O presidente da Sabesp, Jerson Kelman, admitiu em entrevista ao SPTV nesta quarta-feira (14) que “é possível” que o Sistema Cantareira seque em março deste ano. A afirmação foi feita após ele ser questionado sobre uma projeção do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres do Ministério da Tecnologia.
“É possível que sim [seque em março]. Se continuar assim, é possível, por isso que nós estamos fechando. Você tem que ir fechando as torneiras”, disse Kelman, que assumiu a presidência da companhia de abastecimento no dia 9 de janeiro. Ao falar sobre a crise hídrica na cerimônia de posse, ele afirmou que "é preciso estar preparado para o pior".
A projeção da hidróloga Luz Adriana Cuartas, do Centro Nacional de Monitoramento, mostra que, se a chuva for somente 10% da média histórica durante o verão, a água do Cantareira pode se esgotar em março. O cálculo leva em conta o volume de captação atual para o abastecimento.
Caso a chuva mantenha a média de dezembro (74,9% do previsto para o mês), a água pode acabar em junho, segundo a projeção. De 1º de janeiro até esta quarta-feira, as represas do Cantareira registraram 59,6 mm de chuva, o que representa 22% da média histórica do mês, que é de 271,1 mm.
Os meteorologistas não afirmam que as chuvas até o fim do verão ocorrerão acima ou abaixo do esperado, mas explicam que os temporais registrados desde o fim do ano não têm sido suficientes para aumentar o volume dos reservatórios. A chuva que poderia ajudar na recuperação é formada por sistemas frontais (frentes frias) ou por corredores de umidade que saem da Amazônia com sentido à região Sudeste.
Segundo especialistas do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), vinculado à Prefeitura de São Paulo, e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), um bloqueio atmosférico impede que esses sistemas cheguem até o estado de São Paulo e não permitem chuvas mais generalizadas e com tempo maior de duração.
Nível em queda
O Cantareira abastece 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e opera com 6,3% da capacidade nesta quarta-feira, considerando o volume útil e as duas reservas técnicas das represas. No mês de janeiro, o sistema ainda não registrou alta no nível das represas.
Kelman afirmou ainda que ordenou que a retirada de água do Sistema Cantareira diminua ainda mais, para 13 mil litros por segundo. Isso significa uma redução de 60% em relação aos 33 mil litros por segundo que eram retirados antes da crise hídrica.
A redução é paulatina desde março do ano passado, quando a Agência Nacional de Águas (ANA) determinou a redução de 33 mil para 27,9 mil litros por segundo. Na terça-feira (13), a retirada já era de 16 mil litros por segundo, segundo Kelman.
A nova redução deve afetar ainda mais as manobras de diminuição de pressão que já acontecem em toda a Grande São Paulo e fazem com que vários consumidores fiquem sem água, especialmente durante a noite. Kelman disse ainda que a Sabesp tentará informar "com a maior precisão possível" a população sobre os cortes de água.
Racionamento
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), admitiu pela primeira vez nesta quarta-feira que existe racionamento de água. Desde o início da crise hídrica, no começo de 2014, Alckmin jamais havia afirmado que os paulistas passam por racionamento.
A Sabesp também admitiu, pela primeira vez, que toda a Região Metropolitana está com redução de pressão na água. O governo assume o racionamento um dia após a Justiça proibir a cobrança de multa para quem consumir mais do que a média.
Alckmin afirmou que já há um racionamento desde o momento em que a ANA ordenou a diminuição na retirada de água do Sistema Cantareira. Foi no dia 13 de março do ano passado que a vazão captada passou de 33 metros cúbicos por segundo para 27,9 metros cúbicos por segundo, por determinação da ANA.