Aos 87 anos, Andor Stern - ou André, como prefere ser chamado - relembra o tempo de terror que viveu durante o Holocausto, mais de 70 anos atrás e também como sentiu-se ao ser libertado do cativeiro por soldados norte-americanos, em 1945.
Stern contou que chegou à Hungria com dois anos de idade, quando seu pai (médico) fora transferido para Mumbai, na Índia, em 1930.
"Em vez de voltarmos para o Brasil, ficamos na Hungria. Acabei ficando por lá, no endereço errado em uma péssima ocasião. Quando o Brasil declarou guerra [em 1942, ao Eixo], virei refém. Tinha 14 para 15 anos quando fui preso num campo de concentração pela primeira vez", conta.
"Quando os alemães ocuparam a Hungria, começaram a empacotar gente em vagões de trem e mandar para Auschwitz. Fui parar em Auschwitz, onde cheguei com minha família. Aliás, em Birkenau, onde fui selecionado para o trabalho, porque era um garoto bem desenvolvido, trabalhei pouquíssimo tempo em Auschwitz-Monowitz em uma fábrica de gasolina artificial. De lá, fui parar em Varsóvia, com a finalidade de limpar tijolos, em 1944, fomos levados para recuperar os tijolos inteiros e consertar as estradas que os bombardeios destruíram".
Da família Stern, entre os que moravam no mesmo que André, apenas quatro de 93 pessoas, sobreviveram aos campos de concentração. Ele conta que passou por vários destes locais aterrorizantes.
"Depois de uns três dias, fomos empacotados em vagões, fui parar em Dachau, era um campo de trânsito e castigo, e de extermínio, aí fui distribuído para um lugar perto de Dachau, um lugar que tinha três firmas alemãs que estavam construindo um complexo industrial, construindo foguetes de longa distância para bombardear Londres, aí a gente estava trabalhando carregando cimento, construindo a estrada. Passei por muitos outros lugares, um lugar chamado Mühldorf, fui para Ampfing, e depois fui parar na Bavária", explica.
Entre fatos que faziam parte do dia no campo de concentração, a escassez de alimento (chegando a ter que disputar por migalhas com ratos) e o pesados castigos físicos, aplicados pelos soldados nazistas.
Em 1º de maio de 1945, André é finalmente libertado por soldados dos Estados Unidos.
"Não estava em estado de me sentir inteiro, estava em dúvidas se estava vivo ou no céu, foi quando os americanos me libertaram em 1º de maio de 1945, me deram um banho, jogaram meus trapos no fogo, e botaram um pijama da Cruz Vermelha, aí falei: 'estou no céu'. E ainda por cima me deixaram comer um mingau. Muita gente morreu quando começou a comer tudo que caiu nas mãos. Tinha 28 kg e faltavam 40 dias para eu fazer 17 anos", relembra o sobrevivente.
Hoje André está casado (há 60 anos) e é pai de cinco filhos (com direito a netos e bisnetos). Ele ainda conta que não guarda mágoas do tempo em que foi prisioneiro do regime nazista.
"Fui separado da minha família e nunca mais os vi. Quando dou palestras, falo muito mais da vida do que dos meus sofrimentos. Falo sobre o valor da liberdade. Minhas melhores lembranças são todos os dias em que estou livre, estou limpo, em que posso trabalhar e ainda estou inteiro. Valorizo muito, muito a vida. E a vida foi muito generosa comigo. Conheço bem os dois lados da vida: o bem e o mal", diz.
Auschwitz
Nesta terça-feira, 27/01, o fim do Holocausto completa 70 anos, tendo como símbolo a queda do maior campo de concentração nazista, montado durante a Segunda Guerra Mundial: Ausc.hwitz-Birkenau
O campo foi construído em 1940, para manter prisioneiros poloneses. Já em 1942, era o maior dos campos de extermínio de judeus da Europa.
"O 70º aniversário não será o mesmo dos outros grandes aniversários. Temos que dizer claramente: será o último aniversário que podemos comemorar com um numeroso grupo de sobreviventes", disse o diretor do memorial de Auschwitz Piotr M.A. Cywi?ski. Desde 1947, o local funciona como um museu, graças ao apoio de ex-prisioneiros.
Além de Auschwitz outras cidades do mundo, como Miami, Nova York, Dallas, Berlim e, logicamente Jerusalém também contam com uma exposição permanente de materiais históricos, relembrando o Holocausto.
Confira no álbum abaixo, algumas imagens do Museu do Holocausto, em Miami (EUA):
Quando foi retirado do cativeiro por soldados norte-americanos, Andor Stern estava com 16 anos e pesando apenas 28 quilos. 70 anos depois, o paulistano ministra palestras e fala sobre o valor da liberdade.
Andor Stern
Esculturas fazem menção às vítimas que morriam nos campos de concentração. (Foto: Marcos Corrêa)
Lista de nomes das vítimas do Holocausto. Fileiras de palavras parecem infindáveis. (Foto: Marcos Corrêa)
Antes de adentrar a um dos corredores de acesso à “Escultura do Amor e da Angústia”, a Estrela de Davi chama a atenção dos visitantes, iluminada pela luz do sol, logo acima. (Foto: Marcos Corrêa)
A tranquilade do lago em torno da “Escultura do Amor e da Angústia” constrasta com a representação de desespero do monumento. (Foto: Marcos Corrêa)
Inscrição traz a simples, porém marcante frase: "Milhões de Judeus, vítimas do Holocausto" (Foto: Marcos Corrêa)
Inscrição traz a simples, porém marcante frase: "Milhões de Judeus, vítimas do Holocausto" (Foto: Marcos Corrêa)
Inscrição traz a simples, porém marcante frase: "Milhões de Judeus, vítimas do Holocausto" (Foto: Marcos Corrêa)
Considerada o ponto central do Museu do Holocausto, em Miami, a “Escultura do Amor e da Angústia” faz menção ao tormento e desespero daqueles que foram perseguidos pelos nazistas. (Foto: Marcos Corrêa)
"Ideais, sonhos e esperanças permanecem dentro de nós, sendo esmagados pela dura realidade" - Frase retirada do livro "O Diário de Anne Frank". (Foto: Marcos Corrêa)
Escultura representa o sofrimento de uma criança desamparada nos campos de concentração da época. (Foto: Marcos Corrêa)