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O valor da renúncia

O valor da renúncia

Atualizado: Quarta-feira, 26 Fevereiro de 2014 as 8:05

“Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1).
 
RenúnciaEm um espaço de uma linha muito tênue, a minha vida se confunde com a do patriarca Abrão.
 
Vejo, no chamado desse homem de DEUS, o meu chamado: “Fernando, Fernando!”. A voz inconfundível do PAI que brada com autoridade misturada à suavidade divina e ecoa dentro das veias do nosso coração. A voz que adentra ouvidos surdos e faz enxergar olhos cegos.
 
No meu caso, a Harã tinha o nome de Olinda, município no Estado de Pernambuco. E a casa da qual teria que me apartar não era a do meu pai, mas da minha mãe, dona Alzira. A terra “que Eu te mostrarei” também já estava bem definida nos pensamentos do meu SENHOR: Brasília, capital do Brasil.
 
Nasci em Recife, a famosa Veneza Brasileira, e fui criado toda a minha vida na velha Olinda, conhecida por sua beleza secular. Pernambuco fora a minha maternidade. Recife, Olinda e Pernambuco eram como ídolos na estante da minha alma.
 
Minhas raízes e toda a minha história remontam para lá. Meus amigos, minha formação, minhas travessuras e, sobretudo, meu desenvolvimento pessoal. Meu coração era revestido com a bandeira daquele lugar.
 
Observe como, humanamente, seria muito difícil para mim ter que um dia me apartar de toda essa colcha de retalhos sagrados. Trinta e nove anos vivendo na mesma terra, com as mesmas pessoas, repaginando cada folha das minhas paisagens eternas.
 
Mas um dia ouço o SENHOR me chamar: “Fernando, sai da tua terra amada, da tua parentela, de perto da sua mãe, sobrinha e irmãs, a quem tanto amas, e siga para a terra que te mostrarei”. Foi exatamente assim.
 
Quando o homem ouve a voz do SENHOR, ela se torna irresistível. Ou se obedece ou se vai para a barriga do peixe, como aconteceu com o profeta Jonas... 
 
Assim como fez a Abrão, todo chamado é acompanhado de uma grande promessa: “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gênesis 12:2-3).
 
Afastar-me das minhas cidades e do meu Estado natal, dos meus parentes, dos amigos que fiz, de uma vida aparentemente tranquila, era algo extremamente complicado de obedecer para mim. Largar a minha profissão de professor, depois de 17 anos de sala de aula, e depois de muito batalhar para entrar em uma Universidade Federal; deixar para trás uma vida financeira segura; e abraçar um vazio de promessas; só seria possível através de muita fé e de um coração temente.
 
Na época em que o SENHOR me chamou, havia três cidades que eu JAMAIS gostaria de morar: Brasília, Rio de Janeiro e Salvador. Os mais próximos a mim sabiam de minha angústia, tristeza e ojeriza em relação a esses três lugares.
 
Mas, mesmo assim, o SENHOR disse-me que eu iria para Brasília, terra seca, clima péssimo e de uma culinária horrível para o meu paladar; e ainda que eu iria ser sustentado por um povo, que me abençoaria. Nada havia de concreto em minhas mãos. DEUS sempre nos convida a experiências novas, por vezes, perigosas aos nossos olhos.
 
Fui para Brasília ainda sem mulher, sem filhos e sem emprego. Morar de aluguel. E ainda por cima: para ser pastor de ovelhas repudiadas.
 
Era o momento de eu conhecer o valor de uma renúncia. Renunciar o simples e o desejadamente possível é muito fácil. Muito difícil é renunciar aquilo que segura a alma e o faz dependente. Renunciar a uma vida, a uma história. E recomeçar do zero onde não se gostaria de estar.
 
Creio que não tenha sido nada fácil para Abrão. Fora o seu primeiro e grande chamado. Mas DEUS conhecia o seu coração e sabia do desejo em obedecê-lo. Canaã representaria uma terra de lutas, de conflitos, de ameaças, de gigantes, mas de grande vitória. Essa era a terra que o SENHOR tinha separado para ele. E as provas não parariam por aí. Adiante, já Abraão, o SENHOR pediria a vida do seu único filho, Isaque, em sacrifício no Monte Moriá. De novo a voz fazia-se ecoar em seus ouvidos: “Abraão! Abraão!” (Gênesis 22:1-2). De novo Abraão fora chamado para renunciar. E, calado, seguiu em obediência.
 
Assim que uma pessoa acaba de renunciar a algo, logo vem DEUS novamente fazendo novos convites de renúncia. Por que a todo tempo somos impelidos a renúncias diárias e constantes? Porque tudo o que chega até nós é produto que destrói a nossa alma. E só nos preservaremos dessas coisas através de uma vida de santidade e renúncia.
 
Já em Brasília e depois de ter renunciado a tanta coisa, o SENHOR mostra para a igreja, da qual sou líder, que ela teria que guardar todos os Seus Mandamentos. E fizemos a mesma pergunta do jovem rico: “Quais Mandamentos, SENHOR?” (Mateus 19:18). E o SENHOR nos respondeu: 
 
“Não terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti imagem de escultura; Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão; Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo; Honra teu pai e tua mãe; Não matarás; Não adulterarás; Não furtarás; Não dirás falso testemunho contra o teu próximo; Não cobiçarás a casa do teu próximo” (resumo de Êxodo 20:3-17).
 
Cada Mandamento desses representa um chamado de renúncia diferente.
 
Por exemplo, guardar os sábados e santificá-los era algo que fugiria totalmente ao padrão normal da igreja, acostumada a utilizá-los para passeios e encontros com amigos nas poltronas dos cinemas ou nas mesas dos centros comerciais. Todos os que congregam em Brasília vieram de templos e denominações protestantes, onde nenhum líder ensinou sobre a necessidade de guardar todos os Mandamentos de DEUS à época da Graça. Muitos trabalham e estudam nos dias de sábado. Sábado era um dia de lazer para a carne; e não de descanso espiritual.
 
Lá iria Fernando, que separava os sábados para ver o futebol na TV em casa, ter que renunciar novamente por amor a mais a esse chamado de DEUS.
 
Guardar sábado é fazer qualquer coisa que seja para a glória de DEUS: socorrer alguém, evangelizar, amar, congregar, orar, louvar; fugir de qualquer coisa que seja para glorificar o nosso EU ou a nossa carne.
 
Sei que, somente assim, poderei compreender o valor das palavras de JESUS: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lucas 9:23) (grifo meu).
 
Toda renúncia é prazerosa quando se quer agradar a DEUS; mas muito penosa, sofrida, quando nosso coração ainda está inclinado a realizar os desejos da nossa carne. DEUS não quer que renunciemos a algo por obrigação, por imposição de uma lei ou de uma letra, mas em espírito, por amor a ELE.
 
E aqui estamos todos nós, juntinhos, unidos em um mesmo propósito: guardar todos os Mandamentos para agradar a DEUS. Do mesmo jeito como JESUS fez como homem aqui na terra. Leia João 15:10.
 
Brasília, para mim, é como uma Canaã. Aqui também há gigantes espirituais, mas há, principalmente, as mãos de DEUS sobre nós. Temos essa confiança. E se elas estão sobre nossa vida, nada poderá nos deter; a vitória é mais que certa.
 
Renunciar é ser repudiado, com poucos anos de casado; querer se casar de novo, e não fazer, porque isso não agradaria ao meu SENHOR. Renunciar é ter o desejo vivo e ardente de voltar a morar em Olinda, beira-mar e com uma culinária maravilhosa, perto da família e dos amigos; e não fazer, porque essa não é mais a vontade de DEUS para a minha vida. Renunciar é viver onde não se quer; é comer o que não se gosta; perdoar e amar quem não merece; orar por quem nos persegue; oferecer o outro lado do rosto, quando já bateram na outra face; enfim, é fazer qualquer coisa que não gostaríamos para o Nome do SENHOR ser glorificado em nossa vida.
 
Só conhece o valor de uma renúncia quem, definitivamente, tem o coração inclinado para agradar e servir a DEUS.
 
Não fazer o que gostaríamos. Esse é o nosso grande chamado e o nosso maior desafio.
 
Que o SENHOR nos ajude!!
 
 
FERNANDO CÉSAR – Escritor, autor dos livros “Não Mude de religião: mude de vida!”, “Pódio da Graça”; “Antes que a Luz do Sol escureça” e da coleção “Destrua o divórcio antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua o adultério antes que ele destrua seu casamento”, “Destrua a insubmissão antes que ela destrua seu casamento”. Também é pastor e líder do Ministério Restaurando Famílias para Cristo.
www.casamentosrestaurados.com.br
www.familiasparacristo.com.br
 

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