Neste mês da Reforma Protestante, iniciarei uma série com quatro artigos sobre o tema: este primeiro tratará do legado que a Reforma deixou para o aspecto social, repercutindo até os dias de hoje.
A Reforma Protestante foi um acontecimento de suma importância no mundo ocidental. Apesar de não ter solucionado todos os problemas da época, trouxe contribuições significantes que refletem em nossos dias atuais. Quero destacar, neste artigo, as contribuições na área social.
A Reforma Protestante foi a segunda grande cisão do cristianismo, promovida pelo monge agostiniano Martinho Lutero. No dia 31 de outubro de 1517, ele fixou na porta do Wittenberg Castle noventa e cinco teses, que traziam denúncias contra a Igreja Católica Romana, que estava sob a liderança do Papa Leão X. Lutero, que era professor da University of Wittenberg, não tinha como objetivo se desligar da Igreja Católica, mas de reformular as principais doutrinas que eram ensinadas pelo clero romano.
Um dos graves problemas que predominava entre o povo alemão era o analfabetismo. Pois só o clero, a corte e os nobres eram alfabetizados e possuíam um alto grau de instrução. Com a tradução da Bíblia para o alemão, no ano de 1522 como fruto do trabalho de Lutero, ele promoveu a alfabetização para o seu povo, para que todos pudessem ler as Escrituras. Essa motivação do monge agostiniano estava baseada em seu entendimento “o sacerdócio universal de todos os crentes” (LUTERO, 1995, p.254). Lutero afirma que “somos sacerdotes; isto é muito mais que ser reis, porque o sacerdócio nos torna dignos de aparecer diante de Deus e rogar pelos outros” (LUTERO, 2015, p. 27). Esse princípio bíblico espiritual refletiu também na vida social dos alemães.
As denúncias apontadas por Lutero contra Igreja e o seu sistema estremeceram as bases da autoridade eclesiástica. Sua pregação era voltada à Igreja, à nobreza e aos príncipes. Segundo Melo, “Lutero foi crítico à vida de ostentação e luxo, combatendo a usura” (MELO, 2017, p.63). Com a ruptura com o catolicismo, surgem novos paradigmas para a religião, sem manipular as pessoas nem elitizar a fé. Dessa forma, o aspecto social seria mais favorável para a população. Dr. Samuel Pereira Valério afirma que “a postura de Lutero foi tornar acessível aos alemães e, posteriormente, aos demais o acesso a um novo modelo de igreja, preocupada não só com problemas de cunho espiritual, antes, preocupava-se também com o desenvolvimento social da nação.” (VALÉRIO, 2017, p.15).
A contribuição da Reforma Protestante no aspecto social é de grande relevância em nossos dias. Em nosso país, o acesso à educação não é dos melhores, além de problemas sociais como desemprego, moradia entre outros. É uma dura realidade que não pode ser negada. A injustiça social está enraizada na história do Brasil. Essas pautas não podem ser encaradas como “assuntos para campanha política” ou “ideológica”.
No Antigo Testamento, os profetas exerciam os seus ministérios denunciando os pecados de injustiças sociais que os reis de Israel cometiam. Lutero, com coragem, denunciou os problemas que a Igreja da época cometia, que prejudicava o povo alemão na sua vivência social.
Atualmente, a injustiça social tem ganhado mais força em nossos país. A classe política se aproveita dessa realidade para se promover e alcançar os objetivos pessoais ou partidários. Mas a Igreja de Cristo não é vinculada a partido político. Ela prega a mensagem do Senhor Jesus Cristo porque só Ele é o verdadeiro Salvador da humanidade (João 3:16). No entanto, o aspecto social também é importante. Deus não apenas olha o ser humano como espiritual, mas também social. O maior exemplo que podemos mencionar é a encarnação do Senhor Jesus Cristo. Ele se fez homem e habitou entre nós (João 1:1). O Verbo de Deus viveu de uma forma social no contexto de Israel, exercendo a sua missão messiânica.
Matinho Lutero denunciou os problemas da sua Igreja da época. Precisamos urgente denunciar os conceitos que usam o nome de Deus, mas que as Escrituras não compactuam. Não precisamos de uma “roupagem política” para olharmos para os necessitados. Aprendemos com o próprio Senhor Jesus Cristo que “tinha compaixão da multidão”. Lutero deu a sua contribuição para os aspectos social. Que nós continuemos esse legado para nossa geração!
Referências bibliográficas:
Lutero, Martinho. A liberdade do cristão. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2015.
_____, Martinho. Obras Selecionadas – Ética: Fundamentos: Oração, Sexualidade, Educação e Economia. Volume 5. São Leopoldo: Porto Alegre. Editora Sinodal; Concórdia Editora, 1995.
MELO, Janse Racco Botelho de. As relações entre Reforma Protestante e a sociedade de seu tempo. In: BARBOSA, Carlos Antonio Carneiro. Reforma 500 anos. Revisando a história – impactos sociais, políticos e culturais. São Paulo: Editora Reflexão, 2017.
VALÉRIO, Samuel Pereira. Possíveis contribuições sociais da Reforma Protestante e do Pentecostalismos Brasileiros. In: VALÉRIO, Samuel Pereira e Osiel Lourenço de Carvalho. Reforma Protestante e Pentecostalismos no Brasil. São Paulo: Editora Reflexão, 2017.
Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.
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