Nos Estados Unidos, o nascimento inesperado de um menino que passou toda a gestação escondido atrás de um tumor de 10 quilos no útero da mãe, está chamando a atenção dos médicos, que reconheceram o caso como um “milagre”.
Suze Lopez, da Califórnia, havia sido internada para a retirada de um tumor no ovário quando exames de rotina, realizados antes da cirurgia, revelaram uma gravidez em estágio avançado.
"Devido ao grande cisto ovariano que vinha crescendo há anos, poderia ter sido um falso positivo, até mesmo um câncer de ovário", disse Suze em um comunicado à imprensa.
"Eu estava acostumada a menstruações muito irregulares e um desconforto abdominal. Não conseguia acreditar que, depois de 17 anos orando e tentando engravidar do segundo filho, eu estava realmente grávida", acrescentou.
Três dias depois de descobrir que estava grávida, Suze compartilhou a notícia com o marido, Andrew Lopez.
‘Estou grávida’
Andrew ficou animado e achou que a esposa estava com dois a três meses de gestação. No entanto, durante uma viagem, a enfermeira de 41 anos começou a sentir dores abdominais e eles foram encaminhados para o Cedars-Sinai.
No hospital, uma equipe de médicos e enfermeiros, sob a supervisão do Dr. John Ozimek, diretor médico de Obstetrícia e Parto da instituição, atuou para estabilizar a pressão arterial da paciente e solicitou exames como ressonância magnética, exame de sangue e ultrassonografia.
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Suze estava com um tumor de 10 quilos no ovário quando descobriu a gravidez. (Foto: Reprodução/Cedars Sinai)
Então, ao avaliar os resultados, Ozimek se surpreendeu ao identificar uma condição extremamente rara: uma gravidez ectópica abdominal.
"Suze estava grávida, mas seu útero estava vazio e um enorme cisto ovariano benigno, pesando mais de 9 quilos, ocupava muito espaço", explicou Ozimek.
E continuou: "Então descobrimos um bebê perto do fim da gestação, do sexo masculino, em um pequeno espaço no abdômen, perto do fígado, com as nádegas apoiadas no útero. Uma gravidez tão distante do útero que continua a se desenvolver é quase inédita".
Nesse momento, Andrew afirmou: “Foi um choque, porque inicialmente pensei que ela estivesse grávida de dois ou três meses, e descobri que estava com 41 semanas".
Caso raro
O médico explicou que, à medida que o bebê crescia dentro do abdômen de Suze, atrás da massa, ele empurrava o cisto, que era muito grande, para a frente.
"Faz sentido que ela simplesmente pensasse que o tumor estava crescendo novamente, e não que ela pudesse estar grávida", observou Ozimek.
Na gravidez ectópica abdominal, o óvulo fertilizado se fixa fora do útero, geralmente em órgãos vitais ou próximos a grandes vasos sanguíneos. A placenta não consegue se desenvolver de forma segura, o que eleva drasticamente o risco de hemorragia materna grave e de morte do feto.
Segundo o Cedars-Sinai, a sobrevivência do bebê é extremamente rara e, quando ocorre, costuma estar associada a complicações severas.
"Foi impressionante ver esse bebê prestes a nascer, localizado atrás de um tumor ovariano muito grande, e não dentro do útero. Em toda a minha carreira, nunca ouvi falar de um caso em que a gravidez tenha chegado tão longe", disse o oncologista ginecológico Michael Manuel.
O doutor foi designado para remover o tumor e estava entre os 30 especialistas, incluindo especialistas em medicina materno-fetal, oncologistas ginecológicos, enfermeiras, anestesiologistas e outros especialistas, que auxiliaram no parto do bebê.
"Tivemos que descobrir como realizar o parto do bebê com a placenta e seus vasos sanguíneos ainda presos no abdômen, remover a enorme massa ovariana e fazer tudo o que fosse possível para salvar a mãe e a criança", explicou Manuel.
O parto foi difícil, porém a equipe altamente especializada conseguiu retirar o cisto e, em seguida, realizar o parto do bebê.
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Ryu. (Foto: Reprodução/Cedars Sinai)
‘Presente de Deus’
O menino, chamado de Ryu, pesava 3,6 kg e teve pouquíssimas complicações de saúde.
Já a mãe, apesar do surgimento de uma intercorrência durante o procedimento, os especialistas agiram rapidamente e conseguiram estabilizar Suze.
Enquanto Ryu "desafiava as probabilidades" na UTI neonatal, sua mãe "se concentrava em se recuperar rapidamente".
Os pais escolheram para ele o nome do meio Jesse, que significa “presente de Deus”.
"Ele é o nosso presente. Milagres acontecem, e ele definitivamente foi um milagre para nós", disse o pai em entrevista ao programa Good Morning America.
Após passar 20 anos tentando engravidar, Suze testemunha que seu segundo filho é um "milagre".
"Aprecio cada pequena coisa. Tudo. Cada dia é uma dádiva, e eu nunca vou desperdiçá-lo. Deus me deu este bebê para que ele pudesse ser um exemplo para o mundo de que Deus existe – de que milagres acontecem", concluiu.