Após desocupação de hotel, Centro de São Paulo amanhece tranquila

Reintegração teve ônibus queimado, presos e ferido. Nesta manhã, vias estão liberadas e ônibus circulam normalmente.

fonte: Globo.com

Atualizado: Quarta-feira, 17 Setembro de 2014 as 9:18

Após o intenso conflito entre a Polícia Militar e os invasores de um hotel, o Centro de São Paulo amanhece tranquilo nesta quarta-feira (17). A Avenida São João está liberada e as linhas de ônibus circulam sem restrições, como mostrou o Bom Dia São Paulo.

Na entrada do prédio que abrigou o Hotel Aquarius, que foi ocupado pela Frente de Luta por Moradia há seis meses, foram colocadas barras de ferro para fechar a entrada. Uma base móvel da PM estava na frente do prédio na manhã desta quarta. O prédio tem 190 quartos. Todos estavam ocupados.

A equipe de reportagem do Bom Dia São Paulo entrou no imóvel após a desocupação. Muito lixo ficou por toda parte. Moradores, que deixaram o antigo hotel às pressas, abandonaram roupas e sapatos.

Parte das famílias ficou aglomerada em uma calçada também na região do Centro. “Nossas crianças foram para a escola. Nós precisamos trabalhar”, afirmou uma mulher que deixou o antigo hotel. O grupo reclama que nenhuma assistente social da Prefeitura acompanhou os oficiais de justiça para cadastrá-los em projetos sociais ou oferecer ajuda. A administração municipal disse não ter sido acionada pela justiça, mas que a rede de abrigos e de assistência social está disponível para essas famílias.

Alguns sem-teto foram levados para outro prédio ocupado na Rua Líbero Badaró, que foi invadido há cerca de 20 dias. Esse edifício é muito menor que o antigo hotel. Como o espaço é bem menor, apenas uma fita marca a área separada para cada família.

A reintegração de posse estava prevista para começar nas primeiras horas da manhã desta terça. Porém, houve um impasse com relação ao número de caminhões disponíveis para o transporte dos móveis dos ocupantes. Ela foi a terceira tentativa - agora concluída - de retirar os sem-teto do antigo hotel, ocupado há seis meses por cerca de 200 famílias sem-teto.

Confusão
O tumulto se espalhou por ruas da região e foram vários os atos de vandalismo na terça-feira (16). Um ônibus foi incendiado perto do Theatro Municipal. Estações do Metrô e o comércio fecharam as portas. Houve tentativas de saques. Trinta linhas de ônibus deixaram de circular na região. Ao menos seis pessoas ficaram feridas, segundo a Polícia Militar.

Cerca de 70 pessoas foram levadas, detidas, à delegacia para averiguação. Oito permaneceram presas. Cerca de 850 policiais participaram da operação.

O confronto começou por volta das 8h, em frente ao prédio ocupado. Os sem-teto reagiram à chegada da PM arremessando móveis e outros objetos do alto do prédio. Bombas de gás lacrimogênio e de efeito moral foram usados pela Tropa de Choque para afastar os sem-teto que bloqueavam a Avenida São João.

O coronel da PM Glauco Silva de Carvalho, que comandava a operação, afirmou que o confronto foi iniciado pelos sem-teto, que lançaram objetos das janelas. Para tentar abrir a entrada do hotel, que estava bloqueada com móveis, os policiais usaram um veículo blindado.

Confronto para o Centro
Após a reação da PM, o confronto se espalhou por outras ruas da região central. Na Rua Barão de Itapetininga, nas proximidades da Praça da República, a PM disparou bombas de gás lacrimogênio para dispersar pessoas que tentavam saquear uma loja. O alarme disparou, atraindo a atenção dos agentes que estavam na região.

Um ônibus foi incendiado na Praça Ramos de Azevedo, ao lado do Theatro Municipal, por volta das 10h. As chamas foram controladas pelo Corpo de Bombeiros e ninguém se feriu.

O balanço parcial da PM, divulgado às 13h30, aponta que cinco pessoas foram presas suspeitas de arrombamento de uma loja, outras duas por lesão corporal e uma mulher por atear fogo ao ônibus.

Além dos oito suspeitos presos, cerca de 80 foram levadas para o 3º Distrito Policial de São Paulo para averiguação.

Na operação, quatro policiais militares ficaram feridos, segundo a PM. Um deles fraturou o pé, outro teve queimaduras de segundo grau e dois agentes ferimentos nas pernas por fogos de artifício. Eles foram socorridos ao pronto-socorro da Santa Casa de Misericórdia.

O hospital também confirmou o atendimento de um homem, que já teve alta, e uma mulher com fratura na perna. Ela passou por exames e foi internada.

O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, disse que a Polícia Militar agiu corretamente. Em entrevista concedida nesta noite no Sindicato de Segurança das Empresas Privadas, na Casa Verde, Zona Norte da cidade, Grella afirmou que a PM reagiu a “uma reação violenta por parte dos sem-teto”. “Não houve exagero”, acrescentou.

Com a saída dos últimos caminhões de mudança do prédio, a maioria do efetivo da PM saiu da região. Por precaução, equipes da corporação permaneceriam durante a madrugada. A entrada do edifício foi lacrada.

Liberados após depoimento
O delegado Jacques Ejzenbaum, titular do 3° Distrito Policial, disse por volta das 15h que tinha ouvido 80 pessoas que foram levadas ao DP por policiais militares. Elas foram ouvidas e liberadas. Ainda segundo o delegado, dois homens serão citados em um termo circunstanciado (tipo de registro policial usado em casos de menor potencial ofensivo) por lesão corporal contra dois policiais. Eles também não ficarão presos.

O delegado Jacques Ejzenbaum afirmou que, no 1º Distrito Policial, será registrado o caso de uma jovem presa por suspeita de colocar fogo no ônibus perto do Theatro Municipal e, no 77º Distrito Policial, está o caso de dois detidos por furto durante um arrastão a uma loja no Centro.

Ejzenbaum disse que foi informado por policiais que foram apreendidos 12 coquetéis molotov dentro do prédio da ocupação.

Tentativas de reintegração
Esta foi a terceira vez em que a retirada dos ocupantes foi marcada. Nas outras duas datas -  em julho e em agosto-, os oficiais de Justiça avaliaram que a quantidade de caminhões disponíveis não era suficiente.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou, em nota, que a juíza Maria Fernanda Belli, da 25ª Vara Cível do Foro Central, determinou a reintegração de posse do edifício nesta terça-feira após pedido de seu proprietário, a Aquarius Hotel Limitada. Foram feitas reuniões entre a PM, advogados da empresa proprietária e moradores, para acertar como seria a saída, diz a pasta.

O tenente-coronel da PM Mauro Lopes disse ao G1 que, entre 2h e 6h desta terça-feira, os policiais militares negociaram uma saída pacífica do prédio, mas foram surpreendidos pela resistência dos ocupantes no início da manhã. Lopes afirmou ainda que estavam reservados 40 caminhões para o transporte dos móveis e objetos dos ocupantes por causa da reintegração.

Para o movimento Frente de Luta por Moradia (FLM), a decisão do judiciário vai devolver o prédio "à especulação imobiliária, sem levar em conta o problema social.

"Aproximadamente 800 pessoas, crianças e idosos serão jogados na rua, sem uma solução definitiva", disse o FLM em comunicado. Ainda segundo o movimento, cerca de 200 famílias ocupam o imóvel há seis meses.

A Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) afirma que realizou um estudo de viabilidade para transformar o hotel em moradia popular, mas foi verificado que o projeto não seria viável pelo custo.

Segundo a administração, o valor gasto para revitalizar o prédio com cerca de 100 apartamentos, seria possível construir entre dois e três conjuntos habitacionais. A Prefeitura disponibilizou vagas no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) Sé, na Avenida Tiradentes, para as famílias que se interessarem por acolhimento.

Trânsito parado
A confusão no Centro causou interdição no trânsito em várias vias do entorno. Às 13h, a Avenida São João seguia interditada. O bloqueio acontecia entre o Largo do Paissandu e a Avenida Ipiranga. No mesmo horário, a Rua Xavier de Toledo, junto à Avenida São Luís, a Avenida Rio Branco, próximo à Rua Aurora, e o Viaduto do Chá também apresentavam interrupções no tráfego de veículos.

Mais cedo, a Avenida São João precisou ser totalmente interditada na altura do cruzamento com a Avenida Ipiranga. Por causa da reintegração, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) chegou a emitir um comunicado recomendando aos motoristas a evitarem trafegar pela região durante a manhã.

Segundo a São Paulo Transporte (SPTrans), 30 linhas de ônibus tiveram seus trajetos afetados pelo conflito após o incêndio a um coletivo. Os bloqueios  no Centro resultaram em congestionamentos em outras importantes vias da cidade nesta manhã. De acordo com a CET, a capital paulista chegou a registrar 96 km de ruas e avenidas congestionadas às 10h30. A região central concentrava 28 km desta lentidão. A Avenida Ipiranga foi totalmente liberada apenas às 22h30, quando os últimos caminhões de mudança deixaram a região.

 





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