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Concílio de Niceia e a fé pentecostal

Conhecido como o “primeiro concílio cristológico”, seu foco principal está na relação entre o Pai e o Filho.

fonte: Guiame, Ediudson Fontes

Atualizado: Terça-feira, 27 Maio de 2025 as 3:01

O concílio foi convocado para resolver a controvérsia causada pelo presbítero Ário, que negava a plena divindade de Cristo. (Imagem ilustrativa gerada por IA)
O concílio foi convocado para resolver a controvérsia causada pelo presbítero Ário, que negava a plena divindade de Cristo. (Imagem ilustrativa gerada por IA)

Iniciamos o texto abordando um dos principais concílios da história do cristianismo, denominado Concílio de Niceia (325 d.C.). Conhecido como o “primeiro concílio cristológico”, seu foco principal está na relação entre o Pai e o Filho. O concílio foi convocado para resolver a controvérsia causada pelo presbítero Ário, que negava a plena divindade de Cristo, afirmando que o Filho era uma criatura subordinada ao Pai.

O Concílio rejeitou essa visão e afirmou a consubstancialidade do Filho com o Pai — ou seja, que Jesus é “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial [homoousios] com o Pai”. O termo grego homoousios, que significa “da mesma substância” ou “consubstancial”, foi adotado para expressar com clareza que Jesus Cristo possui a mesma essência divina do Pai, opondo-se à ideia ariana de que Jesus seria apenas semelhante ou inferior.

Foi então elaborado o Credo Niceno, uma confissão de fé que se tornou a base para a ortodoxia cristã. Esse credo foi posteriormente ampliado no Concílio de Constantinopla (381), formando o que hoje é conhecido como o Credo Niceno-Constantinopolitano. O Concílio de Niceia estabeleceu um padrão para o combate às heresias, inaugurando o modelo de concílio ecumênico como espaço de definição doutrinária.

Esse foi o primeiro concílio ecumênico da história da Igreja e marcou a integração entre a Igreja e o Império Romano, com a presença ativa do imperador Constantino. Isso deu início a uma nova era, em que o cristianismo passou a ser amparado pelo Estado, o que teve consequências duradouras na política eclesiástica e imperial. Além das definições doutrinárias, o concílio também produziu cânones disciplinares — sobre ordenação, comportamento clerical e a data da Páscoa — contribuindo para a uniformização da prática eclesial.

O concílio buscou preservar a unidade da fé cristã diante da pluralidade de interpretações teológicas. Sua decisão sobre a natureza de Cristo foi um divisor de águas, delimitando com precisão os contornos da doutrina ortodoxa.

A teologia pentecostal, surgida séculos depois, tem como um de seus pilares a crença na atuação do Espírito Santo, que também é afirmada no Credo Niceno como “Senhor, Doador da vida” e que “com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. O pentecostalismo enfatiza a experiência pessoal e carismática do Espírito Santo, incluindo dons espirituais e manifestações como o falar em línguas — temas não tratados diretamente no Concílio de Niceia, mas em consonância com a ênfase trinitária e na divindade do Espírito que o concílio ajudou a consolidar.

Ao afirmar com clareza a divindade plena de Jesus e sua unidade com o Pai e o Espírito, os pentecostais refletem os fundamentos cristológicos e trinitários definidos em Niceia e aprofundados em Constantinopla. Algumas igrejas pentecostais podem não enfatizar formalmente os concílios ecumênicos em sua catequese e nem sempre recitam credos liturgicamente. No entanto, sua doutrina está alinhada com os consensos teológicos estabelecidos nesses concílios.

O Credo Niceno-Constantinopolitano, por exemplo, declara: “Cremos no Espírito Santo, Senhor e doador da vida, que procede do Pai [e do Filho, no Ocidente]”, o que está em harmonia com a ênfase pentecostal na atuação contínua do Espírito na vida da Igreja.

Portanto, o pentecostalismo compartilha dos principais ensinamentos definidos em Niceia. A fé pentecostal é cristocêntrica, trinitária e baseada nas Escrituras, estando dentro da ortodoxia cristã definida por esse importante concílio. Pode-se afirmar, assim, que a fé pentecostal é herdeira, ainda que de forma implícita, do legado niceno.

 

Ediudson Fontes (@ediudsonfontes) é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência da Religião. Cursando Mestrado em Teologia Sistemática Pastoral na PUC-RJ. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Guiame.

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