‘Atenção, senhores passageiros. Próxima parada: Uruguai. Estação final. Desembarque pelo lado esquerdo." Após 30 anos de espera, finalmente os trens chegarão à estação Uruguai do metrô, cuja inauguração está prevista para a segunda quinzena deste mês. Moradores e comerciantes da região da Muda e da Usina contam como a novidade influenciará suas vidas.
O advogado Carlos dos Santos, de 73 anos, morador da Rua Uruguai próximo à Homem de Mello, afirma que aguardou 30 anos pela abertura da estação. Ele se lembra quando, na entrega das estações Afonso Pena, São Francisco Xavier e Saens Peña, em 1982, o então presidente, João Figueiredo, no discurso de inauguração, prometeu que a linha seria estendida até a Rua Uruguai a partir do ano seguinte.
— Não sei por que a ideia não foi para a frente. Acabou caindo no esquecimento — diz, relembrando um fato curioso. — O projeto na época visava à extensão até a esquina da Rua Uruguai com a Conde de Bonfim. A realidade é que ela hoje só foi até a Itacuruçá. Até entendo, pois já havia uma escavação da Saens Peña até ali, chamada de Rabicho da Tijuca, onde os trens eram guardados. Se fosse até a Uruguai seriam gastos mais alguns milhões com escavações e desapropriações. Mas está de ótimo tamanho — diz.
Colecionador de tudo o que remeta ao Rio Antigo e à Tijuca, Santos tem até hoje panfletos, bilhetes e carteiras do metrô daquela época.
— Eu morava na Rua Henry Ford, a poucos metros da Saens Peña. Foram cerca de cinco anos de obras e muitos transtornos. O governo distribuiu panfletos informativos, e bilhetes e carteirinhas para os moradores da região pegarem conduções gratuitamente, como uma maneira de ressarcir os prejuízos causados pelas obras. Aqui não houve isso, mas o transtorno daquela época nem se compara com o atual. A tecnologia e os tempos são outros — relembra.
Os tijucanos da nova geração também sentirão o prazer de ver o nascimento de uma nova estação. É o caso do despachante Paulo Roberto Júnior, morador da Dona Delfina, e do engenheiro Robson Fontinele, que reside na Conde de Bonfim, na esquina com a Marechal Trompowsky, na Muda. Ambos com 27 anos, usam os serviços do metrô diariamente para irem ao trabalho. Eles afirmam que a novidade caiu como uma luva.
— Acho que esse fato é histórico para a cidade e para o bairro, como na inauguração em 1982. Para nós, haverá economia de tempo e dinheiro. Além de mais conforto. Hoje, temos de pegar uma integração até a Saens Peña, o que custa mais caro. O trânsito na Conde de Bonfim está muito ruim. Demoramos quase 15 minutos nesse trajeto. Com a estação, desembarcarei na porta de casa — comemora Júnior.
Já Fontinele andará cerca de 500 metros. Uma desafogo para quem estava caminhando quase dois quilômetros.
— Está ótimo. Saí ganhando. Devido ao tráfego congestionado, tenho feito a pé o trecho entre a Saens Peña e minha casa. Acho que todos os moradores da região da Muda estão contentes com a nova estação Uruguai — diz.
A comerciante Rosa Castro comemora a novidade, mas com um pé atrás. Ela acha que, com o aumento do movimento, sua loja de roupas poderá sair lucrando. Porém, faz um apelo aos órgãos públicos: que deem mais atenção à região.
— Na Saens Peña vejo muitos guardas municipais coibindo o comércio de ambulantes e os trombadinhas. Espero que eles não esqueçam as imediações da Rua Uruguai. Quando o fluxo de pessoas aumenta, é preciso ficar atento para que também não vire uma bagunça — cobra.
Tatuzão dispensado das obras
A quarta estação da Tijuca, assim como disse Carlos Santos no começo da reportagem, foi construída onde era o chamado Rabicho da Tijuca, uma área escavada de cerca de um quilômetro entre a Saens Peña e a Rua Itacuruçá, onde os trens ficavam guardados. Devido a isso, o famoso “tatuzão” não precisou ser usado.
— Sem dúvida, aproveitar o trecho já escavado adiantou e ajudou muito nas obras. Ganhamos tempo e dinheiro — diz Joubert Flores, diretor de engenharia do metrô.
O Rabicho tem dois andares: embaixo ficará a plataforma; na parte superior, onde funcionava um estacionamento para carros, uma área permaneerá como espaço para vagas, coordenado por uma empresa terceirizada que ainda está em processo de licenciamento; e na outra serão construídos 200 metros de mezanino.
O empreendimento, que custou cerca de R$ 260 milhões aos cofres públicos, ocupa área total de sete mil metros quadrados. A plataforma tem 300 metros de extensão. São cinco acessos: um na Rua Dona Delfina, e dois na Itacuruçá e na Conde de Bonfim, próximos à Visconde de Cabo Frio.
Os passageiros utilizarão dez escadas rolantes e seis elevadores (quatro no nível rua/mezanino e dois no nível mezanino/plataforma, sendo estes exclusivos para pessoas com deficiência). Deficientes visuais contarão com piso podotáctil em toda a estação.
— Tivemos uma grande preocupação com a questão da acessibilidade — assegura o diretor de engenharia.
Depois de quase quatro anos de obras (iniciadas no primeiro semestre de 2010), a estação havia sido prometida apenas para dezembro de 2014, mas o trabalho foi intensificado para atender à demanda gerada pela Copa do Mundo, a ser realizada nos meses de junho e julho.
— As obras físicas estão concluídas desde fevereiro. Só estamos fazendo os retoques finais e alguns testes operacionais para enfim entregar a estação à população carioca, principalmente aos tijucanos, que estão ansiosos para essa inauguração — explica Flores.
A nova linha é também uma aliada da sustentabilidade: quando estiver em funcionamento, a estação vai propiciar uma redução de 46% na quilometragem percorrida pelos ônibus de integração (de 132 mil quilômetros/mês para 71 mil quilômetros/mês), gerando uma diminuição na emissão de gás carbônico na região.