‘Morreram enquanto dormiam’: 15 cristãos são mortos em uma semana de ataques na Nigéria

Em apenas sete dias, ataques coordenados de pastores Fulani deixaram 15 cristãos mortos em vilas do centro da Nigéria.

fonte: Guiame, com informações do Morning Star News

Atualizado: Sexta-feira, 7 Novembro de 2025 as 4:30

Cristãos mortos na vila de Sarkin Noma em 6 de novembro de 2025. (Foto: Cristian Daily International-Morning Star News/Captura de tela)
Cristãos mortos na vila de Sarkin Noma em 6 de novembro de 2025. (Foto: Cristian Daily International-Morning Star News/Captura de tela)

Uma nova onda de violência atingiu comunidades cristãs na Nigéria. Entre os dias 31 de outubro e 6 de novembro, pelo menos 15 cristãos foram mortos em ataques coordenados por pastores Fulani nos estados de Nasarawa e Plateau, segundo testemunhas e líderes locais. 

As ações ocorreram durante a madrugada, com vítimas sendo surpreendidas dentro de suas próprias casas ‘enquanto dormiam’.

Na noite de quinta-feira (6), por volta das 23h, a vila de Sarkin Noma, no estado de Nasarawa, foi invadida enquanto os moradores dormiam. Homens armados, identificados como pastores Fulani, mataram dois cristãos e sequestraram um terceiro.

Segundo o Morning Star News, uma moradora contou que o ataque aconteceu de forma repentina, sem que houvesse tempo para reação. Outro morador confirmou as mortes e o sequestro, dizendo que a comunidade vive sob constante medo.

“A área de Keana não é mais segura. Nosso lar, que sempre foi tranquilo, se tornou abrigo de bandidos armados”, lamentou. 

Na manhã seguinte, centenas de moradores protestaram bloqueando a estrada que liga as cidades de Lafia (Nasarawa) e Makurdi (Benue). Os manifestantes pediam proteção e denunciavam a ausência das autoridades diante da escalada da violência.

Mortes em série no estado de Plateau

Enquanto isso, no estado vizinho de Plateau, a violência foi ainda mais grave. Entre 31 de outubro e 6 de novembro, 13 cristãos foram mortos em uma sequência de ataques nas áreas de Riyom e Mangu, segundo relatos de moradores e líderes locais.

Na quinta-feira (6), homens armados Fulani invadiram a vila cristã de Rachi, em Riyom, e mataram dois moradores, deixando outros cinco feridos. 

“Este ataque é parte de uma nova onda de violência coordenada em Riyom e nas áreas vizinhas. O governo não pode continuar assistindo sem agir. É preciso uma resposta firme para proteger as comunidades”, afirmou o advogado Dalyop Solomon Mwantiri em nota pública.

Ele acrescentou que, segundo testemunhas, grupos armados haviam sido vistos na região dias antes dos ataques, e que as advertências anteriores das autoridades não impediram a escalada da violência.

No sábado (1º de novembro), seis moradores da vila de Kwi, também em Riyom, foram mortos em outro ataque Fulani. O advogado relatou que o episódio aconteceu por volta das 21h50, e que mais cedo naquele mesmo dia o agricultor Kurang Daniel havia sido assassinado enquanto colhia milho, por volta das 16h.

“Os agressores chegaram em motocicletas e acredita-se que tenham vindo de Fass, um assentamento próximo”, relatou Mwantiri.

No domingo (2 de novembro), os Fulani invadiram a vila de Kubon, no condado de Mangu, e mataram o agricultor cristão Bitrus Dakwan enquanto ele dormia em casa.

Também em Mangu, no dia 31 de outubro, a vila de Pushit foi atacada. Três cristãos foram mortos, segundo o líder comunitário Friday Dawan.

“Estamos tristes em anunciar que novamente pastores Fulani atacaram Pushit, matando três cristãos. Pedimos às forças de segurança do estado de Plateau que atuem com urgência para conter esses ataques injustificados contra inocentes”, declarou Dawan.

Os Fulani são um grupo étnico de milhões de pessoas espalhadas pela Nigéria e por toda a região do Sahel. Embora muitos sejam pacíficos e não tenham ligações com extremismo, uma parcela tem aderido a ideologias jihadistas, segundo o Relatório de Liberdade Religiosa do Parlamento Britânico.

“Esses grupos adotam estratégias semelhantes às do Boko Haram e do ISWAP, com o objetivo claro de atacar cristãos e símbolos de identidade cristã”, afirma o relatório.

Nigéria: um dos países mais perigosos para cristãos

A Nigéria permanece entre os lugares mais perigosos do mundo para cristãos, de acordo com a Lista Mundial da Perseguição 2025, divulgada pela organização Portas Abertas.

Dos 4.476 cristãos assassinados por causa da fé no mundo durante o último período analisado, 3.100 (69%) foram mortos na Nigéria, segundo o relatório.

“O nível de violência anticristã no país já atingiu o máximo possível dentro da metodologia da Lista Mundial da Perseguição”, destaca o documento.

Na região Centro-Norte, onde há maior concentração de cristãos, milícias Fulani e grupos jihadistas como o Boko Haram e o Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP) atacam comunidades agrícolas, promovendo massacres, sequestros e estupros.

O relatório também aponta que o número de sequestros para resgate cresceu muito nos últimos anos e que a violência se expandiu para os estados do sul. Um novo grupo jihadista, chamado Lakurawa, surgiu no noroeste do país, armado com tecnologia moderna e ligado à Al-Qaeda (grupo JNIM, originário do Mali).

A Nigéria ocupa atualmente a 7ª posição entre os 50 países mais perigosos para os cristãos no mundo.

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