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Apoio dos pais faz nota subir

Apoio dos pais faz nota subir

Atualizado: Segunda-feira, 19 Novembro de 2012 as 8:53

 

Embora não exista uma solução única e eficaz para o desafio dos países de atingirem e manterem um nível de educação considerado de qualidade, alguns elementos são essenciais para promover oportunidades iguais de aprendizado para todos alunos. Segundo a especialista espanhola Beatriz Pont, que trabalha na Diretoria de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), um dos mais importantes elementos, principalmente em escolas "desavantajadas" --as que ficam em comunidades vulneráveis social e economicamente--, é a proximidade entre a escola e a família.
 
"Um sistema de educação com expectativas altas tende a cumprir a expectativa. Os pais precisam acreditar. Se você não acredita no potencial do seu filho, ninguém vai acreditar, nem ele", afirmou Beatriz, durante palestra da Fundação Itaú Social na manhã desta quarta-feira (14), em São Paulo. Na ocasião, ela apresentou alguns dados do estudo "Equidade e qualidade em educação: apoiando escolas e alunos mais vulneráveis", publicado neste ano pela OECD.
"Um aluno não pode carregar o peso da pouca educação de seus pais. Todos devem ter a mesma oportunidade de aprender, não importa quem são seus pais e de onde eles vêm", disse.
 
Beatriz citou exemplos como o da Coreia do Sul, que em vinte anos passou de um patamar educacional semelhante ao do Afeganistão para ter todos os seus jovens matriculados no ensino médio. No caso do país asiático, ela explicou que os investimentos nas escolas e nos professores foram significativos --uma revolução educacional dessas só é possível, segundo ela afirmou ao G1, quando o governo adota a educação como prioridade.
 
O Brasil, na opinião da especialista, está na trilha certa. "Os resultados do Pisa [Programa Internacional de Avaliação de Alunos] mostram que o Brasil avançou", disse ela. Porém, políticas públicas que privilegiem a formação de professores de qualidade, principalmente nos que atuam nas escolas com maior desvantagem, devem ser colocadas em prática para que o país continue no caminho correto.
 
Incentivo familiar
A especialista afirma que vários estudos já demonstravam como crianças de famílias com baixa renda acabam tendo ainda menos incentivo para estudar. "Pais com pouco estudo ficam mais distantes da escola, às vezes têm medo de ir à escola, às vezes nem sabem da importância de participar", disse.
 
Por isso, faz parte da gestão escolar sabe como atrair principalmente esses pais, com meios de comunicação alternativos que vão além dos boletins escolares.
Uma das pesquisas da OECD mostram que adolescentes de 15 anos para quem os pais costumavam ler em casa, quando eles eram crianças, têm desempenho escolar melhor que os demais.
Beatriz explica que, se os pais não perguntam sobre a escola, isso mostra aos filhos que eles não dão valor a ela, e é essa a mensagem que eles recebem. "Mesmo pais com pouca educação podem incentivar os filhos a se dedicarem aos estudos."
Os dados da OECD mostram que aproximas os pais da escola é um desafio enfrentado por muitos países, e cada um tenta enfrentá-lo de um jeito. Na Holanda, professores fazem visitas às casas dos alunos e oferecem em suas escolas até cursos de alfabetização para os pais. Na Espanha, os alunos levam para casa a "maleta dos pais", com vídeos e informações sobre a escola e as expectativas quanto aos alunos. Já na Irlanda, a escola institui coordenadores comunitários, que têm a incumbência de fazer a ponte entre a comunidade e o colégio, mantendo os pais próximos dos professores.
 
Custos da má educação
O atraso educacional e a alta evasão escolar custam caro aos países. "As pessoas que não estudam tendem a custar muito mais ao sistema de seguridade social porque não conseguem arrumar emprego. Além disso, o baixo nível educacional limita a inovação para o crescimento econômico, além de deteriorar a coesão social", afirmou. Ela alertou ainda que melhorar a educação das camadas mais ricas não só não resolve a questão como provoca sérios problemas sociais.
 
"Por que não investir esse dinheiro de maneira mais inteligente, garantindo que as crianças aprendam?" Beatriz afirma que é necessário investir na educação infantil, mas também no ensino em todos os níveis, para evitar a evasão e, principalmente o sistema de reprovação dos alunos que não aprenderam o esperado.
 
Em alguns níveis, a taxa de reprovação brasileira chega a 40%, número semelhante ao de Macau, na China, e muito acima de países considerados como exemplos na área.
Ela explica que não adianta barrar o aluno e forçá-lo a repetir o mesmo conteúdo com os mesmos professores. "Quão entediante é isso? A reprovação é um dos motivos para o abandono", afirmou. Segundo ela, avisar os pais do risco de reprovação quando ela já é iminente não resolve, porque é preciso preencher as lacunas durante o ano letivo para garantir que o aluno aprenda. "O professor que diz que o aluno não tem capacidade de aprender deveria pensar se não foi ele que não soube ensinar."
 

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