A indústria do entretenimento capitaliza sobre as almas vazias. Almas vazias são como abismos profundos, nunca se saciam. Consomem com voracidade todas as novidades apresentadas por magos e mentores desse imenso mercado. Aqui nos EUA, onde me encontro temporariamente, se pode ver de perto o poder dessa indústria. Na última vez que estive aqui fiquei impressionado com pessoas dormindo na fila de uma loja da Apple para poder comprar um de seus brinquedos que estava sendo lançado naqueles dias. Tem algo de errado com essa geração. Tal comportamento pode ser traduzido como sintoma de um adoecimento coletivo de grandes proporções.
Essa fome medonha e absurda parece não ter fim. Os homens estão cada vez mais enfadados, e por esta razão cada vez mais necessitados que alguém lhes entretenha. Um texto bíblico diz que a vida do homem alcançaria 70, quando muito, 80 anos. O que passasse disto, alfineta o emblemático Moisés, seria “enfado e canseira.” Um fenômeno desconcertante que se verifica em nossos dias é o fato de que já não é necessário alcançar tal idade para sentir-se cansado e enfadado. Por todo lado pode-se observar, em número imenso, meninos e meninas entregues à uma prostração crônica, e por isso, assustadora!
As inovações eletrônicas que, sem dúvida, tornaram a vida mais fácil, trouxeram consigo outros usos que hoje começam a preocupar. As pessoas – é óbvio que há exceções – já não conseguem viver longe de seus aparelhos. Observa-se uma inquietação que denuncia uma estranha dependência. As maquininhas maravilhosas e seus muitos aplicativos aprisionam milhões em uma relação que se estende para muito além da utilidade básica e incontestável que esses aparelhos possam apresentar. Incrível que pareça, estes recursos, operam tanto no sentido de entorpecer e mascarar a ansiedade quanto para produzi-la. Tire desses “viciados” os seus aparelhos ou prive-os de acesso à internet e observe a erupção de surtos terríveis (quase sempre ocultos) dessa nova modalidade de ansiedade.
Além dos jogos, dos grandes torneios de futebol que mobilizam milhões mundo a fora – é melhor ver batalhas travadas nos campos e quadras de esportes do que o morticínio em Gaza, Iraque ou qualquer outro lugar – as vedetes do momento, quando se trata de mobilização virtual são Facebook e Whatsapp. Estes são dois endereços certos em torno dos quais se reúnem nesta hora bilhões de pessoas ao redor do globo. Os olhos de milhões de almas famintas por atenção, visibilidade, apreço, estão grudados nos monitores de computadores e demais aparelhos quase que vinte e quatro horas por dia… Assusta! Talvez você argumente dizendo: “Calma Luiz, não seja exagerado! É só uma brincadeira!”
Talvez a análise seja mesmo exagerada, talvez seja tudo mesmo uma grande brincadeira, mas quando se considera o fato de que o suicídio é a terceira maior causa de morte entre jovens e adolescentes no Brasil, tendência que se confirma de modo mais assustador ainda em países como os EUA, então creio que estamos diante de algo com que nos preocupar. Além de não preencher o buraco imenso das almas vazias, o uso desarvorado dessas novas tecnologias aliena como qualquer outra droga os que nelas se viciam. Entretém mas entorpece. Ou não é verdade que gastam tempo demais “conectados” os dependentes dessas “drogas”, tempo esse que, precioso, poderia ser utilizado em atividades mais inteligentes como, por exemplo, a leitura?
Sim, assusta-me a alienação generalizada de toda uma geração em nome do entretenimento. Quanto aos mais frágeis, e destes se compõe a maior parte dos “dependentes,” o uso dos tais brinquedinhos vai muito além do puro entretenimento; Utilizam as redes sociais para enviar indiretas, denegrir pessoas, projetar o ego, dar vazão ao narcisismo reprimido (ou que razão levaria uma pessoa a postar alucinadamente dezenas de selfies a cada dia), iniciar e romper relacionamentos e por fim, entre tantas outras coisas, também potencializam sentimentos de revolta, ódio, solidão, a ponto de levar muitos a marcarem data e hora de seus suicídios. Tudo devidamente publicado via Facebook ou Whatsapp! Sim, tudo isto assusta!
- Luiz Leite