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Capacitismo Religioso e o Evangelho de Cristo – Parte 1

Quem diz ser cristão, mas faz discriminação a pessoas deficientes, simplesmente está fora dos padrões do Evangelho de Cristo.

fonte: Guiame, Ediudson Fontes

Atualizado: Quarta-feira, 14 Fevereiro de 2024 as 2:41

Nick Vujicic aconselhou uma mulher cristã que está enfrentando depressão a ajudar pessoas que também passam por dificuldades por meio do trabalho voluntário. (Foto: Reprodução).
Nick Vujicic aconselhou uma mulher cristã que está enfrentando depressão a ajudar pessoas que também passam por dificuldades por meio do trabalho voluntário. (Foto: Reprodução).

Uma certa ocasião, realizando uma pesquisa no Google, me deparei com um assunto que chamou muito a minha atenção, e fui verificar. O site Terra postou um artigo em forma de “carrossel” explicando o assunto de maneira clara e objetiva. Capacitismo religioso é a discriminação com pessoas deficientes no sistema religioso. É crime que está previsto no artigo 88 da Lei Brasileira de Inclusão. Depois dessa leitura, resolvi tratar desse assunto, porque é um tema relevante para os nossos dias.

No Evangelho de João no capítulo 9, a narrativa bíblica apresenta um cego de nascença cujos discípulos questionaram Jesus. Eles perguntaram: “Quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (João 9:2). No versículo 3, Jesus concede a resposta aos discípulos: “... nem ele pecou, nem seus pais; mas foi assim para que se manifestassem nele as obras de Deus” (João 9:3).

O teólogo Donald Stamps explica que “Jesus corrige a crença errônea dos discípulos de que a doença grave ou calamidade é resultado de algum pecado” (STAMPS, 1995, p.1590). As Escrituras nunca ensinaram que alguém que nasce com deficiência ou se torna deficiente é resultado de pecado. Aliás, quando as Escrituras afirmam que somos pecadores, são todos, literalmente (Romanos 3:23).  Mas esse pensamento que alguém tem uma deficiência ou está enfermo é fruto de uma vida pecaminosa, é um conceito que sempre existiu.

A pergunta que os discípulos fizeram para Jesus Cristo mostra que no contexto daquela época, esse conceito errôneo era fortemente influenciado. A resposta do Senhor Jesus Cristo desfaz toda a possibilidade de apoiar essa ideia errônea. O fato de alguém ter deficiência não dá a ninguém o direito de rebaixar ou desqualificar essa pessoa, como um “coitado” ou “zé ninguém”. Deus não faz acepção de pessoas (Romanos 2:11).

Quem diz ser cristão, mas faz discriminação a pessoas deficientes, simplesmente está fora dos padrões do Evangelho de Cristo. Uma liderança que prega e ensina que alguém que é deficiente está nesse estado porque é falta de fé, está totalmente equivocado. É uma demonstração de falta de empatia para com as pessoas. O Senhor Jesus Cristo, em seu ministério terreno, demonstrava a empatia com as pessoas. Ele não desqualificava as pessoas. Até mesmo os fariseus e saduceus, que faziam oposição ao seu ministério, o Senhor Jesus Cristo não os rejeitava quando o procuravam.

A pessoa deficiente é alvo da graça de Deus. Em João 3:16, quando diz: “Deus amou o mundo...”, o mundo são todos e não alguns. Os deficientes e não deficientes são alvo da salvação em Cristo Jesus. Quando alguém recebe Cristo em sua vida, está inserido no Corpo de Cristo (1 Coríntios 12:12 – 14). Em Cristo, os deficientes ou não, são irmãos em Cristo, não há barreiras para essa comunhão. As diferenças que existem são secundarias porque a primazia é a comunhão entre os irmãos em Cristo Jesus.

A cura divina é bíblica. O Senhor Jesus Cristo curou os enfermos. No Livro de Atos, os apóstolos estavam cheios do poder do Espírito Santo e com autoridade no nome de Jesus Cristo, os enfermos eram curados. E isso pode acontecer nos dias atuais? Sim! Inclusive, já escrevi esse assunto aqui no Portal Guiame, cujo título é “Cura divina: É para os nossos dias?” Crer na cura divina não é ser cego para a medicina e ignorar os tratamentos. A cura divina não é um marketing para enganar as pessoas no sentido de obter uma cura que não existe. Ao contrário disso, crer na cura divina é reconhecer o ato soberano de Deus e, ao mesmo tempo, saber que a medicina e qualquer recomendação benéfica à saúde, são recursos bem-vindos.

Não obter a cura divina não faz a pessoa “menos abençoada”. O grande projeto de Deus para a humanidade é a salvação em Cristo Jesus. Ninguém pode e nem deve prometer a “cura divina”. Pertenço a uma tradição pentecostal onde cremos na cura divina. Entretanto, a teologia pentecostal oficial não banaliza a cura divina. A teologia pentecostal oficial trata desse assunto com muita seriedade e equilíbrio. Os que se dizem “pentecostais” e manipulam as pessoas com promessas de curas são, na verdade, falsos pentecostais que manipulam a fé para pessoas. Esses tais são dignos de duras críticas.

Uma pessoa com deficiência física é bem-vinda na igreja. A vida dela pode expressar a glória a Deus. O irmão ou irmã em Cristo que seja deficiente pode ser usado pelo Senhor Jesus para glória de Deus. Eu já tive um aluno de Teologia que é cadeirante. Isso foi em uma das extensões do Ibaderj, localizado na Assembleia de Deus – Ministério Deus Conosco em Batan, aqui no RJ. O aluno cadeirante era aplicado nos estudos e querido pela turma. Não havia discriminação contra ele. Pelo contrário, a forma de tratamento era de igualdade.   

Expresso aqui a minha solidariedade aos deficientes que sofrem por causa do preconceito da sociedade e também religioso. Aos meus irmãos em Cristo que são deficientes, permaneçam firmes em Cristo, pois vocês são úteis no Corpo de Cristo!

Referência bibliográfica:

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro. CPAD. 1997.

Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

Leia o artigo anterior: Ação Social: Uma Marca Cristã

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