A dor da palavra quebrada

Agir totalmente diferente daquilo que se combinou e se prometeu tem sido um comportamento recorrente.

fonte: Guiame, Edmilson Ferreira Mendes

Atualizado: Quinta-feira, 4 Agosto de 2022 as 1:16

(Foto: Pixabay)
(Foto: Pixabay)

Na vida enfrentamos vários tipos de dores: físicas, emocionais, profissionais, espirituais. Dor traz desconforto, aflição, sofrimento. Não gostamos, não queremos, não desejamos nenhum tipo de dor, por mínima que seja. Afinal, dor faz sofrer, machuca, maltrata, desgasta, enfraquece, faz chorar.

Das muitas dores que todos nós indistintamente já enfrentamos, estamos enfrentando e certamente ainda enfrentaremos, tem uma que machuca profundamente, posto que vem acompanhada de muita decepção e frustração, sentimentos que chegam a parecer uma traição.

Falo sobre a palavra não cumprida. Aqueles acordos que são feitos na base da honra, do caráter, da palavra. Tratos feitos tendo como referência a confiança, a verdade, a ética. Tudo sem papel, nada de contrato registrado em cartório. Apenas e tão somente a boa e velha palavra, o que era chamado de acordo feito no “fio do bigode”. Promessas feitas com tais características, que tem como garantia apenas a palavra, quando quebradas quebram a gente.

Hoje, infelizmente, quebras de palavras são mais comuns do que se imagina. Agir totalmente diferente daquilo que se combinou e se prometeu tem sido um comportamento recorrente. Por isso vivemos numa sociedade esquisita, desconfiada, judicializada. Qualquer mal-entendido já produz alguém com o dedo apontado e esbravejando: “Vou te processar”. É o ambiente que estamos vivendo, é o que temos para hoje.

Até Moisés se decepcionou com uma palavra não cumprida: “Moisés então dirigiu-se a Javé, dizendo: Senhor, por que afligis esse povo? Por que me enviaste? Pois desde que estive com Faraó para lhe falar em vosso nome, ele maltrata esse povo, e VÓS NADA FIZESTE PARA LIBERTÁ-LO” Êxodo 5:22-23 (grifo meu).

O detalhe é que Moisés foi reclamar com Deus. A expressão final do versículo reclama exatamente isso: Poxa, o Senhor me enviou, me deu a Sua palavra que estaria comigo e que o povo seria liberto, só que até agora tudo está saindo errado, o Faraó aumentou a carga de trabalho, o povo está gemendo e com raiva de mim, e o Senhor não faz nada do que disse que iria fazer!

No caso de Moisés sabemos o final da história. Sabemos que Deus cumpre o que promete. Sabemos que muitas vezes não compreendemos os caminhos de Deus. Mas mesmo sabendo de tudo isso, também como Moisés, vamos até o Senhor em lamentos e reclamações por conta de palavras que foram combinadas e prometidas a nós e não foram cumpridas.

Se no relacionamento com Deus, Moisés sentiu a dor da palavra não cumprida, ainda que tenha sido por falta de compreensão e confiança naquilo que Deus havia lhe prometido, imagina o tamanho da dor que nós sentimos pelas palavras quebradas nos relacionamentos humanos que temos. Humanos e, portanto, pecadores. Ou seja, são palavras quebradas por desvios de conduta, por má fé, por mentira, por enrolação, tudo isso dói.

Paulo dá uma dica preciosa para irmos no caminho oposto da quebradeira das palavras empenhadas sem qualquer responsabilidade ou compromisso com aquilo que foi dito, diz o apóstolo: “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo”, Efésios 4:25.

Nossa geração está carente de homens e mulheres de honra, gente que sustenta o combinado, aquilo que foi acordado. Pense nisso, cumprir a palavra que foi prometida, glorifica a Deus, o agrada. Descumprir, por outro lado, é como tapear quem acreditou, tal comportamento entristece a Deus. A dor que nos causaram deve nos servir de lição e nunca de imitação, não devemos tratar os demais com as mesmas injustiças que as vezes somos tratados. Afinal, Deus continua verdadeiro e sustentando Sua Palavra, única base para desenvolvermos relacionamentos íntegros, saudáveis e duradouros.

Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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