Uma campanha de vandalismo em andamento no Canadá resultou num total de 45 igrejas sendo atacadas, com alguns dos edifícios sendo totalmente queimados. Conforme relatado pelo CBN News, a maioria dos ataques foram contra igrejas católicas romanas que atendem comunidades indígenas.
“Incendiar igrejas não é uma solidariedade conosco, povos indígenas. Nós não destruímos os locais de culto das pessoas”, disse Jenn Allan-Riley, ministra pentecostal assistente da Living Waters Church durante uma entrevista coletiva, na semana passada.
O CTV News relatou que os líderes indígenas estão pedindo o fim dos incêndios criminosos contra as igrejas. “Estamos preocupados com o incêndio e a destruição de igrejas, trazendo mais conflitos, depressão e ansiedade para aqueles que já sofrem com dor e luto”, disse ela.
Onda de vandalismo
Dos 45 edifícios, sabe-se que 17 foram totalmente queimados. Os incêndios e os atos de vandalismo estão ocorrendo em seis províncias e também nos territórios da região Noroeste do país.
A Royal Canadian Mounted Police (RCMP) disse que está investigando os locais onde os incêndios ocorreram em busca de respostas e conexões.
Na semana passada, o prédio que abrigava a Igreja House of Prayer Alliance, em Calgary, foi incendiado. A Igreja de 230 membros não pôde mais se reunir por conta dos danos.
O chefe do batalhão, Keith Stahl, disse que o fogo se limitou principalmente ao exterior do edifício, mas o interior também foi muito atingido. A polícia acredita que o incêndio foi intencional, mas ainda não encontrou suspeitos.
Keean Bexte twittou as falas do pastor da igreja: “Somos refugiados. Escapamos do Vietnã para vir aqui para ter mais liberdade, para viver, e achamos que era um bom país. E agora isso aconteceu com a nossa igreja. Talvez não seja seguro estar aqui no Canadá em comparação com o Vietnã”, disse o pastor Nguyen.
Possível motivação dos ataques
Os incêndios em igrejas foram relatados em todo o Canadá após as recentes descobertas de sepulturas não marcadas, em locais de antigos internatos para crianças indígenas, muitos dos quais administrados por igrejas católicas.
Restos mortais de quase mil corpos foram encontrados até agora, a maioria deles de crianças indígenas. As escolas não estavam apenas no Canadá. A American Magazine, um jornal jesuíta, informa que em 1.926 havia 357 escolas em 30 estados com mais de 60 mil crianças.
Nos Estados Unidos havia 84 escolas, 4 delas administradas por jesuítas. A secretária do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland, agora ordenou uma investigação sobre a história dessas escolas e uma busca por túmulos de crianças que podem ter morrido nelas.
Tentando desvendar o mistério
Na terça-feira (13), o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse que “sente seu coração partido” após a descoberta de mais sepulturas não marcadas no terreno de uma escola residencial indígena, no sul das Ilhas do Golfo, na costa da Colúmbia Britânica.
A Tribo Penelakut diz que mais de 160 sepulturas não documentadas e não marcadas foram encontradas no local da antiga Escola Industrial Indígena da Ilha de Kuper.
“Reconheço que essas descobertas apenas aprofundam a dor que famílias, sobreviventes e todos os povos e comunidades indígenas já estão sentindo, ao reafirmar a verdade que há muito tempo já sabem”, disse Trudeau durante uma entrevista coletiva na terça-feira, em Ottawa.
Essa “verdade”, citada pelo primeiro-ministro, tem a ver com uma dívida histórica e os indígenas exigem que o papa peça perdão pelos abusos cometidos contra suas crianças em internatos.
De acordo com uma notícia da AFP, os estudantes sofreram abusos físicos e sexuais de diretores e professores, além de terem sido privados de sua cultura e idioma.
Devido a doenças ou negligência, sabe-se também que mais de 4 mil crianças e adolescentes indígenas morreram, conforme uma comissão de investigação que concluiu que o Canadá cometeu um genocídio cultural.
Conforme o New York Times, o papa Francisco deve visitar o Canadá ainda este ano para apresentar um pedido de desculpas por parte da Igreja.
“Aos membros da Tribo Penelakut, estamos aqui para ajudá-los. Não podemos trazer de volta aqueles que estão perdidos, mas podemos e continuaremos a dizer a verdade”, concluiu Justin Trudeau.