Uma febre alta deixou H. Bill Gipple sem audição aos três anos. Apesar da surdez, em sua família, faltar aos cultos não era uma opção, ele conta.
Embora o menino não entendesse nada e a igreja não oferecesse nenhum intérprete, a mãe de Gipple o fez ir aos cultos durante sua infância, mesmo que fosse para ficar sentado.
Em 1970, ele começou a estudar no Instituto Técnico Nacional de Surdos. Durante seis meses, um colega de quarto de Gipple na escola de Rochester, em Nova York, insistiu para que ele fosse em um culto de avivamento.
Gipple conta que zombou dele, mas depois de um tempo decidiu ir àquela igreja:
“Recebi o Espírito Santo e isso mudou minha vida”, diz Gipple, hoje com 72 anos. Ele conta que além de suas mudanças incluírem um rosto brilhante, outras transformações espirituais e emocionais surpreenderam a ele e a outras pessoas que perceberam as diferenças.
Mas a manifestação sobrenatural não parou por aí, diz.
“Não apenas falei em línguas, mas também me ouvi, um homem surdo, falando em línguas”, diz Gipple, que nessa época tinha 17 anos.
Chamado ministerial
Gipple conta que recebeu o chamado de Deus para ser um pastor. Após se formar no Central Bible College em 1978, ele serviu 16 anos como pastor principal ou associado em duas igrejas de surdos da Califórnia.
O pastor Bill e sua esposa Vickie Gipple. (Foto: Facebook/Holy Hands & Hearts)
Depois ele se tornou o pastor principal de deficientes auditivos da Igreja de Surdos do Condado de Orange, que é parte da Primeira Assembleia do Condado de Orange, em Santa Ana, na Califórnia.
Há 30 anos, Gipple faz parte da AG Deaf National Multi-Cultural Fellowship, atuando como vice-presidente há quase duas décadas.
Por três anos ele serviu como Representante da América do Norte para as Assembleias Mundiais de Deus para Surdos. O chamado de seu coração é pastorear os surdos, além de orientar os pastores da denominação sobre esse ministério.
Reconhecimento
No mês de julho, a igreja prestou homenagem a Gipple por seus 30 anos de liderança pastoral no condado de Orange.
Em 2012, a população surda nos Estados Unidos totalizava 27,7 milhões de pessoas. Conforme destacado por Emory K. Diively, fundador e presidente da World Deaf Assemblies of God Fellowship e AG Deaf National Multi-Cultural Fellowship, há 28 igrejas surdas afiliadas à AG.
Além disso, mais de 1.000 igrejas ouvintes ligadas à AG nos EUA oferecem serviços de intérpretes para a comunidade surda.
O trabalho missionário também é evidente nesse cenário: oito obreiros das Missões dos EUA da AG estão dedicados ao ministério com os surdos, enquanto outros 17 servem através das Missões Mundiais das Assembleias de Deus.
Desafios ministeriais
Pastores surdos enfrentam grandes desafios em seus ministérios. As congregações de surdos tendem a ser pequenas, muitas vezes consistindo em apenas algumas dezenas de membros.
Gipple iniciou sua jornada ministerial de forma semelhante a muitos outros pastores surdos: como um ministro bi-vocacional. Em um período, ele trabalhou em três empregos simultaneamente, incluindo o de entregador de jornais e de bancário, para garantir o sustento de sua família.
A posição de Gipple como pastor surdo de Orange County é a de funcionário da igreja em tempo integral, o que é raro.
Experiência sobrenatural
Ao longo de suas décadas de ministério, ele percebeu que os desafios decorrentes de sua surdez om ajudaram compartilhar a mensagem de Jesus.
Gipple conta uma experiência sobrenatural que aconteceu em uma cidade da Flórida, onde um professor de uma escola de surdos que praticava vodu o convidou para ir à sua casa, onde várias bruxas vodu estavam presentes.
Por não falar, Gipple levou junto sua namorada ouvinte. Ali, ele enfrentou uma situação única e desafiadora, mas sua presença e ações tiveram um impacto notável.
Sua namorada estava apavorada e o mau cheiro de sálvia queimada era horrível, ele lembra. O lugar estava cheio de símbolos de magia negra e um agressivo cão da raça pastor alemão do professor rosnava para eles.
“Eu não estava com medo. O Senhor me ungiu com confiança”, diz Gipple. “Comecei a contar-lhes sobre Jesus.”
Ele diz que quando Gipple começou a compartilhar o Evangelho com as bruxas, sua namorada ouviu o cachorro começar a choramingar e se encolher.
Gipple não percebeu, mas ele havia parado de sinalizar e começou a falar com sua voz.
“Minha namorada disse: 'Você está falando e não parece surdo!'”, lembra Gipple. “Eu não tinha ideia de que Deus estava falando através de mim.”
Algo extraordinário
Gipple, que domina exclusivamente a Língua de Sinais Americana (ASL), liderou uma equipe de missionários surdos dos EUA para a escola de surdos da Assembleia de Deus na Nicarágua, localizada em Manágua.
Ali, as crianças e os adultos locais se comunicavam exclusivamente por meio da língua de sinais da Nicarágua. No início da visita, Gipple tinha conhecimento apenas de algumas palavras naquele idioma.
No entanto, algo extraordinário ocorreu no dia seguinte. Enquanto se preparava para ministrar a mensagem, ele descobriu que, embora a escola tivesse providenciado um intérprete de ASL, o Senhor lhe havia concedido uma habilidade surpreendente.
Naquele momento, Gipple percebeu que podia pregar e falar em língua de sinais nicaraguense sem a necessidade de um intérprete. “As pessoas lá ficaram fascinadas e maravilhadas”, conta.
Debbie K. Stiles, pastora da Igreja Austin Spirit of Life Deaf em Austin, Texas, conheceu Gipple em 1980 e manteve uma conexão sólida com ele ao longo das décadas por meio de sua liderança nacional na AG Deaf.
"Bill (Gipple) tem sido um pastor e líder incrível", afirma Stiles. “Ele está profundamente comprometido em ver as almas surdas contribuindo eternamente para o reino de Deus. Ele tem uma capacidade única de unificar igrejas e pastores surdos, especialmente na Califórnia.”
