Jovens consumidores estão atentos ao custo qualidade dos produtos

Jovens consumidores estão atentos ao custo qualidade dos produtos

Atualizado: Quarta-feira, 28 Dezembro de 2011 as 12:53

Eles são aficionados por videogames, passam horas no bate-papo virtual com os amigos, vivem tirando fotos com a câmera do celular, cuidam de animais de estimação, vão à praia e ao shopping nos fins de semana como qualquer criança e adolescente com idades entre 10 e 15 anos. Quando o assunto é consumo, porém, eles assumem ares e atitudes de gente grande. Em algumas situações, chegam a superar os adultos, exigindo descontos para pagamento à vista, pesquisando preços e calculando juros de financiamentos.

Nascidos depois do Plano Real - criado no governo Itamar Franco em 1994 pelo então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso - esses jovens crescem num Brasil com inflação sob controle e farto em mercadorias do mundo inteiro.

Para essa nova geração, "domar o monstro" da hiperinflação e aguardar com ansiedade produtos vindos do exterior são desafios, definitivamente, ultrapassados. A busca agora é por produtos de qualidade a preço justo. De preferência, que contribuam com a saúde e a sustentabilidade ambiental.

Eles querem comprar mais pagando menos

Convidamos três representantes desta nova geração de consumidores para uma ida ao supermercado. O que mais atrai a atenção deles? Constatamos a preocupação constante com a relação entre custo e qualidade.

No setor de eletrônicos, Marcelo Paulon, de 15 anos, observa um notebook. Ele tira do bolso da calça jeans o celular, acessa o ícone calculadora e verifica se a oferta anunciada vale realmente a pena. Se fosse comprar, aquela seria, sim, uma boa opção. O consumidor, no entanto, deve evitar algumas "armadilhas" do mercado, especialmente as compras por impulso, ensina o adolescente:

- Você vê num grande cartaz de uma loja um produto em tantas vezes sem juros no cartão de crédito e acaba comprando. As pessoas, em geral, só se preocupam com o valor da prestação. Deixam de observar o custo total do produto.

Aluno do Colégio Padre Antônio Vieira, onde além das matérias tradicionais do Ensino Médio, participou das aulas de matemática financeira, Marcelo acredita que a falta de planejamento é o que está levando muita gente a se tornar um superendividado:

- Pesquisando, até mesmo pela internet, é possível comparar preços de várias lojas, ver as melhores opções de pagamento, o que vai fazer uma grande diferença no final. É essa instrução para a pesquisa que eu acho que falta nas escolas, para a $consciente - diz o jovem, que passou a dar mais importância ao valor dos produtos ao começar a ganhar o próprio dinheiro trabalhando com manutenção de computadores.

Conscientização é a palavra-chave também para Luiza Abreu. A menina, que fará 10 anos no ano que vem, é conhecida por barganhar preços e já administra a mesada usando um cartão de banco. As compras, feitas depois de muita pesquisa, são pagas sempre com a opção de débito:

- Minha mãe coloca o dinheiro no banco e eu compro o que quero. É melhor do que receber em notas. Eu nunca fico sem dinheiro - conta a estudante que, depois de muito questionar em casa, acabou conseguindo receber da família um inu$13 salário de mesada.

Para Thiago Gomes, de 11 anos, a saúde e o meio ambiente são temas muito considerados na hora de acompanhar a família nas compras. No setor de refrigerados, ele observa atentamente as datas de validade de iogurtes e outros itens. No setor de eletrodomésticos, a atenção se volta para os selos de eficiência energética afixados nas portas dos refrigeradores à venda:

- Quando tem a letra "A" significa que o produto gasta menos energia. É esse que as pessoas devem comprar, para gastar menos com a conta de luz.

Professor há quase 30 anos, o engenheiro Paulo Roberto de Campos, que tem especialização em economia, ensina estatística e matemática financeira desde 2006 no co$égio onde Marcelo Paulon estuda. Ele defende a inclusão da educação financeira no currículo regular de todas as escolas:

- O próprio governo está considerando a hipótese de incluir essa matéria nas escolas públicas. Você aprende a lidar com o próprio dinheiro e compara o que está comprando com as horas de trabalho que gastou para saber se vale ou não a pena.

Educação financeira não é tudo, alerta psicóloga

Incentivar crianças e adolescentes a poupar e a evitar os gastos excessivos é válido, mas está longe de ser o ideal para a formação de um consumidor verdadeiramente consciente. A avaliação é da psicóloga Laís Fontenelle, coordenadora de educação e pesquisa do projeto Criança e Consumo do Instituto Alana.

Segundo ela, a educação financeira é um início, mas sozinha não funciona:

- A questão é o consumo excessivo, que gera problemas ambientais, sociais. As crianças de até 12 anos foram elevadas pelo mercado à condição de consumidores. É tudo pensado estrategicamente para elas. Então, muitas dessas crianças sabem comprar, se preocupam com a origem do produto, mas não perguntam 'será que eu preciso disso?' - argumenta.

Na avaliação da pesquisadora, pais e educadores interessados em transmitir conceitos de consumo consciente devem levar em conta aspectos como o acesso das crianças mais novas à publicidade e o próprio comportamento como consumidor:

- De nada adianta a mãe dizer ao filho pequeno que está com pouco dinheiro, entrar numa loja e sair carregando sacolas. É importante não ter um comportamento contraditório ao discurso. As escolas podem incluir no dia a dia atividades alternativas, que resgatem valores mais humanos. Incentivar, por exemplo, o consumo de lanches mais saudáveis.

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