Governo da Etiópia nega ajuda a cristãos que passam fome na pandemia: “Vocês são infiéis”

Oficiais do governo estão exigindo que cristãos ex-muçulmanos retornem para o Islã, para assim conseguirem ajuda na pandemia do coronavírus.

fonte: Guiame, com informações da Portas Abertas (EUA)

Atualizado: Sexta-feira, 31 Julho de 2020 as 10:11

Cristãos têm sofrido ainda mais com a pandemia do coronavírus, que abriu mais oportunidades de serem perseguidos por extremistas muçulmanos e até pelo governo do país. (Foto: World Watch Monitor)
Cristãos têm sofrido ainda mais com a pandemia do coronavírus, que abriu mais oportunidades de serem perseguidos por extremistas muçulmanos e até pelo governo do país. (Foto: World Watch Monitor)

No leste rural da Etiópia, o pastor Adane* tem servido sua igreja na região de maioria muçulmana, há 20 anos. A congregação é composta principalmente de crentes que deixaram o Islã para seguir a Jesus. Como a comunidade muçulmana sempre está em desacordo com os cristãos, esses fiéis precisam de apoio ininterrupto.

Mesmo na pandemia do coronavírus, quarentena e praga de gafanhotos na Etiópia, a perseguição contra os cristãos não diminuiu. A crise expôs os cristãos, especialmente os convertidos do Islã, a uma perseguição ainda maior, à medida que as comunidades tribais exploram a pandemia para puni-los pelo o que consideram uma “traição” à família, a suas tribos e à nação. Como se isso não bastasse, o governo também promove a discriminação religiosa, negando ajuda aos cristãos neste momento de crise.

O pastor falou sobre a difícil situação em um encontro com uma equipe da Missão Portas Abertas. Despretensioso em sua aparência, vestido com uma camisa xadrez vermelha, azul e branca, Adane compartilhou seu relato impactante, de como tem lutado para enfrentar a fome em sua própria casa e também para ajudar sua comunidade.

Ele contou que pastorear ex-muçulmanos em uma área hostil aos cristãos e àqueles que os discipulam não é fácil. Tanto ele como sua congregação sofreram severas perseguições por sua decisão de deixar o Islã e seguir Jesus.

Embora Adane faça muito de seu trabalho discretamente para proteger novos crentes (bem como ele próprio e sua família) da hostilidade indesejada, a comunidade muçulmana notou seu envolvimento com aqueles que deixaram o Islã para se tornarem cristãos. Como resultado, eles começaram a colocá-lo como alvo. Somente neste ano, ele sofreu dois ataques e em um deles ficou gravemente ferido no ouvido.

O dano no ouvido de Adane tem caráter permanente. Os médicos disseram a Adane que ele sofrera danos irreparáveis ​​no ouvido e precisaria de um aparelho auditivo pelo resto da vida — assistência essencial que nem, ele nem sua igreja podiam pagar.

"Minha igreja tem limitações sobre como eles podem ajudar com esse problema", diz ele.

Quando a equipe da Missão Portas Abertas África soube da lesão do pastor Adane, pagou pelo tratamento e pelo aparelho auditivo.

“Agradeço ao Senhor Jesus por intervir. Ele me manteve vivo e resolveu todos os meus problemas. Deus também trouxe a Portas Abertas para minha vida. Obrigado por me ajudarem a receber tratamento médico e por ajudar nossa igreja. Que Deus abençoe vocês por toda a sua ajuda”.

Pandemia e perseguição

Além da crise de saúde, a pandemia do coronavírus causou sofrimento adicional aos cristãos, como é possível ver na igreja de Adane.

A pandemia afetou severamente o ministério da igreja, explicou o pastor. As igrejas nesta área não dependem apenas dos dízimos e ofertas para apoiar os ministros, mas também para ajudar os crentes perseguidos que perderam o emprego e o apoio da comunidade devido à sua conversão. Os líderes muçulmanos locais fazem com que a comunidade exclua os fiéis, ordenando que os donos das lojas se recusem a vender quaisquer bens, incluindo alimentos e remédios aos cristãos, explica Adane.

"Por causa do COVID-19, a igreja está com grandes problemas", diz Adane. “Enquanto as igrejas estavam fechadas [como parte do bloqueio do governo], ninguém podia ir à igreja ... não tínhamos renda para pagar aos pastores e evangelistas. Antes, havia pessoas que ajudavam a apoiar os funcionários do ministério, mas agora eles pararam. A igreja costumava ter muitos fluxos de renda, mas tudo parou”.

Também ofereceu aos perseguidores uma oportunidade adicional de causar sofrimento. Nesse momento extremamente difícil, extremistas locais convenceram o proprietário da casa onde Adane mora a despejar o pastor com apenas três dias de antecedência. Quando ele tentou alugar uma nova casa, os radicais muçulmanos ameaçaram esses potenciais proprietários.

"Eles disseram aos proprietários: 'Se você alugar sua casa para essa pessoa, atacaremos sua casa e causaremos danos'", contou.

Eventualmente, Adane foi forçado a alugar um lugar em outra cidade.

Discriminação por parte do governo

O COVID-19 e as condições de vida cada vez mais difíceis criadas pela pandemia e a praga coincidente de gafanhotos destruidores de culturas que assolaram o leste da África causaram estragos em uma situação já ruim. Para os cristãos que são principalmente diaristas e já não conseguem acessar os serviços locais, a pandemia dá lugar a outra camada de perseguição.

Apesar de se registrar no governo para obter ajuda, os cristãos etíopes na área de Adane foram deliberadamente deixados de fora de qualquer ajuda.

“Havia diferentes tipos de apoio do governo em nossa área. Eles davam óleo de cozinha, arroz e massa para algumas pessoas. Mas quando as pessoas se registram, as autoridades excluem a comunidade protestante. Especialmente se eles são crentes de origem muçulmana... nós não os vimos dar nada aos protestantes. Perguntamos aos membros da igreja, tanto nas áreas rurais quanto nas urbanas, mas eles não receberam nenhum apoio do governo”.

Essa falta de ajuda causa angústia em crentes como Ebrahim*, um membro da igreja liderada pelo pastor Adane. Infelizmente, as colheitas de Ebrahim foram gravemente afetadas pela praga dos gafanhotos. Quando Ebrahim foi se registrar para receber ajuda humanitária, os oficiais o perseguiram dizendo: "Vocês são infiéis!".

A única maneira de permitir que ele se registrasse para obter assistência do governo, diz Adane, era se Ebrahim e sua família retornassem ao Islã.

A família de Ebrahim também o pressionou a voltar ao Islã em troca de sua ajuda; a família de sua esposa a pressionou a voltar para casa com eles, em vez de sofrer como cristã com Ebrahim.

"Ele não tem nada para alimentar sua família, e as pessoas estão pressionando-o a voltar ao Islã para receber ajuda", diz Adane.

O governo local geralmente exclui os crentes porque eles acreditam que os cristãos recebem apoio de fora da Etiópia. Adane também compartilhou sobre Girma*, pai de três filhos.

“Girma não tem fazenda ... ele não tem nada. No início, o [governo] o registrou para receber apoio, mas removeu seu nome da lista, porque descobriram que ele havia se tornado cristão. Ele está com muitos problemas e a igreja não tem nada para dar a ele”, contou.

Fé em meio à crise

Os desafios são esmagadores, diz Adane. Mas em meio a toda essa crise, Palavra de Deus se tornou uma tábua de salvação para o pastor.

“Em setembro do ano passado, Deus me deu duas escrituras para meditar. Primeiro, Apocalipse 3: 8, que diz: 'Coloquei diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar’ e Salmo 91:1: 'Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo repousará na sombra do Todo-Poderoso".

"As palavras de Deus estão dentro do meu coração. Quando passo por todos esses problemas, elas me incentivam. Eu digo a mim mesmo que Deus é quem dá propósito e eu não irei a nenhum outro lugar, porque Ele tem um plano para a minha vida. Em qualquer situação, Ele tem uma solução e é minha proteção”, lembrou.

A Portas Abertas está no processo de fornecer ajuda humanitária a 1.500 famílias cristãs que precisam urgentemente de ajuda na África subsaariana. Ore por esse trabalho e, se puder, apoie nossos esforços. Por US $ 65, você pode dar uma ajuda crítica à família, incluindo alimentos, sabão e dinheiro para itens essenciais como aluguel e remédios, por um mês.

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