Em uma semana em que seu estado emocional foi mais comentado do que o futebol irregular nesta Copa do Mundo, a Seleção enxuga as lágrimas derramadas após a sofrida vitória contra o Chile para quebrar uma barreira incômoda: a das quartas de final, fase em que parou nas últimas duas edições do Mundial. A adversária da partida das 17h (de Brasília), no Estádio Castelão, será a Colômbia, seleção sem grande tradição em Copas, mas que tem apresentado um futebol mais seguro do que o Brasil.
O balanço após a vitória nos pênaltis sobre os chilenos aponta que os donos da casa precisam colocar os nervos do lugar e melhorar o futebol. A semana de intervalo entre os jogos ficou marcada por turbulências na Granja Comary, com Felipão chamando seis jornalistas para um conversa em que admitiu ser necessária uma atenção ao lado emocional do time. No mesmo dia a psicóloga Regina Brandão chegou à concentração brasileira para dar continuidade ao seu trabalho.
A preocupação teve como origem a choradeira de jogadores durante a disputa de pênaltis. Júlio César caiu em lágrimas antes mesmo das cobranças, Neymar e David Luiz também não seguraram a emoção, e o capitão Thiago Silva se isolou dos companheiros e chorou copiosamente, atitude que provocou acalorados debates sobre a sua capacidade de liderança.
“Quando essas coisas são ditas, tem de olhar para o lado. O comandante (Felipão) está aqui e ele nunca me contestou com a atitude. Ninguém me conhece, não sabe como sou. Não tem de ligar para o que as pessoas falam. Tenho caráter dessa maneira. Sou emotivo, é a coisa mais natural do ser humano a emoção. Vejo pelo lado que não me atrapalha em campo. As pessoas estão falando um pouco de bobagem, para mim não atrapalha nada”, desabafou o zagueiro.
A discussão dos problemas emocionais em parte abafou o futebol inseguro do Brasil no torneio. O empate contra o Chile deixou dúvidas quanto às alternativas de jogo do Brasil. Fred pouco tocou na bola, a marcação nas laterais mais uma vez mostrou falhas e a criação em muitos momentos se limitou a ligações diretas, com Oscar sumido e Neymar bem marcado.
A opção só deve ser utilizada em eventualidades, assim como as escalações de Maicon e Ramires nos lugares de Daniel Alves e Hulk, também testadas. “Dependendo do andamento do jogo e do resultado no momento, é uma situação que podemos fazer, já que o Henrique tem essa habilidade para a posição. A princípio é uma opção”, disse Felipão.
Do outro lado o Brasil encontrará uma seleção com uma campanha até o momento perfeita, com quatro vitórias, 11 gols marcados e um estilo de jogo definido. Artilheiro com cinco, James Rodríguez para muitos é o melhor jogador da Copa. Seu companheiro Juan Cuadrado lidera a tabela de assistências com quatro.
Para o zagueiro Thiago Silva o espírito ofensivo do adversário pode ser uma vantagem para o Brasil. “Essa equipe que vem pra cima e joga é melhor. A Colômbia é diferenciada por esse aspecto. Isso ajuda teoricamente a nossa equipe porque fica mais aberto. Teoricamente podemos ter controle do jogo. É melhor jogar de igual pra igual. Podemos ter espaço para jogar”, disse.
De fato a Colômbia deve manter o sistema de jogo para enfrentar o Brasil. O técnico José Pekerman fechou todos os treinos da semana, mas a única dúvida está entre as escalações do meia Ibarbo ou do atacante Jackson Martinez. Esta foi a única variação promovida pelo treinador no time titular da primeira fase para as oitavas.
Os colombianos encaram a partida como a mais importante da história do futebol no país. Esta é a primeira vez que eles chegam às quartas de final, fase que tem virado tormento para o Brasil. O país-sede perdeu para França e Holanda nas últimas duas edições e, em caso de derrota, igualará sua pior sequência longe das semifinais, construída entre 1982 a 1990.
Diferente da outra vez que jogou e Fortaleza, quando os mexicanos fizeram muito mais barulho no Castelão, a expectativa é de que a torcida brasileira se sobressaia. A estimativa da secretaria local é de apenas 2 mil ingressos nas mãos de colombianos, número que deve aumentar um pouco com revendas. A torcida brasileira será formada em grande parte por turistas de passagem por Fortaleza.