Em testemunho ao The Gospel Coalition, Melanie Hempe, que vive nos EUA e é mãe de Adam, conta como conseguiu salvar seu filho do vício pelo videogame. Ela revela que o próprio filho assumiu haver algo estranho com ele.
Em seu primeiro ano de faculdade, Adam revelou que estava em seu dormitório há uma semana e que não conseguia parar de jogar: “O videogame fez algo comigo”.
A mãe lembra que as palavras do filho foram um choque, mas que a fizeram entender seus 6 últimos anos de conflito: “Finalmente, percebi que meu filho estava preso no mundo virtual e não conseguia sair”.
‘Achei que tudo ficaria bem’
Os sinais de alerta começaram no Ensino Médio, mas Melanie não os relacionou. Adam abandonou os esportes e os hobbies. “Ele também preferia ficar jogando do que ir com a gente para a igreja”, disse a mãe.
Ela admitiu que achava melhor ver o filho debruçado numa tela por muitas horas do que metido em encrencas. Ao menos ela sabia onde ele estava, conforme explicou. "Além disso, ele dizia que estava aprendendo muitas coisas na internet”, justificou.
Depois disso, começou a ir mal nos estudos e o Ensino Médio passou com muitos problemas, até que ele foi para a faculdade. A mãe achou que tudo ficaria bem e que era só uma fase.
‘Vício em jogos é como vício em drogas’
“Sou formada em enfermagem, então mergulhei em pesquisas sobre o cérebro”, disse ao explicar que queria entender como os jogos influenciam na memória.
“Conversei com médicos e neurocientistas de todo o país e descobri que o vício em jogos inclui um componente neuroquímico bem definido. Ressonâncias magnéticas mostram que o vício em jogos é neurologicamente semelhante a qualquer outro vício”, continuou.
“Tanto o jogo como o uso de drogas sequestram o caminho de recompensa da dopamina. A superprodução de dopamina durante o jogo desencadeia uma série de eventos neuroquímicos, levando a um desejo por mais”, especificou.
‘Atividade viciante que afasta da família e do espiritual’
Sendo comparado ao vício por drogas, o vício por jogos levam ao comprometimento do autocontrole e à disfunção nas atividades diárias e nos relacionamentos interpessoais.
“Adam não estava exagerando quando afirmou que o jogo havia feito algo com ele. O jogo realmente fez algo em seu cérebro”, disse ao esclarecer que tentou não pensar só como mãe para entender as implicações emocionais e espirituais mais profundas de crianças e jovens que se perdem no mundo virtual.
“Jogar não é um rito de passagem neutro, é uma atividade viciante que pode afastar uma pessoa de sua família e vida espiritual. O jogo se torna o deus de seu próprio universo. Com o tempo, o mundo virtual pode se tornar tão autêntico e tão envolvente que a necessidade da família, de Deus e da alegria natural diminui”, resumiu.
‘Recuperação de filhos viciados em telas’
Prometendo a si mesma que jamais se esqueceria da dor dessa época de sua vida, Melanie decidiu ajudar outras famílias que passam por isso. Quase 12 anos depois, Adam está indo bem.
“Ele serviu cinco anos no Exército dos EUA e se formou na faculdade. Agora está terminando a faculdade de direito e também é porta-voz da Screen Strong (Tela Forte, da tradução livre) — organização que Melanie e o marido criaram para capacitar famílias na recuperação de seus filhos viciados em jogos.
“Substituímos o uso de ‘tela tóxica’ por atividades saudáveis, desenvolvimento de habilidades para a vida e conexões familiares”, explica o site.
Adam disse que gostaria de poder recuperar as mais de 10.000 horas que passou jogando e se perdendo no mundo virtual.
“E por causa do que Adam experimentou, meu marido e eu mudamos a forma como lidamos com a tecnologia com sua irmã e seus irmãos gêmeos mais novos, criando para eles uma infância livre de videogames e smartphones”, disse Melanie.
Conselhos para os pais
Melanie encoraja pais e mães a protegerem seus filhos das “telas tóxicas”, sejam elas de videogames ou smartphones.
“É nossa responsabilidade proteger nossos filhos e sermos fiéis mordomos de suas vidas. Nós somos os guardiões dos nossos filhos”, ela disse.
“Se você sentir que algo está errado com o relacionamento de seu filho com as telas, não ignore esse aviso interno persistente, como eu mesma fiz”, aconselhou.
“Adam uma vez me disse: Mãe, você nunca vai ferir meus sentimentos se compartilhar minha história. Avise o máximo de famílias que puder”, lembrou Melanie que agora quer alertar as famílias que passam por um “tsunami da tecnologia digital”.
Nem todas as famílias precisam ser arrastadas por ele: “Como pais, podemos alinhar as atividades de nossos filhos com nossos valores. Podemos evitar as telas para nos concentrar em relacionamentos saudáveis”, continuou.
“A solução não é tirar a diversão de nossos filhos, mas devolver sua alegria mais profunda no envolvimento na vida real. Deus criou um mundo para explorarmos. O vício em jogos é real, então não tenha medo de procurar ajuda. Há esperança. Pela graça de Deus, você pode recuperar seu filho e reconectá-lo à família”, concluiu.