Trinta e quatro detidos na manifestação ocorrida na noite de segunda-feira (28), na região do Jaçanã, na Zona Norte de São Paulo, seguem detidos no 39º Distrito Policial, na Vila Gustavo, na manhã desta terça-feira (29). Ao menos seis ônibus e três caminhões foram incendiados na rodovia ou em ruas próximas.
Até as 7h20, 31 pessoas das 34 já haviam sido ouvidas pelo delegado no início da manhã desta terça-feira, como informou o Bom Dia São Paulo. Segundo o delegado, todos eles negaram participação em depredações e, por falta de provas, devem ser liberados. A maioria dos detidos, segundo a polícia, tem passagem por roubo, furto ou tráfico de drogas. Um deles é um adolescente de 15 anos.
Na noite de segunda, a Polícia Militar informou que cerca de 90 pessoas foram detidas por suspeita de vandalismo no protesto que bloqueou a Rodovia Fernão Dias. Procurada pelo G1, a Polícia Militar afirmou que as outras 56 pessoas não chegaram ser encaminhadas para delegacias.
A Polícia Militar afirmou que entre os detidos estavam algumas pessoas armadas. Durante o protesto, de acordo com a corporação, uma pessoa que saqueava uma loja deu um disparo que atingiu um pedestre. O ferido foi levado para Pronto-Socorro São Luiz Gonzaga, na região do Jaçanã, onde passou por uma cirurgia.
O tumulto começou depois do enterro do estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, que foi morto com um tiro no peito durante uma abordagem policial, na tarde de domingo (27). O policial militar, que alega que o disparo foi acidental, foi autuado em flagrante por homicídio culposo (quando não há a intenção). Ele foi detido por determinação da corporação. No domingo, moradores já haviam feito um protesto na região.
Pelo microblog Twitter, o governador Geraldo Alckmin criticou o protesto. "A comoção legítima da família não pode ser usada por vândalos como pretexto para depredação", disse em sua conta. O governador também lamentou a morte de Douglas e disse que o "soldado responsável pelo disparo já está preso e foi indiciado por homicídio".
Protesto
Nesta segunda, os atos de vandalismo se concentraram na Rodovia Fernão Dias. Caminhões foram saqueados e incendiados. Além do ônibus que ficou destruído, um ônibus de turismo foi parado e teve bancos queimados. Ninguém ficou ferido.
Grupos também protestaram em ruas da Zona Norte. Lixeiras foram danificadas e objetos foram incendiados em vias da região, como a Avenida Edu Chaves. Com medo de saques, comerciantes fecharam as portas mais cedo nas imediações da Vila Medeiros.
As manifestações se intensificaram no fim da tarde, após o enterro do estudante. Depois de o grupo ter ateado fogo aos primeiros caminhões, a Polícia Militar chegou ao km 86 da Fernão, onde os manifestantes se concentravam.
Por volta das 19h20, um grupo de manifestantes dirigiu um caminhão-tanque pela rodovia, conforme mostrou o SPTV. A PM chegou a usar bombas de efeito moral e afastou os manifestantes do veículo, segundo a GloboNews. O mesmo grupo que tomou o controle do caminhão-tanque também dirigiu um ônibus de turismo.
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, entrou em contato na noite desta segunda-feira com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para articular uma ação integrada nesta região da cidade, já que a Fernão Dias é uma rodovia federal. A Agência Brasil, do governo federal, afirmou que o secretário pediu a presença da Força Nacional. O G1 perguntou à Secretaria sobre qual foi o teor do pedido de Grella a Cardozo.
Segundo a concessionária que administra a rodovia Fernão Dias, a pista sentido São Paulo foi liberada no km 86 por volta das 20h15. Já a pista sentido Belo Horizonte teve os km 90 ao km 86 liberados às 23h30.
Policial detido
O policial militar Luciano Pinheiro, de 31 anos, preso por suspeita de matar Douglas Rodrigues, alega que o tiro que atingiu o estudante foi acidental. O policial militar havia sido "autuado em flagrante delito por homicídio culposo (quando não há a intenção)". Ele foi detido por determinação da corporação.
A família diz que o adolescente passava com o irmão de 12 anos em frente a um bar da Rua Bacurizinho, esquina com a Avenida Mendes da Rocha, quando um policial militar que chegou ao local para averiguar uma denúncia atirou.
Na noite de domingo, o incidente gerou um violento protesto por parte de moradores da Vila Medeiros, que incendiaram três ônibus, atiraram pedras em veículos e destruíram lixeiras e telefones públicos neste domingo.
A Força Tática da PM precisou recorrer a bombas de gás lacrimogêneo e a disparos de balas de borracha para dispersar os manifestantes. Duas agências bancárias da Avenida Roland Garros também foram danificadas, além de um carro da polícia apedrejado.