A dor que mais dói: Quando não podemos ajudar o próximo

Vivemos tempos em que estamos cada vez mais fechados em nossas urgências, nossas telas e nossas demandas pessoais.

fonte: Guiame, Darci Lourenção

Atualizado: Sexta-feira, 14 Novembro de 2025 as 3:50

(Foto: Kelly Sikkema / Unsplash)
(Foto: Kelly Sikkema / Unsplash)

Eu estava assistindo ao Teleton, um programa anual transmitido em TV aberta com um propósito nobre: mobilizar a população em uma grande corrente de solidariedade para arrecadar recursos em prol da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente).

Essa instituição maravilhosa atende milhares de crianças, jovens e adultos com deficiência física, oferecendo reabilitação, tratamento especializado e inclusão.

Enquanto assistia à edição deste ano, que estava repleta de histórias reais de superação e esperança, fui surpreendido por um testemunho que ultrapassou o contexto da arrecadação.

Um rabino convidado contou que seu avô, vítima do Holocausto, certa vez lhe disse: “A dor não é o que sofremos, mas o que sentimos quando não podemos ajudar o próximo.”

Na mesma hora, aquela frase tocou meu coração e permaneceu martelando em mim.

O Teleton, em sua essência, já é um convite à empatia. O programa nos lembra que, apesar das diferenças, compartilhamos o mesmo chamado humano para aliviar o sofrimento alheio. Mas, para mim, a fala daquele sobrevivente do Holocausto elevou esse chamado a uma dimensão ainda mais profunda.

Ele falava de uma dor que ultrapassa questões físicas e emocionais. É uma dor moral, espiritual, existencial. Em meio a um dos maiores horrores da história, que extinguiu a vida de 6 milhões de judeus, o que mais o feriu não foi apenas o mal sofrido, mas a impossibilidade de servir, de estender a mão, de fazer o bem.

Esse pensamento confronta nossa cultura, acostumada a medir dor apenas pela ótica do que chega até nós, e raramente pelo que deixamos de fazer. Já parou para pensar nisso? Talvez tenha sido isso que atraiu a minha atenção imediatamente. Não estamos acostumados com esse tipo de conceito.

Vivemos tempos em que estamos cada vez mais fechados em nossas urgências, nossas telas e nossas demandas pessoais.

Quando a vida nos absorve demais, a capacidade de perceber o outro vai se apagando, e com isso perdemos algo essencial: a nossa humanidade. A dor de não ajudar é justamente a dor de perder a nossa humanidade: de sermos impedidos, por medo, por pressa ou por indiferença, de cumprir o papel para o qual fomos criados: cuidar uns dos outros.

Ao ouvir o rabino, percebi que aquela memória do avô não era apenas um relato histórico, mas um espelho para todos nós. Se um homem que enfrentou uma das piores maldades humanas ainda conseguia enxergar valor supremo em ajudar o outro, quanto mais nós, que vivemos em tempos de tantas oportunidades de solidariedade, deveríamos cultivar essa responsabilidade.

A dor que realmente importa não é aquilo que sofremos passivamente, mas aquilo que deixamos de transformar ativamente.

Acredito que esta é uma das maiores alegrias que podemos dar a Deus: quando nos disponibilizamos a abençoar, cuidar, amar e servir nossos irmãos. Pense nisso.

O Pai ama você.


Darci Lourenção (@pra_darci_lourencao) é psicóloga, pastora, coach, escritora e conferencista. Foi Deã e Professora de Aconselhamento Cristão. Autora dos livros “Na intimidade há cura”, “A equação do amor”, “Viva sem compulsão” e “Devocional Minha Família no Altar”.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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