
Um proeminente advogado pediu ao presidente da Nigéria que declare emergência militar em meio a uma onda de ataques contra comunidades cristãs, que matou 85 pessoas no estado de Benue, nas últimas semanas.
Na última segunda-feira (2), Sebastine Hon, Advogado Sênior da Nigéria (SAN) – título de prestígio conferido pela Ordem dos Advogados do país – enviou uma carta ao presidente Bola Tinubu, exigindo medidas imediatas para combater a perseguição mortal.
"A situação de segurança no meu estado está saindo do controle muito rápido. A partir da narração resumida acima dos infelizes acontecimentos no estado de Benue, é muito imperativo que um estado de emergência militar seja declarado pelo Sr. Presidente”, escreveu Hon.
O advogado já havia pedido proteção aos líderes militares e policiais durante a onda de ataques de extremistas Fulani contra moradores cristãos no final de maio.
"Eu pessoalmente escrevi uma carta conjunta ao Chefe do Estado-Maior da Defesa, ao Inspetor-Geral da Polícia e ao Diretor-Geral dos Serviços de Segurança do Estado, detalhando as falhas das operações militares e paramilitares no estado. Até o momento, nada foi feito, como é claramente evidente pelos recentes acontecimentosno estado”, relatou Hon, na carta ao presidente nigeriano.
Forças de segurança não protegem cristãos
No documento, o advogado ainda denunciou que militares e forças de segurança não agem para proteger os cristãos, mesmo presenciando diversos ataques de fulanis.
"Em 29 de maio de 2025, a comunidade Agan, bem na cidade de Makurdi, capital do estado, foi atacada em plena luz do dia. Embora haja um quartel militar na mesma Margem Norte, nenhum soldado foi destacado para deter a situação”, afirmou.
Ele também relatou o caso de Solomon Atongo, um homem que foi atacado a caminho de Makurdi para Naka, em 24 de maio.
"A cena [do crime] ficava a apenas 500 metros de um posto de controle militar; mas nenhum dos soldados no posto de controle veio em seu socorro até que os agressores o deixaram para morrer. Ele tem sorte de estar vivo hoje”, disse Hon.
Denúncias do descaso das forças de segurança em ataques também já foram feitas por líderes cristãos da Nigéria.
Recentemente, padres católicos acusaram os militares de cumplicidade com radicais fulani, afirmando que a igreja perdeu padres e membros da congregação e fechou mais de 15 paróquias no estado.
"Os agressores sempre vêm em número em motocicletas. Enquanto isso, existem vários postos de controle militares ao longo das estradas! Onde e como, se me permitem perguntar, esses assassinos passam para os pontos de ataque e voltam para suas 'bases' recém-adquiridas?”, questionou o advogado Hon.
Genocídio
No período de uma semana, cerca de 85 cristãos foram mortos em uma onda de ataques coordenados no estado de Benue, centro da Nigéria.
No último domingo (01), grupos armados atacaram comunidades nos condados de Gwer West e Apa, matando pelo menos 43 pessoas.
Autoridades e moradores locais descreveram os agressores como extremistas Fulani, e informaram que eles teriam chegado em um comboio
Conforme o International Christian Concern (ICC), dias antes, ataques semelhantes em várias aldeias de Gwer West resultaram em 42 mortes e no deslocamento de centenas de moradores.
As regiões mais atingidas pelos ataques recentes incluem os condados de Gwer West, Guma, Logo, Agatu e Apa, áreas que têm sido alvos recorrentes nos últimos cinco anos. A cidade de Naka, antes considerada um local seguro, agora está entre as mais afetadas.
Até o momento, nenhuma prisão foi registrada em relação aos ataques, e as investigações sobre os autores e suas ligações ainda estão em andamento.
As comunidades atacadas estão localizadas no Cinturão Médio da Nigéria, uma região conhecida pela disputa por terra, água e representação política entre agricultores predominantemente cristãs e muçulmanos, incluindo os Fulani.
Mais de 10 mil mortos desde 2023
Desde maio de 2023, pelo menos 10.217 nigerianos foram mortos em ondas de violência em várias partes do país, de acordo com dados reunidos por organizações da sociedade civil e da imprensa.
Segundo a Anistia Internacional Nigéria, mais de 6.896 dessas mortes ocorreram no estado de Benue, enquanto o estado de Plateau registrou cerca de 2.630 vítimas.
O mesmo relatório revela que 672 aldeias foram saqueadas apenas nos estados de Benue, Plateau e Kaduna. Muitas dessas comunidades eram assentamentos agrícolas de maioria cristã.
O governador do estado de Plateau, Caleb Mutfwang, classificou os ataques como um "genocídio".
A crise humanitária provocada pela violência continua se intensificando. Milhares de pessoas deslocadas estão refugiadas em escolas, igrejas e áreas abertas, enfrentando escassez de água potável, alimentos e atendimento médico.