MENU

Série Mulher Cristã: Catherine Booth, a Cofundadora do Exército de Salvação

Um fato surpreendente em sua vida foi que, antes dos 12 anos, Catherine Booth já havia lido a Bíblia toda mais de 8 vezes.

fonte: Guiame, Caroline Fontes

Atualizado: Quarta-feira, 7 Fevereiro de 2024 as 12:43

Catherine Booth. (Fonte: Public Domain)
Catherine Booth. (Fonte: Public Domain)

Catherine Mumford Booth (1829-1890) foi a cofundadora do Exército de Salvação ao lado de seu esposo William Booth. Por causa de sua influência ela também foi chamada de “mãe do Exército de Salvação”, instituição que teve um exemplo marcante dentro do protestantismo na primeira parte do período moderno no século 19, com a abertura ao ministério pleno da mulher. Ao pregar neste contexto, era o mesmo que permitir as mulheres o direito de participar da vida pública, algo que só era previsto aos homens.

Nascida em 17 de janeiro de 1829, em Ashbourne, Derbshire, em um lar temente a Deus, Catherine Booth era britânica, seu pai, John Mumford, foi um pregador leigo e sua mãe, Sarah M. Mumford, encorajava a filha no estudo da Bíblia. Em sua biografia algo que se distingue é a consciência precoce que Catherine desenvolveu com apenas três anos de idade, onde com lágrimas confessou seus pensamentos errados infantis diante de Deus, outro fato surpreendente foi que antes dos 12 anos a Catherine já havia lido a Bíblia toda mais de 8 vezes. Infelizmente, para muitos cristãos hoje, ler a Bíblia, com devoção ficou em último plano ou quando sobra tempo.

A conversão de Catherine foi aos 16 anos, ela se tornou cristã seguindo o entendimento de Jonh Wesley sobre conversão, que “deveria ser convencido de seus pecados pelo Espírito Santo, e se arrepender, pessoalmente de seus pecados, sendo justificado pela fé”. Pr. Ediudson Fontes afirma, “que Wesley defendia o conceito bíblico em que a justificação é absolvição e perdão dos pecados, e a reconciliação com Deus pela graça mediante a fé”. Mas foi o profundo conhecimento que Catherine adquiriu da Palavra de Deus que a preparou para sua batalha posterior.

Nesse período tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos as famílias, principalmente as dos operários sofriam muito por causa da bebida alcoólica. Ainda jovem, ela se tornou secretária da Associação Antialcoólica Juvenil e também se tornou uma das mais famosas pregadoras de seu país. Ela foi ativista do movimento pela temperança, escrevendo cartas sobre o problema do alcoolismo a numerosos jornais e autoridades e recolhendo fundos para causas missionárias. 

Em 1851, ela conheceu seu futuro esposo William Booth, todavia o casamento só aconteceu depois de três anos, pois ambos não queriam que seus planos pessoais interferissem em seu dever para com Deus. Eles se casaram em Londres, dia 16 de junho de 1855. Mesmo depois de casados, eles decidiram sujeitar cada interesse pessoal à vontade de Deus. William Booth foi ordenado em maio de 1858, ele era um ganhador de almas e muitas pessoas tinham encontrado a salvação em suas reuniões. Ele era um frutífero evangelista e visitador. Foi trabalhando fielmente em circuitos de Evangelização pela Conferência Metodista Anual, que William teve claro em sua mente os princípios que deram à luz ao Exército da Salvação, ele sempre teve a preciosa ajuda de sua esposa, Catherine.

A influência da doutrina de santidade e o avivamento foram essências no despontar de uma vida cristã consagrada ao trabalho evangelístico. Tanto Catherine e William reconheciam que o Senhor vinha operando em suas vidas, dando-lhes desejos mais puros e objetivos santos, o trabalho evangelístico era a sua vocação e o ardente desejo de seu coração. As palavras de William: “Ultimamente minha alma tem experimentado um caminhar elevado na vida cristã. E, com motivos mais puros, desejos e objetivos mais santos e uma consagração mais completa, eu me volto para este trabalho, como sendo a esfera na qual Deus quer me abençoar” (ALMEIDA,2020, p. 280).

Em 1861 tendo seu pedido negado pela Conferência Metodista Anual, sobre um novo trabalho evangelístico, William decide se desligar do Metodismo e inicia seu ministério independente. O primeiro plano do marido de Catherine era realizar conferências de avivamento a todas as igrejas de sua terra natal. Trabalhando juntos, Catherine e seu marido viam os resultados de ganhar almas mais surpreendentes e rápidos do que jamais tiveram conhecimento, em dezoito meses pelo menos 7 mil pessoas se converteram.

Em 1864, Catherine começou a dirigir reuniões independentes do seu marido, no objetivo de redobrar o alcance, logo ela começou a dirigir campanhas de avivamento de caráter movimentado e extraordinário. Houve também oposições de autoridades religiosas, e eles tiveram que encontrar espaços não oficiais para realizar suas reuniões.

Uma porta se abre, em 1865, Catherine é convidada a liderar uma missão em Londres. Ao ver o trabalho desenvolvido pelo Movimento da Meia-noite, cujo objetivo era a restauração de mulheres degradadas, ela ficou bastante comovida e em seu coração teve a certeza de que aquele campo de trabalho era pelo qual ela tato orava e almejava.

Da mesma forma seu esposo Willliam descobriu que sua missão era “salvar” as pessoas mais vis e desprezíveis aos olhos da sociedade. Assim nasceu o Exército da Salvação, eles depositaram a confiança em Deus para prover todo sustento para essa obra.

A ênfase na santidade além de influenciar nos ensinos e pregações de Catherine, também foi o conceito ativo nos trabalhos de ação social, ela entendia que o amor era uma caraterística definidora da santidade, ou seja, o dever de um cristão é amar a Deus e ao próximo, isso inclui atender suas necessidades físicas e espirituais. O amor de Deus na verdade de Cristo, vence todos os obstáculos, em 1882, uma pesquisa revelou que em uma noite da semana, havia quase 17 mil pessoas reunidas com o Exército de Salvação, em comparação com 11 mil em outras igrejas. Através da organização e liderança de Catherine os pobres podiam fazer até três refeições e nas noites Natal, ela cozinhava mais de trezentos pratos e distribuía pela cidade. Além disso, muitas mulheres estavam sofrendo e chegando a óbito pela contaminação da fumaça na fabricação do fósforo amarelo que necrosava o lado inteiro do rosto, Catherine e outras mulheres lideraram uma campanha contra o uso desse fósforo, mas a fábrica Bryant & May, declarou que o fósforo vermelho era mais caro., William prosseguiu com a campanha, mesmo após a morte de Catherine, e em 1891, o Exército de Salvação comprou uma fábrica, onde os trabalhadores produziram 6 milhões de caixas de fósforo vermelho por ano e recebiam salário dobrado. Somente em 1901, a Bryant & May parou de fabricar o fósforo amarelo.

Sobre as reuniões de oração, a princípio a missão realizava duas reuniões de santidade por semana. Posteriormente, iniciaram-se trabalhos como “Dias com Deus” e “Noites de Oração”. “Essas reuniões como o ensino de santidade, foram a essência e o segredo de todo sucesso do Exército” (ALMEIDA, 2020, p283).

Para Catherine a santidade ao Senhor era vanguarda de todo e qualquer ensinamento, com esse sentimento, ela lembrou que a santidade não é ficar confinada em quatros paredes apenas como recebedor das bênçãos de Deus. Assim, ela iniciou o trabalho de evangelismo pessoal e visitação nas favelas, dando assistência pessoal nos próprios lares das pessoas necessitadas. Sobre o ministério feminino e o direito da mulher pregar o evangelho, ela diz: “Se ela tem os dons necessários e sente-se chamada pelo Espírito para pregar, não há uma única palavra em todo livro de Deus para refreá-la, mas muitas, muitíssimas, para exortá-la e incentivá-la” (ALMEIDA,2020, p.284). Catherine assumiu um papel de liderança nos cultos de avivamento e podia ser vista nas paróquias portuárias de Rotherhithe e Bermondsey.

O Exército de Salvação adotou o modelo de liderança na estrutura de hierarquia do modelo militar, com uniformes e vários comandos, no topo da hierarquia está o Alto Conselho, composto pelo chefe do Estado-Maior, por todos os comissários da ativa e por todos os chefes territoriais até a posição menor que era de soldado.  De acordo com Greem, em 1883, o Exército da Salvação decidiu eliminar a observância de quaisquer sacramentos durante seus cultos de adoração. Eles acreditavam que os sacramentos poderiam substituir a experiência pessoal interior oferecida pela graça de Deus. O modelo de liderança também ocasionou muitas desavenças, que aumentaram após a morte de Catherine.

Mesmo com todo esse trabalho, Catherine não descuidou de sua casa e da educação dos filhos, sem dúvida essa não foi uma tarefa fácil, para uma mãe de 8 filhos. Ela zelava por seus filhos e nunca negligenciou a vida espiritual de cada um deles. Sobre a educação dos filhos ela baseava no princípio bíblico: “da mesma forma mãe se você quer que seu filho seja treinado para Deus, você precisa podá-lo, impeli-lo, e guiá-lo no caminho em que ele deve ir. Mas algumas mães dizem: “Quanto trabalho!”. Ah, é exatamente por isso que muitos pais falham; eles temem o trabalho. Mas se você não temer o trabalho de treinar “Carlinhos” enquanto ainda é um garotinho, ele te dará muito menos trabalho quando for grande” (ALMEIDA, 2020, p.287). Ela dedicou seus oitos filhos a Deus, não apenas com oração, mas com trabalho ardo, desde a infância. Todos os seus filhos e suas famílias receberam treinamento no Exército de Salvação e foram líderes excelentes no trabalho cristão.

Com 59 anos Catherine descobre que está com câncer, e que tem apenas dois anos de vida. Ela continua pregando e faz seu último sermão em 21 de junho de 1888, falecendo com 61 anos de idade em Clacton-on-Sea, Essex, em 4 de outubro de 1890. Catherine Booth foi uma mulher corajosa e pronta para o serviço cristão, na pregação era eloquente e convincente também em seus escritos. Muitos jornais seculares comentavam sobre o trabalho público da esposa de um ministro. Sem dúvida, Catherine, foi uma mulher cristã, que deixou um grande legado, como “mãe do Exército de Salvação e mãe de oito filhos, ajudando os aflitos e servindo aos desamparados, como ela o fez. Ela possui um lugar de honra entre as mulheres cristãs. Portanto, se nós mulheres cristãs, atendermos ao chamado de Cristo, deixando para trás as indiferenças e enfrentando com fé os desafios, Cristo nos honrará. Sejamos discípulas fiéis a Jesus Cristo e seus mandamentos.

Referências:

ALMEIDA, Rute Salviano. Vozes Femininas nos Avivamentos: Europa e Estados Unidos: séculos 18, 19 e início do século 20. Viçosa, Ultimato, 2020.

FONTES. Ediudson da Silva. Justificação pela fé na visão de John Wesley. Jornal Wesleyano no século XXI (online), 21 de janeiro de 2017. Disponível em: < https://wesleyano.inf.br/artigos/664/ > Acesso em: 05 de jan. 2024.

STANLEY. Susie C. World Religions and Spirituality. Catherine Mumford Booth, 11 de junho de 2018. Disponível em:  <https://wrldrels.org/pt/2018/06/11/catherine-mumford-booth/> . Acesso em: 05 de jan. 2024.

Caroline Fontes é formada Bacharel em Teologia; com pós- Ciência da Religião, formada em Pedagogia – UERJ, pós-graduação em Neuropsicopedagogia – FAMEESP. Reside no Rio de Janeiro, casada com pr. Ediudson Fontes, mamãe de Calebe Fontes. Diaconisa na Igreja Assembleia de Deus – Cidade Santa, professora na EBD, e idealizadora do Clube de Leitura da Mulher Cristã- Enraizadas em Cristo.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Série Mulher Cristã: Jarena Lee, Uma Pioneira Negra na Pregação Itinerante

veja também