MENU

Série Mulher Cristã: Amanda Berry Smith, evangelista internacional de Santidade

Amanda Berry Smith foi evangelista do final do século 19 e início do século 20, missionária e reformadora social.

fonte: Guiame, Caroline Fontes

Atualizado: Quarta-feira, 20 Março de 2024 as 1:38

Amanda Berry Smith. (Foto: Creative Commons)
Amanda Berry Smith. (Foto: Creative Commons)

Amanda Berry Smith nasceu escrava, em Long, Green, Maryland, uma pequena cidade em Baltimare County em 1837. Ela foi evangelista do final do século 19 e início do século 20, missionária e reformadora social. Amanda, foi uma inspiração para milhares de mulheres negras e brancas. Tornou-se uma pregadora metodista e líder no movimento “Wesleyano de Santidade”, pregando a doutrina da inteira santificação em todas as reuniões metodistas campais do mundo.

O pai de Amanda Berry Smith, o sr. Samuel Berry, comprou a liberdade da família, e eles se estabeleceram próximo à York, na Pensilvânia. Sua mãe, Marian Mathews, era dedicada e mesmo com pouca formação ensinou Amanda a ler antes dos oito anos. Seus pais eram condutores de uma das principais estações de Ferrovias Subterrânea, e Amanda que era a mais velha de treze irmãos, herdou um legado de envolvimento social que formaria e influenciaria de forma significativa seu ministério.

Na estrada da conversão, Amanda Berry Smith teve sua primeira experiência religiosa aos trezes anos, marcada pelas restrições raciais e aparentes contradições. Quando ela começou a frequentar uma igreja Metodista Episcopal, nas reuniões de classe, quase inteiramente branca, Amanda foi forçada a ficar até tarde, porque sempre era a última pessoa a ser ensinada. Ao mesmo tempo, os patrões esperavam que Amanda chegasse cedo para cumprir seus deveres de criada e estar disponível para servi-los. Essas expectativas se tornaram conflitantes para Amanda, fazendo com que ela parasse de frequentar as reuniões.

Apesar da pobreza da educação, Amanda cresceu dentro de um lar cheio de oração e ensinamento bíblico. Seu pai mantinha uma prática regular aos domingos pela manhã de reunir a família e ler a Bíblia. Amanda e seus irmãos foram privilegiados por aprenderem, desde cedo, a Palavra de Deus e a ler e escrever.

Em 1854, aos dezessete anos, ela se casou com Calvino Divino. Contudo, o casamento não teve felicidade, porque, embora Calvino tivesse professado a religião “pelo amor de sua mãe”, ele estava sempre bêbado e era abusivo verbalmente. Um dos dois filhos do casal morreu na infância. Calvino se alistou para lutar na guerra civil e nunca mais voltou. Para sustentar ela e a filha, Amanda trabalhou como cozinheira e lavadeira, como empregada de uma viúva com cinco filhos. Embora negra, Amanda Smith assistiu um culto com a viúva na Igreja Metodista Episcopal. Em seguida, ela entregou sua vida a Cristo, e ao serviço da igreja. Em 1856 Amanda se converteu ao evangelho de Cristo.

Após a sua conversão, Amanda Berry Smith se tornou ativa no Movimento de Santidade (Wesllean-Holiness), que pregava a doutrina da inteira santificação, e incentivava a todos os crentes, independente de status, a comunicarem sua fé publicamente. Na Igreja Episcopal Africana Amanda Smith teve contato com a Phoebe Palmer, uma evangelista e escritora que difundiu a doutrina da perfeição cristã, sendo considerada uma das fundadoras do “movimento de santidade” (Wesllean-Holiness) dentro do cristianismo metodista.

Amanda Smith escolheu a oração como modo de vida. Ela decidiu confiar em Deus, para comer, ter sapatos, sustentar sua filha e pagar a liberdade de sua irmã. Ela ficou conhecida por sua bela voz e ensino inspirado, e assim oportunidades para evangelizar no Sul e no Oeste se abriram para ela. Em 1863, Amanda se casou com James Smith, um pregador leigo, vinte anos mais velho que ela. Os dois se mudaram para a Filadélfia e se juntaram à Igreja Metodista Episcopal Africana Bethel – AME da cidade, a igreja mãe da denominação.

Quando eles se casaram, Amanda ansiava servir no ministério ao lado do marido, diácono ordenado da AME, o que indicava que ele chegaria ao pastorado. Contudo, o coração de James mudou, não por nunca ter sido ordenado pastor, mas porque se envolveu em sociedades secretas e encorajou o envolvimento de Amanda de suas auxiliares mulheres. O casamento de Amanda com James teve vida curta, porque Amanda discordava sobre o envolvimento em organizações e isso os separou ainda mais. Eles tiveram três filhos, mas todos morreram cedo. James faleceu em 1869, quando Amanda tinha trinta e dois anos. Ela nunca se casou novamente. A única filha que ficou viva até a idade adulta foi Mazie, mais tarde Amanda adotou duas crianças africanas.

Na odisseia espiritual de Amanda Smith, ela travava uma luta contínua com Satanás sobre o estado de sua alma. No entanto, ela ainda procurava a segunda “bênção” (seria o batismo no Espírito Santo) ou santificação. Amanda experimentou a santificação em uma manhã de domingo sob o ministério de John Inskip, pastor metodista e líder do movimento da Reunião Nacional de Acampamento de Santidade.

Sobre sua experiência com a Plenitude do Espírito, ela disse: “Voltei para casa sentindo mais fome e sede de justiça. Ao convencer-me, porém, da realidade do estado de santidade através do revestimento do Espírito, senti-me plenamente justificada, ou melhor, segura da mediação de Cristo. Não tive mais dúvidas de que era aceita por Deus, de que era uma filha de Deus. Ao converter-me, tive a convicção de culpa e veio o perdão; ao sentir a necessidade de uma ‘vida mais abundante’, veio o revestimento ou a plenitude completa do Espírito Santo de Deus.  Esta segunda bênção veio mesmo como a desejei: do próprio Deus. Lembrei-me das palavras do meu velho instrutor: ‘A santificação é obra do Espírito’. Abri as Escrituras e li: ‘Esta é a vontade do Pai a vossa santificação’. Anteriormente, quando me maltratavam ou me ofendiam e ameaçavam, eu reagia, quando devia entregar tudo a Deus; agora eu tenho a paz completa. Li outra vez: “Esta é a vontade do Pai a vossa santificação”. Desse modo, uma das provas dessa santificação foi a segurança sobre ser aceita por Deus, o que envolvia aceitar a sua própria negritude como um presente de Deus. Veja, Deus não mudou. Da fraqueza, Ele faz o forte.

Amanda Smith iniciou seu ministério com uma reunião de oração de mulheres em seu apartamento. A sabedoria divina se tornou evidente na vida de Amanda, então ela começou a falar em congregações afro-americanas em toda área da cidade de Nova York. Deus transformou sua história, de ex-escrava a evangelista Internacional de Santidade. Ela passou os oito anos seguintes viajando e pregando, principalmente ao longo da costa leste. Em 1878, Amanda viajou para Inglaterra, onde fez amizades com Hannah Whitehall Smith e Mary Broadman, que abriram uma oportunidade para ela participar da Conferência de Keswick para a Promoção da Vida Mais Elevada. De lá ela começou a pregar em todo o Reino Unido. Sendo assim, Amanda se tornou a primeira evangelista negra internacional.

Em 1879, ela foi para Índia, a convite do líder de Santidade, W. B. Osborne, organizador da Reunião de Acampamento Ocean Grove, em Nova York. Ela passou dois anos lá, realizando reuniões em grandes e numerosas cidades e aldeias pequenas.

Em seguida, viajou para África, passando quase oito anos estabelecendo sociedades de temperança em toda a Libéria e Serra Leoa, pregando em igrejas locais e reuniões de acampamento, organizando grupos de orações e ensinando em escolas relacionadas à igreja. Enquanto esteve lá, ela desempenhou um excelente trabalho voltado para educação de mulheres e crianças. Seu trabalho teve algum sucesso e obteve vitória, porém houve controvérsias e experiências de fortes críticas e crises de depressão. Alguns missionários do sexo masculino, especificamente entre os irmãos de Plymouth, opuseram-se aos seus esforços, não por causa da raça, mas por ser mulher que reivindicava autoridade para estar no ministério e pregar.

Amanda Smith, embora fosse afiliada à Igreja Metodista Episcopal Africana – AME, nunca foi nomeada para o ministério. Ela teve que assumir seus esforços missionários pela fé. O apoio das missões institucionais veio da Igreja Metodista Episcopal, complementada pelo bispo William Taylor. Esse experiente líder missionário uma vez comentou que ela “fez mais pela causa das missões e da temperança na África do que os esforços combinados de todos os missionários antes dela” (KNIGT, pag. 169, 2018).

Amanda Berry Smith continuou membro da Igreja Metodista Episcopal Africana durante toda sua vida, embora sua relação com as congregações e líderes da AME fosse frequentemente distante. Contudo, o impacto de seu serviço e ministério na América foi estabelecido e deu frutos, ao longo de dois anos, pregando por todo o Leste. Então, ela estabeleceu em Harvvey, Illinois, uma comunidade de temperança planejada, a 32 quilômetros ao sul de Chicago, que atraiu os recém-chegados ao seu caráter moral, religioso e de temperança. Em 1893, Amanda escreveu e publicou sua autobiografia; ela era quase autodidata, mas tinha uma clareza e profundidade que revelavam a nitidez de sua mente.

Naquele mesmo ano, ela juntou suas economias, usando os recursos da publicação como parte de seu apoio, para a preparação do terreno para o primeiro orfanato onde estabeleceria um Lar dos Órfãos de Smith para as Crianças Negras, em Illinois. A obra foi iniciada em 1895 e concluída em 1899.

Enquanto servia como missionária na Libéria, manda teve seis surtos de malária e também sofreu por problemas respiratórios e artrite crônica. Sendo assim, em 1912, por causa da doença, ela se aposentou do orfanato, embora continuasse com esforços para arrecadação de fundos. Amanda morreu em 1915, depois de uma série de derrames. Ao longo de sua vida ela trabalhou no cruzamento de duas realidades espirituais: metodismo independente e movimento de Santidade branca. Amanda tinha uma clara percepção do Evangelho social, as implicações espirituais e experiências de salvação e santificação. A evangelista viveu para pregar esse Evangelho, e com a graça de Deus realizou as atividades sociais nos quatros continentes.

Amanda Berry Smith impactou a geração posterior de negros através de sua autobiografia que foi reimpressa em pelo menos seis edições. No entanto, ao longo de sua vida, seu ministério chamou atenção pela disparidade entre o “mundo dos negros” e o “mundo dos brancos”, embora ela nunca conseguisse sua aceitação total.

Essa mulher afro-americana cumpriu seu chamado, avançou diante das crises, atravessou preconceitos e viveu na oração, na comunhão, e nos deixou um exemplo de fé e legado de trabalho cristão.

Referências:

ALEXANDER. Estrelda. Amanda Berry Smith – Mulher nas Intercessões. In: KNIGHT III. Henry(org). De Aldergaste a azusa: Visões de uma nova criação, Wesleyana, Pentecostal e de Santidade. Tradução de Cloves da Rocha Santos. Maceió: Editora Sal Cultural, 2018.

World Horizons Brasil. Amanda Berry Smith. Ex-escrava dos Estados Unidos que se tornou uma pregadora do Evangelho. Disponível em:< Biografias – Amanda Berry Smith – World Horizons Brasil (whbrasil.org)> Acesso em: 19 mar de 2024.

Caroline Fontes é formada Bacharel em Teologia; com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mamãe de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus – Cidade Santa, professora na EBD, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Cristã- Enraizadas em Cristo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

 

Leia o artigo anterior: Série Mulher Cristã: As pioneiras, líderes e pastoras do Movimento Pentecostal da Rua Azusa

veja também