“Ai de ti, ó terra cujo rei é criança e cujos príncipes se banqueteiam já de manhã. Ditosa, tu, ó terra cujo rei é filho de nobres e cujos príncipes se sentam à mesa a seu tempo para refazerem as forças e não para a bebedice” (Eclesiastes 10.16,17).
O texto em tela foi escrito pelo sábio Salomão. Ele traça um contraste profundo entre um rei insensato e um rei sábio. Suas práticas são diferentes e o resultado do governo de ambos é diametralmente oposto. O rei insensato traz sofrimento à terra enquanto o rei sábio é fonte de alegria para a terra. Há aqui, portanto, duas índoles, duas práticas e dois resultados. Vejamos:
Em primeiro lugar, reis com índoles diferentes. O rei insensato é denominado de “criança”. Obviamente, Salomão não se refere aqui à idade do rei, mas fala de sua imaturidade. O rei insensato é infantil. Vive como criança e age como criança. Falta-lhe a postura e compostura de homem. Esse rei imaturo cerca-se de assessores imaturos. Todos os escalões de seu governo são formados por pessoas despreparadas. Por outro lado, o rei sábio é filho de nobres. Tem capacitação intelectual, maturidade emocional, integridade moral e preparo para a governança. Por essa causa, ele se cerca de assessores que têm o mesmo ideal, ou seja, trabalhar para a nação em vez de explorar a nação.
Em segundo lugar, reis com práticas diferentes. O rei insensato reúne seus subordinados, os príncipes, para banquetear e se entregar à bebedice desde o amanhecer. Nada de trabalho. Nada de suor. Nada de sacrifício pela nação. Eles não pensam no povo, mas em si mesmos. Não se sacrificam pelo povo, buscam apenas o seu prazer imediato. Governam não para o povo, mas para si mesmos. Não defendem o que é certo, mas são céleres em praticar o mal. Não alimentam a esperança do povo, mas são seu maior pesadelo. Não lutam pelo que é legítimo, mas rendem-se à comilança e à bebedice já de manhã. De forma diferente, o rei sábio com os príncipes de seu governo dedica as horas do dia ao trabalho. Extenuados da lida, reúnem-se à mesa para refazerem as forças, a fim de continuar a labuta em favor da nação. O rei e seus subordinados servem ao povo, em vez de se servirem do povo. Trabalham para o povo e não para si mesmos. Sacrificam-se pelo povo em vez de viverem às custas do suor e do sangue do povo. São exemplos de integridade e não mestres de nulidades. São escultores do eterno e não alfaiates do efêmero.
Em terceiro lugar, reis com resultados diferentes. Os governantes insensatos são uma tragédia para o povo. A terra suspira, o povo geme e a nação sofre. Um “ai” de lamento é lançado sobre a terra governada por reis imaturos, comilões e beberrões, que fogem ao trabalho para se refestelarem em banquetes fartos, movidos pela hilaridade etílica. Esses governantes insensatos são maldição e não bênção. Transtornam a terra em vez de dar a ela estabilidade. Suas obras fazem o povo sofrer em vez de aliviar a carga dos trabalhadores. Sua glutonaria insaciável e sua bebedice crônica produzem uma safra de dor para toda a terra. O rei sábio, por sua vez, com toda a sua equipe, dedica todo seu conhecimento, experiência e recursos para trabalhar em favor do povo. Esses servidores públicos, reúnem-se ao redor da mesa não para fugirem ao trabalho, mas para renovarem suas forças para continuar a labuta em favor da nação. O resultado deste trabalho abnegado é a felicidade do povo, o regozijo da terra, a prosperidade das famílias e o triunfo de todos.
Quem é o seu rei? Qual é a índole do seu rei? Quais são as práticas do seu rei? Que resultados a nação colherá do seu rei? Que Deus tenha misericórdia do nosso povo e se apiede da nossa nação!
Hernandes Dias Lopes é pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, escritor, membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil e diretor executivo da Editora Luz para o Caminho.
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