Varíola dos macacos pode ter se espalhado por sexo em raves gays, diz conselheiro da OMS

Para o Dr. David Heymann Heymann, é improvável que a doença desencadeie uma transmissão generalizada.

fonte: Guiame, com informações da Associated Press

Atualizado: Quarta-feira, 25 Maio de 2022 as 8:08

Dr. David Heymann, conselheiro da OMS. (Foto: Don Pollard/Council on Foreign Relations)
Dr. David Heymann, conselheiro da OMS. (Foto: Don Pollard/Council on Foreign Relations)

Um importante conselheiro da Organização Mundial da Saúde (OMS) acredita que o surto de varíola dos macacos pode ser explicado pelo comportamento sexual dos participantes de duas raves recentes na Europa.

Em entrevista à Associated Press, o Dr. David Heymann, que foi chefe do departamento de emergências da OMS, disse que a principal teoria para explicar a propagação da doença foi a transmissão sexual entre homens gays e bissexuais em duas raves realizadas na Espanha e na Bélgica. 

Antes disso, surtos do vírus Monkeypox eram identificados apenas na África, onde é endêmico em animais.

“Sabemos que a varíola pode se espalhar quando há contato próximo com as lesões de alguém infectado, e parece que o contato sexual agora amplificou essa transmissão”, disse Heymann.

Um relatório do governo alemão para parlamentares, obtido pela AP, aponta que espera ver mais casos e que o risco de pegar varíola “parece estar principalmente com contatos sexuais entre homens”.

Os quatro casos confirmados na Alemanha foram associados à exposição em “eventos de festa, incluindo em Gran Canária [uma das Ilhas Canárias na Espanha] e em Berlim, onde ocorreu atividade sexual”, afirmou.

Até o momento, a OMS registrou mais de 90 casos de varíola na Grã-Bretanha, Espanha, Israel, França, Suíça, EUA e Austrália. Na segunda-feira (23), a Dinamarca anunciou seu primeiro caso, Portugal revisou seu total para 37 e a Itália relatou mais uma infecção.

O ministério da saúde de Madri informou que 30 casos foram confirmados na cidade até segunda-feira. O ministro Ruiz Escudero disse que as autoridades estão investigando possíveis ligações entre um recente evento do Orgulho Gay nas Ilhas Canárias, que atraiu cerca de 80.000 pessoas, e casos em uma sauna de Madri.

É possível que se espalhe pelo mundo?

Na sexta-feira passada, Heymann presidiu uma reunião urgente do grupo consultivo da OMS sobre ameaças de doenças infecciosas, para avaliar os surtos em andamento. Ele disse que não há evidências que sugiram que a varíola possa ter se transformado em uma forma mais infecciosa.


(Foto: Centro de Controle de Doenças da Nigéria)

A varíola dos macacos normalmente causa febre, calafrios, erupções cutâneas e lesões no rosto ou genitais. Ela pode ser transmitida através do contato próximo com uma pessoa infectada ou suas roupas ou lençóis, mas a transmissão sexual ainda não foi documentada. 

A maioria das pessoas se recupera da doença dentro de várias semanas sem precisar de hospitalização. As vacinas contra a varíola, uma doença relacionada, também são eficazes na prevenção da varíola e alguns medicamentos antivirais estão sendo desenvolvidos.

Nos últimos anos, a doença foi fatal em até 6% das infecções, mas nenhuma morte foi relatada entre os casos atuais. 

A agência da ONU disse que o surto é “um evento altamente incomum” e disse que o fato de casos estarem sendo vistos em tantos países diferentes sugere que a doença pode estar se espalhando silenciosamente há algum tempo. 

O diretor da agência na Europa alertou que, à medida que o verão começa em todo o continente, aglomerações, festivais e festas podem acelerar a propagação da varíola.

Autoridades do Reino Unido disseram que “uma proporção notável” dos casos na Grã-Bretanha e na Europa ocorreu em homens jovens sem histórico de viagens à África e que são gays, bissexuais ou fazem sexo com homens. 

Autoridades em Portugal e Espanha também disseram que seus casos ocorreram em homens que fizeram sexo com outros homens e cujas infecções foram detectadas quando procuraram ajuda para lesões em clínicas de saúde sexual.

Heymann, que também é professor de doenças infecciosas na Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, enfatizou que é improvável que a doença desencadeie uma transmissão generalizada.

“Isso não é Covid”, esclareceu. “Precisamos desacelerar a doença, mas ela não se espalha no ar e temos vacinas para protegê-la.” 

Até o momento, não há notificação de casos suspeitos da doença no Brasil, informou o Ministério da Saúde.

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