Um esboço da nova Constituição chilena está incluindo o direito ao aborto aceito após a sessão plenária da assembleia que está rascunhando o próximo dispositivo para reger o país, em um artigo que trata de direitos sexuais e reprodutivos.
O texto nasceu por pressão de ativistas e feministas após marchas realizadas em prol da "interrupção voluntária da gravidez" como sendo parte da Constituição.
A inclusão do artigo abre a possibilidade para que leis sejam elaboradas e regulem processos e outros detalhes que deverão passar pelos debates correspondentes no Congresso.
O Chile se tornará o primeiro país latino-americano a ter o direito ao aborto consagrado em sua Constituição se o novo texto for aprovado em um referendo em 12 de junho de 2022.
‘Garantias de Estado’
“O Estado garante o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos (…) bem como o acesso à informação, educação, saúde e aos serviços e benefícios necessários para isso”, diz o artigo, que garante às mulheres “as condições para uma gravidez, interrupção voluntária da gravidez, parto e maternidade voluntária e protegida”.
De acordo com o texto, os direitos sexuais e reprodutivos incluem “o direito de decidir de forma livre, autônoma e informada sobre o próprio corpo, sobre o exercício da sexualidade, reprodução, prazer e contracepção”.
Manifestações contra o projeto
Contrário ao projeto de inclusão do artigo sobre direitos sexuais e reprodutivos que permitirá incorporar o direito ao aborto ao futuro texto constitucional, o Coletivo pelas Duas Vidas repudiou a aprovação.
Com o lema "Deixe o povo nascer", o grupo de manifestantes se reuniu do lado de fora do antigo Congresso Nacional, em Santiago, onde a Convenção Constitucional discute e analisa o conteúdo do projeto.
Manifestação contra o aborto como direito. (Foto: Coletivo pelas Duas Vidas)
Constanza Saavedra, do Coletivo pelas Duas Vidas, disse à ACI Prensa, agência do grupo ACI em espanhol, que “estão aprovando normas na Convenção que não representam os sentimentos dos cidadãos. Os cidadãos realmente não sabem o que está sendo aprovado".
Segundo Saavedra, o que foi aprovado de forma geral na Convenção "é o aborto livre", "sem qualquer limitação, e além disso, foram derrubadas as normas que incluem a proteção do nascituro".
Ela lembrou que "a objeção de consciência pessoal e institucional também foi eliminada", o que prejudica médicos e profissionais de saúde.
Governo socialista
O presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, venceu as eleições em dezembro passado com cerca de 56% dos votos, levando preocupação aos conservadores cristãos e à comunidade judaica chilena, por sua posição anti-Israel.
Boric, de 36 anos, tomou posse na última sexta-feira (11) em uma cerimônia na cidade costeira de Valparaíso, mas que só terminou à noite na capital Santiago, com uma multidão ao redor do Palácio de La Moneda, sede do poder executivo do país.
Como muitos políticos da esquerda latino-americana, ele tem posições progressistas em relação às políticas doméstica e externa.
Desde 2017, o aborto só é permitido no Chile por três motivos: quando a vida da mãe está em perigo, quando o feto ou embrião é inviável e quando a gravidez é fruto de estupro.