A presidente Dilma Rousseff informou nesta sexta-feira (20), durante cerimônia de entrega das credenciais dos embaixadores de cinco países, que o governo brasileiro decidiu adiar o início da atuação do embaixador da Indonésia em Brasília, Toto Riyanto, em razão do estremecimento nas relações entre os dois países. Em janeiro, a execução do brasileiro Marco Archer por parte do governo indonésio gerou um mal-estar diplomático entre Brasília e Jacarta.
O recebimento das credenciais dos embaixadores pelo presidente da República é uma formalidade que marca oficialmente o começo das atividades dos diplomatas. Na prática, com o ato, o presidente passa a reconhecer que o embaixador representa o Estado no Brasil.
Na solenidade desta sexta, era para o diplomata indonésio ter entregado suas credenciais à Presidência, habitando-a a atuar no país. Porém, o governo brasileiro optou por postergar o ato, o que deixa a Indonésia, temporariamente, sem embaixador no Brasil.
Segundo o G1 apurou, o diplomata indonésio chegou a ir na manhã desta sexta ao Palácio do Planalto para participar da cerimônia. Porém, antes do início evento, ele foi chamado para uma conversa reservada e avisado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, da decisão da presidente Dilma de adiar o recebimento das credenciais.
A presidente, entretanto, recebeu as credenciais de diplomatas de cinco países: Edwin Emílio Vergada Cárdenas (Panamá), Maria Lourdes Urbaneja Durant (Venezuela), Diana Marcela Vanegas Hernández (El Salvador), Amadou Habibou Ndiaye (Senegal) e Nikolaos Tsamados (Grécia).
A própria Dilma explicou, ao final da cerimônia, o motivo de ela ter decidido “atrasar” o recebimento da documentação do embaixador do país da Oceania. Segundo Dilma, antes de autorizar a atuação do diplomata, ela quer ter clareza sobre a situação das relações diplomáticas entre as duas nações.
“Achamos importante que haja uma evolução na situação para que a gente tenha clareza em que condições estão as relações da Indonésia com o Brasil. Na verdade, o que fizemos foi atrasar um pouco o recebimento de credenciais, nada mais que isso”, ressaltou a presidente.
Crise diplomática
No mesmo dia em que o brasileiro Marco Archer foi executado, Dilma divulgou nota oficial na qual se disse "consternada e indignada"com a decisão do governo da Indonésia e anunciou que havia decidido chamar o embaixador brasileiro em Jacarta para "consultas". Na linguagem diplomática, chamar um embaixador para consultas representa uma espécie de agravo ao país no qual está o embaixador.
Um dia antes da execução de Marco Archer, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, disse que o fato de o governo indonésio não aceitar os pedidos de clemência criaria “sombra” nas relações diplomáticas entre os países. Dilma havia apelado pessoalmente ao colega da Indonésia para tentar evitar a execução.
Atualmente, o governo brasileiro está empenhado em tentar livrar outro brasileiro da pena de morte na Indonésia. Preso na Indonésia por tráfico de drogas, Rodrigo Gularte também pode vir a ser fuzilado pelas autoridades indonésias.
Em janeiro, Marco Aurélio Garcia disse ainda ter "esperança” de evitar a execução de Gularte. “A preocupação do governo brasileiro, já que não conseguimos ser exitosos na questão do primeiro executado, é que tenhamos pelo menos possibilidade de resolver esse caso [de Rodrigo Gularte] […] A esperança é sempre a última que morre. Então vamos trabalhar nessa direção”, ponderou o assessor especial da Presidência.
Prefeito de Caracas
Ao final da solenidade, Dilma foi questionada sobre se houve algum tipo de “constrangimento” entre ela e a embaixadora da Venezuela, Maria Lourdes Urbaneja Durant, em razão da prisão, nesta quinta (19), do prefeito de Caracas, Antônio Ledezma. Na resposta, a presidente foi taxativa, dizendo que não houve constragimento.
Ledezma foi preso sob a acusação por parte do governo do presidente Nicolás Maduro de tentar promover um golpe de Estado na Venezuela e agir em parceria com os Estados Unidos. A chefe do Executivo classificou a prisão de Ledezma de “questão interna” da Venezuela.
“Eu não posso receber um embaixador baseada nas questões internas do país. Eu recebo os embaixadores baseada nas relações que eles estabelecem com o Brasil. Então, o nosso foco é, fundamentalmente, essas relações. E é isso que explica o fato de a gente ter postergado o recebimento das credenciais da Indonésia. [A morte de Marco Archer] não é nenhuma questão interna na Indonésia”, argumentou Dilma.