Estudei no Sesi, tempo bom que marcou positivamente minha vida. O que tinha de diferente naquela escola? Nada. E tudo! Todo dia, antes do início das aulas, cantávamos o hino nacional. Respeito aos professores era total. Intervalo se chamava recreio. No recreio, até nas oitavas séries se levava de casa o lanche. Valores sociais e cívicos eram ensinados. Nunca vi um traficante. Não tinha drogas na escola. Palavrão e baixaria quase não se via. Bagunças? Muitas! Boas e saudáveis: futebol, teatro, gincanas, olimpíadas, intercâmbio com outras escolas, passeios inesquecíveis em zoo, museus e bibliotecas. Era muito bom.
Mas tudo mudou. Hino nacional hoje, praticamente só se vê em partida de futebol na televisão. Professores respeitados e reverenciados, na sua maioria, são os técnicos de futebol. Traficantes e usuários estão tranquilamente pelas universidades e arquibancadas dos estádios, e todo mundo sabe. Palavrão foi incorporado ao vocabulário comum e as bagunças de hoje apontam para outra direção: sexo livre para tudo e todos, consumo incontrolável de álcool, atitudes crescentemente violentas, deboche e descaso com tudo o que atrapalhe o hedonismo escravizante atual.
As mudanças, por estes poucos exemplos, são radicais. E se aceleram a cada dia. Resistir beira a um ato heróico. Ou não. Ou se está na mudança, ou dança. E se é pra dançar, que seja conforme a música, diriam alguns. E isso tudo, em vez de criar o gosto pelo novo, pela transformação, acaba criando conformismo do tipo se-todo-mundo-está-mudando-nessa-direção-eu-também-vou-mudar-junto.
Mudou e está mudando tudo. A escola, a empresa, a igreja, a nação. As liturgias institucionais, as relações familiares, as conexões profissionais. A velocidade da informação, o acesso a notícia, o consumo do conhecimento. As ciências, as teologias, as arqueologias. Enfim, as mudanças são muitas, drásticas e avassaladoras. Afetam costumes, hábitos, crenças e comportamentos.
E isso é ruim? Ou bom? Mudar é preciso sob vários aspectos. Não dá para imaginar nos dias de hoje um mundo se movendo a vapor, sem internet, sem celular, sem... Enfim, os constantes avanços tecnológicos provam que boas mudanças sempre terão espaço e lugar. Mudamos nossa forma de consumir água porque estamos sob ameaça de ficar sem ela. Melhoramos no respeito ao outro, a inclusão, a higiene. E tudo isso é bom.
Mas também mudamos para pior. Ficamos mais tempo no face do que cara a cara com gente de carne e osso. Matamos aqueles que não torcem para o nosso time. Nos vingamos das fechadas no trânsito. Pagamos o mal com mais mal. Vendemos um eu que não existe, enquanto maquiamos o eu verdadeiro a cada dia. Estamos mais impacientes e irritados. Discutimos por nada e nos envolvemos em brigas jurídicas por ofensas ridículas. Queremos sempre, sempre e sempre levar vantagem em tudo e em relação a todos. E tudo isso é mal.
As mudanças estão aí. Quem dança? Quem cai? Quem vai? Quem fica em pé? Como ler e interpretar este tempo? Pare. Respire. Ore. A melhor resposta sobre mudança boa e mudança ruim já foi dada por Paulo aos romanos 12:2, “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
Percebeu? Primeiro “não se conforme” com todo o lixo cultural, filosófico e sociológico que o mundo oferece. O ato de “não se conformar”, em si, é uma mudança, uma mudança pra fugir das más mudanças, aquelas que doutrinam você para tudo aquilo que este mundo tenta vender como bom, legal e fundamental para sua felicidade,(felicidade?). O ato de “transformar-se pela renovação do entendimento” é uma mudança boa. Funciona mais ou menos assim: enquanto a massa segue hipnotizada com as mudanças impostas pelo sistema através das várias formas de sedução, você resolve mudar. E por que resolve? Porque pensa, reflete, questiona e leva pensamentos até Cristo, Aquele que aceitou mudar-se de Seu trono de glória para uma fria cruz, de Deus imortal para homem mortal, de Senhor do universo para Servo de dores. E o fez para que eu e você também encarássemos as mudanças vitais em nossa própria vida.
Caminhamos para o final e princípio de tudo, no evento que será a mudança das mudanças, momento quando vou querer dançar. Assim como Miriã dançou. Afinal, como na vida daquele povo, também enfrentamos algozes, escravidões, afrontas, desertos, mudanças duras. Portanto, ao cruzarmos a última barreira da história como a conhecemos, com licença, vou querer dançar a dança das mudanças que resisti, que assimilei, que aceitei, que compreendi.
Paz!
- Edmilson Mendes
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