Aos 66 anos, Heidi Baker enfrenta desafios físicos e espirituais. Em processo de recuperação na Califórnia após mais uma cirurgia na coluna – resultado de décadas viajando por estradas precárias no interior de Moçambique – ela compartilha momentos marcantes de sua jornada de fé e serviço missionário.
Entre os relatos, se destacam testemunhos de cura e avivamento que cercam a renomada missionária, após décadas vivendo sob intensa perseguição no norte do país africano, onde serviu por mais de 30 anos.
Heidi também relata como Deus a confrontou com o chamado para amar terroristas islâmicos, mesmo diante de uma ameaça real de sequestro.
Perdão abriu portas
Dois anos após o início de conflitos em Cabo Delgado, Heidi descobriu que a al-Shabaab – que segue uma ideologia jihadista semelhante à de outros movimentos extremistas – planejava sequestrá-la, o que a encheu de medo e raiva.
Durante uma pregação, Deus a confrontou: “Você perdoou e ama a al-Shabaab?”.
Entre lágrimas, ela disse “sim” e pediu amor por eles, percebendo que muitos eram jovens manipulados.
Logo depois, seus pastores foram brutalmente espancados pela polícia, e Heidi também os incentivou a perdoar.
Esse ato de perdão radical abriu portas: o governo concedeu acesso total às prisões de Cabo Delgado, permitindo levar Bíblias em áudio e compartilhar o Evangelho.
Desde então, membros do Estado Islâmico (ISIS) têm se rendido a Cristo, chorando em arrependimento, ela diz, tudo porque escolheu amar e perdoar.
O mistério da cura
Heidi fala sobre o mistério de testemunhar tantas curas sobrenaturais enquanto ela mesma não foi curada, precisando se submeter a três grandes cirurgias de coluna nos EUA.
Ela explica que recebeu muita oração e até se sentiu melhor em alguns momentos, mas a dor persistia, e no fim percebeu os procedimentos eram o caminho a seguir.
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Heidi Baker conduz um movimento de oração, avivamento e cura. (Foto: rollandheidibaker.org)”
Heidi conta que durante esse período de dor intensa, sentiu a presença de Deus de forma poderosa, a ponto de enfermeiros e médicos pedirem oração e uma profissional afirmar que sua sala parecia “um pedaço do céu”.
Para ela, a cura é um mistério: Deus pode agir por meio da oração ou através das mãos de um cirurgião, mesmo que seja um “pré-crente”, como ela prefere chamar aqueles que ainda não conhecem Jesus.
“Quem somos nós para dizer como Deus quer fazer alguma coisa?”, conclui, expressando gratidão por todas as formas como Deus cura.
Heidi acredita que Deus mantém a oração e a cura como mistérios para que continuemos confiando nele.
Visão do Céu
A missionária conta ter tido uma visão de uma sala no Céu cheia de partes do corpo, mas ouviu do Senhor que só poderia entrar quando Ele permitisse, pois acesso total seria insustentável.
Para ela, Deus nos dá apenas o que precisamos para cumprir nosso chamado: orar com fé, humildade e compaixão. Se os milagres acontecem ou não, o essencial é que as pessoas sintam o amor e a misericórdia de Deus – e isso significa que não falhamos.
Heidi explica que curas milagrosas parecem mais comuns em Moçambique porque, ali, se Deus não agir de forma sobrenatural, as pessoas permanecem doentes ou podem morrer, enquanto no Ocidente existem recursos como implantes cocleares.
Além disso, ela acredita que a simplicidade da fé faz diferença: em Moçambique, as pessoas não duvidam do poder de Deus, pois conhecem a realidade sobrenatural e confiam plenamente que Ele pode curá-las.
Perseguição severa
Heidi descreve a perseguição em Cabo Delgado como extremamente severa: pessoas de suas igrejas foram mortas, fazendas e templos queimados, e cristãos executados publicamente para intimidar outros.
A violência chegou perto de sua casa, onde encontraram um grupo armado da al-Shabaab com facões e AK-47. A situação forçou seu filho adotivo e família a se mudarem para os EUA, depois que seus netos perguntaram, em meio ao medo: “Quando vierem cortar nossas cabeças, podemos negar Jesus e convidá-lo de volta depois?”
Para Heidi, ouvir isso de crianças foi devastador.
Sobre esse tipo de conversas com pessoas amdas, Heidi diz que é preciso buscar profundamente a direção de Deus. É difícil para todos, mas quando envolve os filhos, ela ora e pergunta: “Senhor, o que o Senhor está pedindo a nós?”, reconhecendo que a resposta pode ser diferente para cada pessoa.
Lições de Deus
Heidi diz que quando ela e seu marido começaram a evangelizar na Ásia, Deus pediu para viverem entre os pobres e aprender mais sobre o Seu reino. Segunda ela, essa experiência ensinou lições profundas, como desespero, dependência, generosidade, misericórdia e coragem.
Décadas depois, Heidi diz que se mantém fiel às lições vivendo com simplicidade: “Somos pessoas muito pequenas, amando a Deus em um mar de necessidade, e nossa oferta parece uma gota no oceano. Tudo o que podemos fazer é pedir: ‘Senhor, multiplica o teu amor em nós e através de nós, um por um.’”
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Heidi Baker em Moçambique. (Foto: rollandheidibaker.org)
Consciente de sua pequenez, ela continua agarrada a Jesus, dizendo: “Aqui estamos, usa-nos, leva-nos, enche-nos, possui-nos, Deus.”
Heidi afirma que se vê como pequena e insignificante, apesar da fama: “É tudo sobre Ele, nunca sobre mim. Sou apenas um pincel na mão do Mestre, e oro para que as pessoas vejam a obra e não o pincel. Que eu não estrague a beleza do que Ele quer pintar.”
Universidade
Heidi conta que a visão para abrir uma universidade em Pemba surgiu enquanto orava durante um mergulho, seu “lugar de dependência”.
Deus lhe disse claramente: “Quero que você construa uma universidade”, algo que a surpreendeu, pois cresceu com dislexia severa até ser curada aos 16 anos.
Obedecendo à direção divina, ela marcou o terreno com um círculo ao redor de uma árvore de baobá e começou com uma simples pergunta: “Alguém quer ir à escola?”.
Sem campanhas agressivas, cada recurso que chegava era usado para construir algo novo. Hoje, 23 anos depois, a Iris Global tem uma universidade totalmente credenciada – fruto de milagres e muito trabalho, provando que quem não desiste, vence.
Heidi diz que a universidade é um dos maiores motivos de alegria, justamente por ter sido algo aparentemente impossível na província mais pobre da nação mais pobre do mundo.
Foram anos de desafios, mas ela não desistiu: “Às vezes você carrega uma promessa por 23 anos – não a aborte. Cuide dela, creia que Deus vai cercá-lo de pessoas para ajudá-lo a dar à luz o milagre.”
Família missionária
Heidi se tornou cristã aos 16 anos e casou-se com Rolland, missionário de terceira geração.
O avô dele, H.A. Baker, dirigia um orfanato na China durante o avivamento dos anos 1920 e registrou visões celestiais e infernais das crianças no livro Visions Beyond the Veil.
Um século depois, o ministério dos Bakers em Moçambique é marcado por manifestações igualmente sobrenaturais.
Com ligações com a a Bethel Church, alguns consideram suas mensagens emocionais ou pouco convencionais, como pregar deitada no palco.
Ainda assim, Heidi abriu mão de uma vida confortável nos EUA para servir uma das nações mais pobres do mundo por quase 50 anos.
Iris Global
Apesar de o ministério da missionária, que já esteve dezenas de vezes no Brasil, ser reconhecido por sua ênfase em cura sobrenatural, ela insiste que é apenas uma pessoa pequena fazendo algo pequeno.
“Somos pessoas pequenas em um país pequeno fazendo algo pequeno, mas isso importa porque o Senhor pode multiplicar”, diz.
Mas a Iris Global – o ministério que Heidi fundou com seu marido, Rolland, em 1980 – hoje atua em 37 países ao redor do mundo.
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Heidi e Rolland Baker ao lado do pequeno avião que a missão utiliza em Moçambique. (Foto: rollandheidibaker.org)
No ano passado, a organização destinou US$ 13,5 milhões, forneceu mais de 9 milhões de refeições, atendeu 28 mil pessoas em seus centros médicos e alcançou mais de meio milhão de pessoas por meio de programas de divulgação comunitária.
E estas são apenas as estatísticas que a organização divulga; os Bakers deixaram de informar o número de igrejas plantadas, pessoas curadas ou vidas entregues a Cristo há anos, devido ao risco de perseguição e à percepção geral de que isso pouco acrescentava à Igreja como um todo.
O objetivo da Iris sempre foi “parar para aquele que precisa, movido pelo amor de Deus”, afirma a missionária americana. Esse amor genuíno por Jesus dá peso à sua humildade ao dizer que se sente pequena.
Legado e expectativa
Heidi admite que já lutou para ouvir a voz de Deus, inclusive durante longos jejuns, quando parecia silêncio total.
Nessas situações, ela se volta para a Palavra, perguntando a Deus em qual livro deve meditar, e encontra direção por meio da revelação específica (rema).
Para ela, Deus nunca deixa de falar, pois já falou através das Escrituras – e continua falando por elas.
Sobre sua missão e a do marido, Heidi afirma que ainda não concluíram o trabalho em Moçambique, pois Deus os chamou para lá.
Seu desejo é levar a glória de Deus às nações e inspirar vidas de intimidade radical com Ele: se cada pessoa que ama Jesus entregar sua pequena vida e obedecer ao chamado, essa luz será maior do que qualquer escuridão.