
Pouca gente sabe, mas o sal já foi tão valioso que deu origem à palavra “salário”. Para quem não conhecia essa curiosidade, vale explicar: o termo vem do latim salarium, que significa “pagamento com sal”.
Na Roma Antiga, o sal era considerado um recurso de enorme valor, utilizado tanto na conservação de alimentos quanto como moeda de troca em diversas transações. Sua importância era tamanha que influenciou práticas sociais e econômicas da época.
Embora não haja provas de que soldados romanos eram pagos exclusivamente com sal, o historiador Plínio, o Velho – apelidado de “apóstolo da ciência romana” – registrou que o sal era oferecido como honraria após batalhas bem-sucedidas. Tratava-se de uma forma simbólica de recompensa pelo desempenho militar e pelo êxito nos conflitos.
Com o tempo, o termo passou a representar qualquer tipo de remuneração, assumindo o significado que conhecemos hoje.
Além do valor econômico, o sal também adquiriu um profundo simbolismo espiritual.
A Bíblia contém diversas passagens em que o sal é mencionado. Segundo alguns estudiosos, o livro de Jó teria sido o primeiro escrito das Escrituras, antecedendo cronologicamente o livro de Gênesis. Se essa teoria estiver correta, o sal pode ser considerado um dos elementos mais antigos citados na narrativa bíblica.
Em Jó 6:6, o personagem que dá nome ao livro questiona sobre o sabor dos alimentos sem sal: “Comer-se-á sem sal o que é insípido? Ou haverá sabor na clara do ovo?”
Desde os tempos antigos, é visto como algo puro e permanente, tendo um significado espiritual importante.
No culto judaico, todas as ofertas tinham que ser temperadas com sal, chamado de "sal da aliança de Deus" (Levítico 2:13; Marcos 9:49). As ofertas sagradas destinadas aos sacerdotes também recebiam o nome de "aliança eterna de sal".
Há ainda registros de que Deus deu o reino a Davi através de uma aliança de sal, destacando a durabilidade e a pureza dessa aliança (Números 19:18; 2 Crônicas 13:5).
O sal foi amplamente citado na Bíblia por suas propriedades:
- Preservação: O sal impede a deterioração – uma metáfora para a ação dos cristãos em proteger a verdade e os valores divinos em meio à corrupção do mundo.
- Purificação: Era usado em sacrifícios e rituais, simbolizando pureza e consagração espiritual.
- Aliança: O chamado "pacto de sal" representava durabilidade e compromisso eterno entre Deus e seu povo (veja Números 18:19).
- Valor: Historicamente precioso, o sal remete ao valor da fé e da conduta cristã íntegra.
- Influência: Ao temperar, o sal muda a natureza do alimento – assim como o cristão deve transformar e impactar o ambiente à sua volta.
Jesus chamou seus seguidores de "sal da terra", mostrando que todos nós temos um papel importante em trazer sabor e propósito à vida. Assim como o sal realça o sabor dos alimentos, somos chamados a preservar a verdade, influenciar com sabedoria e cumprir nossa missão.
“Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens” (Mateus 5:13).
Nesse sentido, precisamos fazer algumas reflexões:
- Como cristãos somos o sal que conserva o mundo. Nossa influência tem sido perceptível?
- Se somos o sal da terra, será que estamos deixando um sabor de pureza por onde passamos? O sal não precisa ser visto para ser sentido – assim também deve ser nossa fé: discreta, mas transformadora.
- Nossas palavras e atitudes refletem a aliança com o Rei (Esdras 4:14)? São elas temperadas com sal – marcadas pela santidade, equilíbrio e edificação, como testemunho da nossa fé?
Adriana Bernardo (@adrianammbernardo) é jornalista, escritora e idealizadora do grupo feminino cristão “Amigas de Deus”. Professora de Teologia e Aconselhamento. Casada com Bene Bernardo, é mãe de Raphael, Aline e Guilherme, e avó de Raquel, Daniel e Júlia.
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