O manuscrito mais antigo da infância de Jesus, recentemente decodificado por pesquisadores alemães, foi descoberto por um pesquisador brasileiro.
Segundo o G1, Gabriel Nocchi Macedo, professor da Universidade de Liège na Bélgica, foi um dos pesquisadores que reconheceram o texto durante uma consulta a papiros.
Gabriel nasceu em Porto Alegre (RS), mas se mudou para a Bélgica há 20 anos. Lá, ele estudou letras clássicas e se especializou em papirologia, a ciência que estuda papiros antigos. Hoje, ele é professor do assunto.
“O essencial do trabalho é consultar papiros em diferentes coleções e museus”, disse ele, explicando que foi dessa maneira que ele e o colega, Lajos Berkes, descobriram o texto sobre a infância de Jesus.
“Por acidente, quase, por sorte, estávamos olhando fotos dos papiros da Universidade de Hamburgo, que foi digitalizada, e encontramos o papiro, lemos o texto (que está escrito em grego antigo) e identificamos uma passagem sobre a vida de Jesus”, contou o brasileiro.
Por muito tempo, o papiro passou despercebido, porque parecia se tratar de uma informação do cotidiano, e não um documento histórico, conforme Lajos Berkes.
E Gabriel destacou: "É um papiro pequeno, não é bonito e está mutilado. Registros assim podem trazer muita informação e contribuir com nosso conhecimento do passado. Todas as fontes, mesmo que ‘menores’ e ‘feias’, podem ser importantes”.
Após a descoberta, os dois pesquisadores viajaram até a Alemanha para consultar o manuscrito pessoalmente.
Conteúdo e origem do papiro
Fragmento de papiro dos séculos IV a V. (Foto: Staats- und Universitätsbibliothek Hamburg/Marca de Domínio Público 1.0).
O fragmento, medindo aproximadamente 11 x 5 centímetros, contém treze linhas em letras gregas, com cerca de dez letras por linha, e é originário do antigo Egito tardio.
Os pesquisadores reconheceram que se tratava de uma cópia do Evangelho da Infância segundo Tomé. O Evangelho narra episódios da infância de Jesus e é um dos apócrifos bíblicos.
Embora esses escritos não tenham sido incluídos na Bíblia, suas histórias eram muito populares e difundidas na Antiguidade e na Idade Média.
As poucas palavras do fragmento mostram que o texto descreve o início da "vivificação dos pardais", um episódio da infância de Jesus que é considerado o “segundo milagre” do Evangelho apócrifo de Tomé: Jesus brinca em um riacho caudaloso e molda doze pardais com o barro macio que encontra na lama.
Quando seu pai, José, o repreende e pergunta por que ele está fazendo tais coisas no santo sábado, Jesus, aos cinco anos, bate palmas e dá vida às figuras de barro.
A descoberta é considerada significativa para o campo de pesquisa, já que o manuscrito remonta aos primórdios do Cristianismo e reforça a ideia de que os textos do início da tradição cristã foram escritos em grego.
“O grego era a língua da cultura. Esse evangelho da infância é conhecido em 9 línguas da antiguidade, mas o original era o grego, e esse papiro é o documento mais antigo que registra esse texto, prova isso”, afirmou Gabriel.
Os dois pesquisadores acreditam que o exemplar do Evangelho foi criado como um exercício de escrita em uma escola ou mosteiro, indicado, entre outras coisas, pela caligrafia desajeitada e pelos traços irregulares.