‘Senti o Espírito Santo todos os dias na prisão’, diz pastor chinês libertado após 12 anos

Preso desde 2013, o pastor Zhang Shaojie agradeceu sua libertação no mês de Ação de Graças, dizendo ser prova da graça de Deus.

fonte: Guiame, com informações da Roys Report e ChinaAid

Atualizado: Segunda-feira, 8 Dezembro de 2025 as 10:42

O pastor Zhang Shaojie cumprindo sua sentença de 12 anos de prisão na China; e após a libertação. (Fotos: China Aid/ Release International)
O pastor Zhang Shaojie cumprindo sua sentença de 12 anos de prisão na China; e após a libertação. (Fotos: China Aid/ Release International)

O pastor chinês Zhang Shaojie foi libertado em 16 de novembro, após cumprir integralmente a pena de 12 anos de prisão.

Natural da província de Henan e atualmente com 59 anos, ele expressou profunda gratidão pela liberdade, destacando o apoio recebido de organizações internacionais ao longo dos últimos anos.

“Sair da prisão neste mês de Ação de Graças é, para mim, uma prova da graça de Deus”, afirmou Shaojie.

“Senti a presença do Espírito Santo todos os dias durante minha prisão”, foi uma das primeiras coisas que o pastor disse após sua libertação.

Ele explicou que foi isso que o manteve firme. Também agradeceu o apoio internacional, acreditando que “do contrário, talvez não estivesse aqui hoje e poderia ter ‘desaparecido’.”

Zhang foi preso em 2013 após uma disputa por um terreno adquirido pela Igreja Cristã do Condado de Nanle, que ele liderava, para a construção de um templo.

Crescimento da igreja

De acordo com a Release International, os membros da igreja perceberam rapidamente que as autoridades buscavam destituí-lo para assumir o controle da propriedade e conter o crescimento da congregação.

Durante o julgamento, as acusações contra Zhang mudaram: inicialmente, ele foi acusado de obstrução do trabalho oficial e incitação à desordem pública, mas posteriormente a acusação foi reduzida para fraude, segundo a Comissão EUA para a Liberdade Religiosa Internacional.

O caso ganhou repercussão internacional. Em 2017, os políticos americanos Marco Rubio e Chris Smith enviaram uma carta ao então secretário de Estado Rex Tillerson, destacando relatos de abusos durante a custódia.

Segundo o documento, um administrador provincial teria recebido ordens para manter Zhang sob vigilância rigorosa. Ele foi privado de sono e alimentação e permaneceu sob constante observação.

O caso de Zhang não é isolado. Organizações cristãs relatam há anos o aumento da pressão sobre igrejas e fiéis na China.

Comunismo

Observadores afirmam que o Partido Comunista Chinês busca colocar as comunidades religiosas sob controle estatal total. Entre os exemplos citados estão a remoção de cruzes das igrejas, a prisão de pastores e a inclusão de princípios comunistas nos cultos.

Durante uma audiência no Congresso americano, Sam Brownback, ex-governador do Kansas, alertou os legisladores sobre a grave ameaça representada pela ofensiva da China contra a liberdade religiosa.

“A China está em guerra com a fé, e está em guerra conosco”, afirmou Brownback. “A China teme a liberdade religiosa mais do que teme nossos porta-aviões ou nossas armas nucleares. Se o maior Estado autoritário do mundo conseguir erradicar a liberdade religiosa sem consequências, isso minará a autoridade dos valores fundadores da América e sua liderança global.”

Família perseguida

Após a condenação do pastor Zhang em julho de 2014, seus pais idosos foram assediados e ameaçados, e o Departamento de Segurança Pública do Condado de Nanle confiscou um carro pertencente à sua filha mais velha, Zhang ‘Yunyun’ Huixin, hoje conhecida como Esther.

Ela, o marido Sun Zhulei e o bebê Sun ‘Jesse’ Jiexi se esconderam após repetidas ameaças telefônicas de autoridades e, posteriormente, fugiram da China.

Outra filha, Zhang ‘Shanshan’ Lingxin, foi sequestrada de forma violenta por agentes e mantida detida por mais de uma semana.

A irmã do pastor, Zhang Cuijuan, cumpriu uma pena de 18 meses de prisão por sua participação nos protestos da igreja.

A esposa do pastor, Wang Fengrui, é portadora de deficiência.

Para o pastor Shaojie, sua libertação representa uma notícia extraordinária e a oportunidade de recomeçar. Ao mesmo tempo, sua trajetória evidencia que a pressão sobre os cristãos na China continua a se intensificar.

A China entrou para o Índice Global de Perseguição da International Christian Concern (ICC) em 2025 e, no ano anterior, foi classificada pelo Departamento de Estado dos EUA como “País de Preocupação Particular”.

veja também