Um morador de Itu (SP) improvisou e inventou um carro-pipa para ajudar no abastecimento de água dele e de vizinhos. A cidade sofre com a falta de água desde fevereiro e os moradores precisam usar a criatividade para conseguir lavar louça, tomar banho e cozinhar.
O consultor Alexandre Oliveira, adaptou o carro dele colocando uma caixa d´água com capacidade para 400 litros no bagageiro. Com esse carro, ele pega água em uma mina e leva para a casa dele, além de ajudar outras pessoas. “Se alguém está com uma pessoa doente em casa, idoso, ou criança, eu faço um socorro em caso de necessidade”, conta.
As escolas também estão pedindo a colaboração dos pais. Alexandre recebeu um comunicado da escola da filha para que os pais mandem os filhos com garrafinhas cheias de água, porque a água que a escola tem não é suficiente para atender todas as necessidades.
O posto de saúde do bairro Cidade Nova está sendo abastecido um dia sim e outro não, conforme o cronograma de racionamento. Mas como ele fica em uma parte alta da rua, o volume não está sendo suficiente para encher a caixa d´agua. Então a água só é suficiente até as 10h da manhã, depois disso, todos ficam sem água.
Após o protesto por falta d'água, que terminou em tumulto e confronto com a Polícia Militar na tarde de segunda-feira (22), em Itu (SP), o prefeito da cidade, Antônio Tuize, informou nesta terça-feira (23) que não vai decretar estado de calamidade pública no município. O problema da falta d'água na cidade, que enfrenta racionamento desde fevereiro, tem afetado profundamente a vida dos moradores da cidade. Muitos relatam que já chegaram a ficar até 20 dias sem água nas torneiras.
Após o Ministério Público reforçar a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam denunciadas, o órgão já registrou mais de mil ocorrências em menos de uma semana. Em um só dia, 400 reclamações de moradores foram protocoladas e anexadas ao inquérito encaminhado ao Poder Judiciário. Na ação, o MP apresentou uma carta de recomendação ao prefeito para que tome previdências no sentido de tentar amenizar a situação dos reservatórios.
Entenda o caso
Os moradores de Itu enfrentam o drama da falta d'água desde 5 de fevereiro, quando a concessionária Águas de Itu implantou o racionamento na cidade. No início, o rodízio era feito apenas nos bairros mais altos, onde a distribuição de água é mais difícil. Nos meses seguintes, o racionamento foi ampliado pelo menos mais três vezes e atualmente está em vigor na cidade toda.
Em 25 de julho, a promotoria de Justiça do Ministério Público instaurou um inquérito civil para apurar a responsabilidade da prefeitura, da agência reguladora e da Águas de Itu no problema de abastecimento de água.
Outra alternativa à recomendação do MP foi o decreto que permite à prefeitura captar água em represas particulares da região, mediante indenização aos proprietários.
A sequência de problemas no abastecimento culminou no desligamento da empresa Águas de Itu, anunciado em 18 de agosto. O Grupo Águas do Brasil comprou o direito à prestação dos serviços de água e esgoto na cidade. No entanto, a nova empresa, que chamará Águas da República, ainda aguarda a autorização do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para assumir os serviços.O Ministério Público em Itu reforça a importância de que as reclamações sobre a falta d'água na cidade sejam registradas, já que os protocolos serão anexados no inquérito e encaminhados ao Poder Judiciário. O prédio do Ministério Público está localizado na Rua Goiás, 194, no bairro Brasil. Ao lado da Delegacia da Mulher.
Na tarde desta segunda (22), cerca de dois mil moradores se reuniram nas ruas do centro da cidade e caminharam até a Câmara Municipal. Um grupo conseguiu abrir à força o portão e invadiu o local e promoveu um quebra-quebra. Manifestantes atiraram pedras, ovos e tomates no prédio da Câmara. A Tropa de Choque da Polícia Militar foi acionada e usou bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os moradores.
Durante o confronto, um jornalista de 49 anos foi atingido por uma bala de borracha na perna e precisou ser atendido.