Assusta o número. Assustam os relatos. De todos os lados, classes sociais, confissões de fé, chegam informações e narrativas que abalam convicções, certezas e desestabilizam o emocional de muitos corações.
Estou falando dos filhos que estão sendo perdidos pelos pais, que estão perdidos e não sabem, que entraram num labirinto de perdição e lá se perderam num estalar de dedos, como se dizia, da noite para o dia.
Normalmente acontecia na faculdade. Bastavam semanas, um mês no máximo, do ambiente universitário, para mudar toda a cosmovisão que a família levou anos para formar. De repente, sem qualquer aviso ou preparo, lá estavam os pais incrédulos sem nada entender a respeito das mudanças nas palavras, pensamentos e comportamentos dos seus filhos.
Nessa hora as perguntas aparecem no desespero dos pais chocados: O que fizemos? Onde erramos? Faltou amor da nossa parte? Como não percebemos que toda essa transformação estava acontecendo? E agora, o que faremos? Não existem respostas fáceis pra nenhuma destas perguntas.
Escrevi que acontecia na faculdade. “Acontecia”. O fato é que está acontecendo cada vez mais cedo. A faculdade hoje em dia seria apenas a “diplomação e confirmação” de todo um processo de desconstrução que tem começado cada vez mais cedo. Bem mais cedo. Cedo demais.
Já atendi, e atendo, pais que não sabem o que responder para os filhos entre 7 e 10 anos, sobre as questões mais complexas que a atual agenda cultural tenta impor a tudo e a todos, sem respeitar qualquer limite de faixa etária. A meta é criar um exército de pessoas cada vez mais inconformadas, insatisfeitas, questionadoras e antagônicas a tudo que diz respeito aos mandamentos e orientações bíblicas para a vida.
Estamos, como afirmo no título, perdendo filhos perdidos. Porque para perder um filho é necessário que ele já esteja perdido. É duro admitir, mas um filho perdido quis se perder porque já estava perdido. Exemplo? O famoso filho da parábola. Quando ele vai até o pai pedindo sua parte da herança para ir embora, ele já estava perdido dentro da casa do pai.
E como os filhos hoje estão se perdendo dentro de suas próprias casas? Inicialmente, e já não tem nenhuma novidade nisso, no mínimo 90% dos pais sabem, através das telas. As casas estão cheias de telas com acesso fácil. TV, computador, celular. As crianças amam, e os pais amam não ter trabalho com suas crianças, portanto, babás eletrônicas dão alívio, mas cobram um preço infernal e que afetará toda a vida.
Na sequência, em pé de igualdade e influência assim como as telas, vem a escola. Cada vez mais cedo o ser humano vai sendo ensinado contrariamente a tudo que aprendeu dentro de sua casa. E é muito forte. Pois na escola existe um clima de superioridade, de modernidade, de novas descobertas. Família que fique em casa. Igreja que fique no templo. A escola não, ela é universal, é ciência, é conhecimento ilimitado, ela pode estar em tudo.
Mas... o que fazer? Dedicar, pensar, orar, preparar, criar, entregar, caprichar, enfim, investir TEMPO de qualidade para os filhos. E tempo de qualidade só o é quando banhado de amor, de empatia, de fé, de renúncia. E renúncia é o que tem faltado a muitos casais, inclusive no meio cristão. Afinal, o que é mais importante? Sua academia? Sua pós? Seu doc? Seu lazer? Suas mil e uma atividades na igreja? Suas conquistas e posições sociais? Ou... seus filhos?
Ganhar o mundo e perder a família será sempre o maior dos fracassos. Não vale a pena. Ter filhos é bênção, criá-los e prepará-los para a vida é uma missão, sua, minha, nossa.
Existem aqueles que fazem tudo certo, com temor e tremor a Deus e mesmo assim estão perdendo os filhos? Também existem, num número bem menor, mas existem. E neste caso? Minha resposta é que não importa o cenário, se de acerto ou de erro, sempre dependemos do Senhor e nEle devemos confiar, pois no fim Ele vencerá.
Exemplo? A mesma parábola, o pai confiou que o filho voltaria, e o filho voltou, arrebentado, derrotado, arrependido, até que uma festa foi celebrada. E o outro filho? O irmão que não se rebelou com o pai e ficou lá, bonitinho confiando em seus próprios méritos? Estava perdido também, dentro da casa do pai. E o pai? Também dedicava a ele o mesmo amor. Ou seja, o Pai é aquele que ama incondicionalmente.
Pais, vamos virar este jogo! Perder filhos perdidos interessa a quem? Ao céu que não interessa. Vamos achar, vamos posicionar, vamos vigiar, vamos amar nossos filhos e multiplicarmos as notícias de festa pelo nosso país, pois milhares de perdidos poderão ser achados e, você sabe, este é o motivo mais que suficiente para acontecer festa no céu. Que estas festas invadam nossas casas.
Edmilson Ferreira Mendes é escritor, pastor, teólogo, observador da vida.
* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.
Leia o artigo anterior: Toda família está sob ataque?