Priscilla Borges
Programa de Avaliação Seriada sugere, além de clássicos da música, literatura, artes visuais e teatro, que escolas trabalhem com estudantes obras contemporâneas e populares
Músicas como “Camaro Amarelo”, de Munhoz e Mariano, e “Cuitelinho”, interpretada por Pena Branca e Xavantinho, farão parte dos conteúdos exigidos para quem participar do Programa de Avaliação Seriada (PAS) da Universidade de Brasília (UnB).
A UnB pretende, com a diversidade de obras sugeridas para as escolas trabalharem, provocar nos jovens reflexões sobre passado e futuro, apresentar a eles diferentes pontos de vista sobre a cultura brasileira e, em última instância, formar jovens mais tolerantes.
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Apresentação de Pena Branca cantando Cuitelinho na TV Cultura em 2008:
Marcelo Afonso de Oliveira, professor e coordenador de história do colégio Leonardo da Vinci, acha que a diversidade de temas e obras torna o aprendizado mais interessante e rico, apesar de admitir que é mais complexo. Para ele, o maior problema é que, muitas vezes, a escolha das obras não é feita de modo que se encaixem com o conteúdo trabalhado em cada série.
<p class="\"" \"="">“A leitura não deve ser só textual. Deve ser visual, teatral, musical, da sociedade. As obras são códigos diferentes de linguagem que tornam o processo mais rico. Os estudantes ganham uma visão de mundo com múltiplas dimensões. A dificuldade é que há obras que não se encaixam com o conteúdo da etapa”, diz.
Oliveira diz que se surpreendeu com a escolha de “Camaro Amarelo”. Ao mesmo tempo, vê a possibilidade de os alunos perceberem como a produção cultural reflete, por exemplo, os valores atuais. “A música sertaneja de hoje reflete ambições muito diferentes da do passado, como a Cuitelinho. Esse contraditório é interessante para falar de questões sociais”, afirma.
O professor de História aprovou, especialmente, a troca do livro “O Discurso da servidão voluntária”, de La Boettie, por “O Príncipe”, de Maquiavel. A “Apologia de Sócrates” também foi incluída entre as obras de referência, assim como textos de divulgação científica.
“A mudança é natural, esperada e positiva. A inclusão de textos científicos vai contribuir muito para a formação do aluno como leitor, porque é um gênero novo”, comenta Eli Guimarães, professor de redação e de Língua Portuguesa do Centro Educacional Sigma.
Camila Osiro, professora de literatura do colégio Galois, comemorou as mudanças feitas nos livros de literatura. “Cartas Chilenas” deu lugar à “Marília de Dirceu”, de Tomás Antonio Gonzaga, e “A alma encantadora das ruas”, de João do Rio, cedeu espaço à “Seleção de poemas de Gregório de Matos”.
“Fiquei muito satisfeita, porque finalmente os livros estão coerentes com a matéria que os alunos veem no 1º ano. Nossas reclamações eram constantes, mas a UnB resistia em mudar”, avalia.
Críticas
A lista de obras reúne também esculturas, quadros e fotografias. Este ano, nove obras visuais foram excluídas dessa etapa. Mas o Teatro Nacional de Brasília, de Oscar Niemeyer; a Capela Nossa Senhora do Rosário, de Vence, na França; a Igreja Nossa Senhora de Fátima de Brasília, decorada com azulejos de Athos Bulcão; trabalhos de Bruno Giorgi e de mestre Didi permaneceram. Vik Muniz e Albert Van Eckhout foram incluídos.
Para Claudio Ferreira, professor de Artes Visuais do Galois, criticou o grande corte de obras, que não foram substituídas. “Achei decepcionante. O conteúdo de artes visuais poderia ser mais explorado. Além disso, artistas como Vik Muniz são muito utilizados nos três anos, enquanto tantos outros ficam de fora”, reclama.
De acordo com o consultor do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), as mudanças tentaram promover um equilíbrio na “proporção de obras verbais e não-verbais”. “O grupo de professores avaliou que havia uma sugestão excessiva de obras não-verbais”, diz. Os professores das escolas da rede pública e da rede privada são ouvidos antes de as mudanças serem feitas.
Em 2012, eles puderam sugerir a exclusão ou inclusão de obras entre agosto e outubro. O da UnB, responsável pelas provas, quer antecipar esse período para a revisão dos objetos da segunda etapa. Segundo Basali, o objetivo é abrir o período de sugestões em abril, para apresentar a revisão das obras da 2ª etapa no segundo semestre, para as escolas terem mais tempo de preparação das aulas.
“Mas é importante lembrar que o programa não é para servir como currículo. Ele apenas busca promover o trabalho de interdisciplinaridade e contextualização dos temas. Faz parte de um esforço em aproximar a teoria da realidade dos estudantes, ampliando o repertório cultural e intelectual deles”, afirma.