesus, porém, veio para elevar esse relacionamento, transformando-o em algo muito mais profundo, ao ponto de desejarmos ter intimidade com Ele.
O “primeiro amor” em questão é um sentimento apaixonado, capaz de abandonar tudo para ir embora com o noivo. Esse tipo de relacionamento tem a ver com lar, família, construção e emoção.
Porém, se deixarmos esse sentimento esfriar, nos tornaremos pessoas mecânicas, que fazem o que devem fazer no automático. Ou seja, dentro da Igreja, como corpo de Cristo, não teremos mais aquela paixão arrebatadora.
Substituindo o relacionamento pela obra
Jesus disse à Igreja em Éfeso que ela não estava mais correspondendo ao primeiro amor, ou seja, Jesus não era mais o “primeiro na lista”, logo não era mais a prioridade na vida daquelas pessoas.
Os efésios haviam “caído” no trabalho árduo e na rotina do ministério. Suas obras já não eram feitas como nos primeiros tempos. Jesus não era mais o primeiro amor.
Vemos esse cenário em nossos dias, dentro das próprias igrejas. Há cristãos mergulhados “na obra” e eles são tão intensos no que fazem que não percebem que já não sentem paixão por estarem somente na presença de Deus. Pensam que “trabalhar para Deus” é o caminho da salvação.
Mas, Deus não está em busca de trabalhadores, e sim de adoradores. O Pai quer resgatar seus filhos e ter um relacionamento saudável com eles. Porém, só é possível encontrar relacionamento e intimidade naqueles que trabalham “com” Deus e não “para” Deus.
Outros amores
É bem sutil a forma como outros amores chegam em nossas vidas e nem percebemos que eles tomam rapidamente o lugar de Jesus. Qualquer “outro amor”, porém, se tornará idolatria.
Há diversos exemplos, entre eles estão o dinheiro, o status, o reconhecimento público, a própria família — um filho, uma esposa, uma mãe, um pai e até um namorado. Um hobby pode se tornar um amor e uma idolatria.
Qualquer coisa que ocupe o primeiro lugar em nossas vidas pode afetar nosso “noivado com Cristo” e destruir a nossa alma. Isso porque nada pode substituir o amor de Jesus e nada poderá sustentar o nosso espírito, a não ser o autor da vida.
Tudo o que ocupa o primeiro lugar em nossas vidas se transformará em “falsos deuses” e ídolos. Nem mesmo a igreja, um cargo eclesiástico, a teologia ou a própria Bíblia podem ocupar esse primeiro lugar. Pense nisso: “Lembre-se de onde caiu! Arrependa-se e pratique as obras que praticava no princípio”.
Reflexão
Quando o texto diz: “Arrependa-se”, ele está dizendo: “Mude de mentalidade”. Para voltar ao primeiro amor é preciso pensar como era no início de tudo. Lembre-se do amor sacrificial de Jesus por nós.
“Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo”. (Efésios 2.13)
“Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento e ame o seu próximo como a si mesmo”. (Lucas 10.27)
Não há como ter um relacionamento profundo com Deus sem intensidade na paixão e na busca pela presença Dele. Amar a Deus “de todo coração” resume todos os mandamentos. Portanto, não amar a Cristo é uma quebra do mandamento maior.
Se compararmos o amor ao fogo, cabe a nós manter a chama sempre acesa, acrescentar lenha e não deixar a fogueira se apagar. Porém, como disse Jesus: “Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriará” (Mt 24.12). Cabe a cada um de nós “perseverar”.
E esse foi o estudo desta semana. Espero ter tirado sua dúvida e também colaborado para seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!
Por Cris Beloni, jornalista cristã, pesquisadora e escritora. Lidera o movimento Bíblia Investigada e ajuda as pessoas no entendimento bíblico, na organização de ideias e na ativação de seus dons. Trabalha com missões transculturais, Igreja Perseguida, teorias científicas, escatologia e análise de textos bíblicos.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
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