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Superdotada diz como foi sua experiência em Harvard: "Foi bem difícil"

Superdotada diz como foi sua experiência em Harvard: "Foi bem difícil"

Atualizado: Segunda-feira, 25 Novembro de 2013 as 6

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Aos 16 anos de idade e sem ter concluído o ensino médio, a adolescente Letícia Mattos da Silva, de Porto Alegre, já conseguiu realizar o sonho de muitos brasileiros: estudar na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas do mundo.
 
Entre julho e agosto deste ano, a jovem cursou três disciplinas na instituição: astronomia, matemática e topologia. “Foi bem difícil, principalmente as aulas de matemática, porque era uma matéria muito específica e de um nível muito avançado. Normalmente, aqui no Brasil, eles dão isso no mestrado, às vezes no doutorado. Mas no final acho que acabei aproveitando bastante”, conta a estudante.
Letícia é o que os especialistas chamam de superdotados, pessoas que possuem habilidades especiais ou inteligência acima da média, como mostra a reportagem do Teledomingo, da RBS TV (veja o vídeo abaixo). A condição dela foi diagnosticada antes dos cinco anos de idade, quando foi submetida a um teste de QI (quociente de inteligência). Desde então, ela tem evoluído cada vez mais e encontrado muitas dificuldades em um ambiente escolar nem sempre preparado para reconhecer e lidar com esse tipo de aluno.
 
Não existem pesquisas oficiais sobre o número de superdotados no Brasil. A última foi feita no Rio Grande do Sul em 2001 pela pela Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades/Superdotação (AGAAHSD), que encontrou um índice de 7,78%. Isso significa cerca de 200 mil alunos na educação básica do estado, ou seja, entre dois e três por sala de aula. A estimativa do Conselho Brasileiro para Superdotação é de que entre 3,5% a 5% dos brasileiros sejam superdotados.
 
Muitos deles acabam passando despercebidos por pais e professores. Não foi o caso de Letícia. A capacidade dela de assimilar conteúdos na sala de aula sempre foi acima da média dos demais. Na 1ª série, ela já sabia ler, mas os pais decidiram que ela não adiantaria um ano para conviver com crianças da mesma idade. Foi uma decisão pensada com foco no desenvolvimento psicoemocional da criança, seguindo a recomendação de especialistas.
Com o passar do tempo, no entanto, ela começou a se sentir cada vez mais diferente. “Normalmente, eu falava coisas que os meus colegas não falavam muito no dia a dia, palavras diferentes, que meus pais usavam e meus colegas não. Ou eu lia livros que tinham mais palavras do que eles, que na época liam algo com mais desenhos. E normalmente eu aprendia mais rápido no colégio, com mais facilidade”, lembra Letícia.
Quando a estudante entrou no Ensino Médio, a distância entre ela e os outros alunos ficou ainda maior. Da mesma fora, aumentaram os problemas. “Acho que muitos professores não gostavam de mim, porque, muitas vezes, quando eles faziam algo errado, os colegas ficavam quietos, e eu corrigia. Quando eu acabava as minhas lições, eu sempre queria mais, fazia mais, e acho que isso irritava um pouco eles”, conta.
A jovem explica que nunca teve problemas por gostar de estudar, mas já sofreu por não ser compreendida. Para ela, faltam informações e capacitação entre professores e educadores para lidar com estudantes mais avançados. Os próprios pais de Letícia muitas vezes ficavam sem as repostas certas sobre como proceder. “Eu não teria sofrido tanto com algumas questões se as pessoas conhecessem mais sobre o assunto, procurassem entender um pouco melhor além do senso comum”, desabafa. 
 
Ela mudou de colégio e conseguiu pular do 1º ano do Ensino Médio diretamente para o 2º ano. “Uma matéria que a professora vai levar um mês para ensinar, eu aprendo em uma semana”, garante a jovem, que prefere ficar em casa lendo sobre astronomia ou matemática em vez de ir a festas. Ela diz que até já fez alguns esportes, mas nunca encontrou um exercício que realmente interessasse. A sua paixão é os livros.
No final de 2012, quando estava com 15 anos, Letícia passou no vestibular de física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mas por não ter concluído o Ensino Médio foi proibida de se matricular. Frustrada com a negativa e com vontade de ter uma experiência universitária antes de terminar o colégio, ela foi aceita em Harvard para cursar disciplinas avulsas. Resultado: foi aprovada nas três com conceitos A e B. “Se eu voltar pra lá, já tenho oito créditos universitários”, comemora.
 

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