“Os fotógrafos costumavam fazer imagens apenas do outro, do exótico. Eles não fotografavam suas vidas porque não achavam interessante. Hoje, todo mundo faz fotos das suas vidas”, afirma Pedro Meyer, fotógrafo pioneiro da era digital, em entrevista ao G1. O espanhol, que vive atualmente no México, participou nesta semana da feira de fotografia e imagem Photoimage Brazil, em São Paulo.
Meyer, que desde a década de 1990 realiza projetos - o Zone Zero é um dos primeiros e exposições com fotos digitais no mundo, é usuário do Instagram, ferramenta que diz ser “fantástica”. “Hoje, as imagens mais incríveis estão vindo do Instagram. E quem disse que elas são piores que as feitas por profissionais?”, questiona o fotógrafo de 77 aos, que atualmente está preocupado em registrar momentos do seu cotidiano com câmeras cada vez menores. Para Meyer, as suposições sobre o que é um fotógrafo profissional não fazem mais sentido hoje. “Quando eu era jovem, fotógrafo profissional era alguém capaz de colocar um rolo de filme na câmera e tirar fotos”, diz.
“Hoje, em uma semana, mais fotos são tiradas e publicadas do que em 150 anos de fotografia. O Facebook pagou US$ 1 bilhão pelo Instagram, uma companhia que existia há apenas 18 meses. US$ 1 bilhão é mais dinheiro do que a venda de todas as fotos da história, de todos os museus, de todas as galerias e coleções. Há quatro ou cinco anos, a fotografia era o parente pobre da cultura. Hoje, ela é a vanguarda da cultura”, afirma Meyer. Em novembro de 2011, a foto mais cara do mundo – uma panorâmica do rio Reno, na Alemanha, registrada em 1999 – foi leiloada por US$ 4,3 milhões.
“O mesmo aconteceu com a impressão de Gutenberg. Antes, quem sabia ler e escrever? Ninguém, exceto os monges e os profissionais. Por quê? Porque não havia interesse. Por que temos tantas fotos hoje? Primeiro, porque isso não custa. Segundo, porque publicamos e compartilhamos. De repente, o valor de as pessoas tirarem fotos não significa que todo mundo sabe como fazer as imagens corretamente. O mundo é um espaço analfabeto porque não havia razão para ser alfabetizado na fotografia”, opina Meyer.
Meyer citou um projeto da Sony criado em 2011 que busca ensinar as pessoas a tirar fotos melhores. A iniciativa chamada "Sony Educa” oferece cursos on-line com especialistas do mercado de trabalho que disseminam o conhecimento em fotografia.
“Não é apenas o fato de que uma câmera pode tirar fotos por conta própria. Hoje, temos os melhores equipamentos ao mesmo tempo em que as pessoas adquirem alfabetização. Então, imagina como será o futuro com a questão da fotografia apenas começando?”, diz.
Investimento
Para os usuários sem dinheiro que querem comprar uma câmera digital, Meyer sugere que eles busquem os melhores e mais caros equipamentos para que não precisem se atualizar tão cedo. “Se você não tem muito dinheiro, você tem mais razões para comprar o melhor equipamento. Antes, as pessoas costumavam comprar uma câmera e, 25 anos depois, dar para o filho, que dava para a filha. Hoje, você pode fazer isso em seis meses. Então, ter um equipamento não é mais o problema. A questão é saber usá-lo”, recomenda Meyer, que utilizou duas câmeras compactas para fazer seus últimos trabalhos. Ele conta que, dias atrás, foi a uma loja em busca de lentes leves e perguntou ao vendedor: “quantas vezes você vendeu uma lente pelo peso?”. Hoje, Meyer tem problemas nas costas e não pode carregar equipamentos pesados.
“As pessoas dizem que a melhor câmera é muito cara. O problema é mudar o tempo todo. Há um tempo, eu estava explicando para alguns estudantes: vai a uma loja de departamento e compre uma câmera a crédito. Se você está mesmo interessado em fotografia, invista nas ferramentas que você precisa. E, quando você parar de pagá-la, você provavelmente irá vendê-la e pegar esse dinheiro para comprar a próxima. Isso vai se suceder por um tempo. Ter o equipamento não é o problema. Você deve tê-lo por um tempo. O importante é poder tirar as fotos que você gosta”.