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A dor é um fenômeno de despertamento!

O que nos desperta realmente? Nos despertamos por nós mesmos ou algo além de nós vem e nos desperta?

fonte: Guiame, Clarice Ebert

Atualizado: Sexta-feira, 14 Novembro de 2025 as 2:58

(Foto: Nathan Dumlao / Unsplash)
(Foto: Nathan Dumlao / Unsplash)

Despertar é se dar conta de que existe uma fonte de amor plena para além de nós e é ela que nos desperta. Se Deus é nosso criador, se nos ama e nos cria, cria também o desejo de sermos amados e a necessidade de sermos despertados por esse amor. 

Nessa verdade é que começa o registro de nossa interioridade, nos ensina Santo Agostinho. Temos que nos dar conta de que a narrativa "para viver, tem que morrer" é um paradoxo. Significa que para receber com alegria a vida que se nos dá é necessário deixar morrer a todas as nossas imaginações de poder e controle. 

Sendo assim, despertar-nos não é uma ação nossa. Há outra coisa muito antes de nós que vem e nos desperta, para além do eu autônomo. Esse despertamento se produz nas emoções de nossa interioridade. É algo íntimo que podemos reconhecer, sem, no entanto, produzir. É o começo de nossa identidade ou ipseidade.

A dor que desperta desnuda toda fantasia de poder. Ela atravessa o intento de controlar a manifestação de qualquer controle.

Quando apagamos a dor, também apagamos o despertamento. Na tentativa racional de acalmar a dor e suavizar a ansiedade, também deixamos de ser suscetíveis àquilo que nos desperta. Para viver, precisamos de oportunidades de despertamento, e a dor e a ansiedade são despertadores essenciais. 

A realidade do amor de Deus se manifesta por infinitos despertadores, que, por assistência do Espírito Santo, se nos dá para abrir nossos olhos a cada manhã e nos depararmos com sua infinita misericórdia.

Assim, mesmo que nem tudo tenha se resolvido e sanado, o despertamento ao amor de Deus nos revela um novo modo de pensar, muito diferente do modo de pensar até esse momento.

O despertamento não vem de técnica ou conhecimento, de medicamento, chá ou alimento, mas da criação da intimidade com aquele que nos amou primeiro. É aí que se abrem, sem aviso ou medida, as portas e janelas do sentido da vida.

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Texto de Carlos José Hernández (médico psiquiatra, doutor em medicina) e Clarice Ebert (psicóloga - CRP08/14038, terapeuta familiar e de casais, mestre em teologia).

 

Clarice Ebert (@clariceebert) é psicóloga (CRP0814038), Terapeuta Familiar, Mestre em Teologia, Professora, Palestrante, Escritora. Sócia do Instituto Phileo de Psicologia, onde atua como profissional da psicologia em atendimentos presenciais e online (individual, de casal e de família). Membro e docente de EIRENE do Brasil.

* O conteúdo do texto acima é uma colaboração voluntária, de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Emoções redimidas

 

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