
Ele é pedagogo, músico e nordestino. Isaque Folha trabalha com crianças e adolescentes e atentou para algo tão intrínseco em nossa cultura, as cantigas de roda. O que parece ser inofensivo, pode na verdade ser bastante prejudicial para os pequenos. Se bem analisadas, é possível encontrar nas composições valores que fogem dos conceitos bíblicos. Em entrevista para o programa Mente Aberta, Isaque falou mais sobre o assunto.
“Minha formação é em pedagogia, sou ministro de louvor por vocação e pedagogo por formação. Dentro desse universo escolar eu aprendi a analisar muitas coisas. Não só dentro da escola, mas fora também. E as cantigas de roda sempre me chamaram muita atenção. Elas têm muitas coisas boas, a integração entre as crianças, a gente vê criança gordinha, magrinha, várias etnias juntas. A roda é interessante por isso e a questão da musicalização também. Toda crianças que cresce com o acesso a música, cresce melhor, a criatividade é maior. Mas, algo me chamou atenção nas letras”, disse ele.
“É interessante, porque vira uma antítese cultural. A mesma escola que prega contra a violência é a que canta sobre o cravo e a rosa brigando, é a que atira o pau no gato. É a que vê Samba Lelé doente, com a cabeça quebrada e não aciona o Samu. Chama é por mais palmadas. Já pensou você chegando na urgência com traumatismo craniano e o médico te receita 60 palmadas? Uma coisa interessante é que o mundo está caminhando para um momento onde tudo fica mais complicado. As relações ficam mais complicadas. A automação já tira muita gente dos setores públicos. Estamos perdendo essa coisa de conversar e interagir com o outro”, pontuou.
7 anos de pesquisa
“Minha pesquisa durou sete anos, é pouco tempo quando você vê o tanto de problemas que estão por trás de cada música. Eu cheguei a entrar em contato com a biblioteca nacional, procurei um advogado amigo que também é muito envolvido com essas questões de direitos autorais e cada vez que eu pesquisava eu descobria coisas piores. Por exemplo, Samba Lelê. Essa música é da época da escravidão do Brasil em que os senhores de engenho se divertiam às custas do sofrimento negro e tinham como a principal fonte de entretenimento a arte do negro. Você consegue imaginar o cenário de um senhor de engenho dizendo: ‘Não estou preocupado com a integridade física da Samba Lelê. Eu quero que ela sambe. A arte dela é o meu entretenimento’”, explicou.
“Hoje você liga o jornal, vê militâncias étnicas o tempo todo dizendo: ‘Queremos respeito, queremos espaço, queremos ser honrados como gente’. E ao mesmo tempo as escolas estão trazendo isso quase como ao tronco. A psicologia diz que desde o ventre nós recebemos estímulos negativos e positivos. Mães estressadas, que discutem muito com os seus parceiros tendem a ter uma criança estressada, que chora por tudo”, comentou Isaque.
“Então, desde o ventre que nós recebemos estímulos positivos e negativos. Isso não quer dizer que todas as crianças que cantaram essas músicas estão sofrendo. Mas, o que eu quero dizer é que precisamos viver um contra-ponto. A criança vê o pai batendo na mãe o tempo todo, a mãe desrespeitando o pai o tempo todo. Na hora da escola ela vai entender que é normal o pai bater na mãe e a mãe bater no pai”, disse.
Confira a explicação na íntegra: