Mais de 1500 cristãos participaram da 8ª edição do Congresso Brasileiro de Missões (CBM), que é realizado de três em três anos. O número de inscrições superou as expectativas dos organizadores que escolheram um hotel em Águas de Lindóia (SP) para receber missionários, missólogos e representantes de agências missionárias para debater sobre missão transcultural. Palestras, seminários, debates, testemunhos, oficinas e até troca na presidência da Associação de Missões Transculturais Brasileira (AMTB), entidade que realiza o evento, aconteceram entre os dias 23 e 27 de Outubro.
O pastor Ronaldo Lidório foi o preletor da abertura do CBM 2017 e apresentou dados importantes sobre missões no Brasil e mundo. Entres muitos pontos fortes de sua fala, uma delas foi a questão da postura dos líderes de missões que estão falando muito mais de suas igrejas, seus ministérios, trabalhos ou cargos e esquecendo de falar do principal que é Jesus, se colocando acima de tudo por conta de um cargo.
Em cima do tema do Congresso “Realidades que não podemos ignorar”, Lidório falou dos dias difíceis que vivemos hoje. A leitura bíblica inicial foi em cima da carta do apóstolo Paulo enviada a Timóteo, que evidencia a importância de a igreja anunciar o Evangelho. “Mesmo Paulo vivendo momentos difíceis, preso em um calabouço, escuro, subterrâneo, como descreve Flavio Josefo, Paulo não deixou de escrever para Timóteo, falando da importância do Evangelismo, do sofrimento, da permanência em Cristo e da pregação do evangelho”, lembrou o preletor.
Assim como nos dias do apóstolo Paulo, Ronaldo acredita que a coisa não vai melhorar. “Haverá aumento na perseguição cristã, multiplicação dos vulneráveis sociais e proliferação da heresia”, disse ele, lembrando que há 500 anos os crentes já eram perseguidos por ler a Bíblia e pregar o evangelho. “Nós perdemos a ideia de missões e ação missionária, o envio apostólico se perdeu no 1º século, no avanço teológico, espiritual, missionário”, afirmou Ronaldo.
Os dados foram apresentados na 8ª edição do Congresso Brasileiro de Missões. (Foto: Diane Duque/Guiame)
Após falar sobre a importância de continuar a grande missão indiferente dos tempos difíceis, dados de uma pesquisa realizada pela Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) foram apresentados durante o evento. Segundo os dados, hoje existem cerca de 15 mil missionários brasileiros envolvidos em trabalhos transculturais. Os organizadores afirmam ainda que desde 1986, quando foi realizada a primeira pesquisa sobre o mesmo tema, até hoje (2017) houve um crescimento anual de 8,2%.
Outra informação importante que pesquisa apontou foi que, diferente do que se pensa, as mulheres solteiras no campo missionário são bem mais aceitas e têm 80% de aprovação, quebrando o tabu que mulher solteira no campo não é bom.
Houve também um crescimento no número de missionários transculturais entre 1989-2017. Os motivos desse avanço apontado na pesquisa se dão à perseverança das organizações missionárias transculturais tanto na expansão do trabalho, quanto na transmissão de know-how para novas iniciativas. O surgimento das Alianças evangélicas entre grupos minoritário como os Indígenas do Nordeste, Quilombolas do Brasil e Ribeirinhos, além de novas iniciativas e parcerias de trabalho entre ciganos, imigrantes, refugiados e sertanejos. Em contraponto, a pesquisa também apontou os motivos de tristeza que acontecem no universo missionário. Entre os pontos apresentados, as áreas com mais dificuldade nas organizações são treinamento missionário (9,2%), logística (14,4%), estratégica (15,8%), comunicação (26,3%) administrativa (27,6%), cuidado missionário (28,9%), mobilização (34,2%), falta de missionários (40,7%) e área financeira (65,8%).
Lidório apontou que 11% dos 15 mil missionários não tem nenhum treinamento, e 30% apenas tem como formação educacional o Ensino Médio. “Vale ressaltar que 71% dos missionários quando estão em campo são bem pastoreados, contudo 26% quando voltam a origem têm problemas de apoio. Outra estatística alarmante é que 70 a 80 por cento das organizações não se envolvem com plano de saúde e previdência para os missionários, o que parece coincidir para o declínio na contextualização plantio de igreja e ação social”, analisou.
Os dados foram apresentados na 8ª edição do Congresso Brasileiro de Missões. (Foto: Diane Duque/Guiame)
Entre os missionários que falaram durante o congresso, esteve Dagnaldo Pinheiro Gomes, que o Brasil inteiro intercedeu quando ele foi destaque em toda a mídia ao ser detido no Cairo, capital do Egito, com Bíblias e folhetos evangelísticos, acusado de promover atividades religiosas. Ele contou das dificuldades de morar em uma área de risco e contou seu testemunho sobre sua prisão e deportação ao Brasil, no ano de 2010. “Foi uma experiência incrível pode hoje estar aqui e falar para toda essa gente sobre minha experiência. Sou grato a Deus por tudo e desejo assim puder voltar ao campo missionário”, contou o missionário, membro da Assembleia de Deus, único representante da denominação a falar no palco principal do evento.
Em uma assembleia, os associados elegeram a nova diretoria da AMTB, que estará à frente nos próximos três anos. Cassiano Luz, que exerceu um mandato na presidência, deu lugar ao Paulo Feniman, diretor da Missão para o interior da África (Miaf) e passou ao 1º Vice, já o cargo de 2º Vice-Presidente ficou para Luís Maia missionário da Missão em Apoio à Igreja Sofredora (MAIS).