Confiar desconfiando

Confiar desconfiando

Atualizado: Terça-feira, 21 Maio de 2013 as 12:04

 

desconfiançaÊpa! Alto lá, isto não é confiar! Protestamos. De fato não é, mas é assim que se confia hoje em dia: desconfiando. Olhe ao redor, observe, repare nos fatos, nos contatos, nos contratos. No geral, quem confia, confia desconfiando.
 
É tudo muito cínico. Um exemplo clássico encontramos na relação com bancos. Se você tem dinheiro é tratado a pão-de-ló. Se não tem, o pão do tratamento muda, passa a ser o pão que o diabo amassou. Um detalhe, no entanto, não muda, e é um detalhe igual com ou sem dinheiro: você é um ótimo cliente, o banco diz que confia em você, mas sem sua assinatura e vistos num monte papel, nada feito.
 
O triste é que este tipo de confiança que em todo o tempo desconfia, ultrapassou faz tempo a barreira dos limites profissionais, hoje é um comportamento facilmente percebido até em relações despretensiosas. Como entre colegas de escola, amigos de bairro, gente da família.
 
Não defendo aqui uma ingenuidade bobinha, daquele tipo que acredita em qualquer falsidade com pinta de verdade, com situações e pessoas que deixam evidentes as más intenções, as más ações, as más realizações. Não é isso. Aprender dia a dia com a vida e conseguir minimamente ler a vida, deve ser tarefa de todos nós.
 
Falo sobre a epidemia da desconfiança. Somos tão desapontados, frustrados, decepcionados e indignados diariamente por um sistema doido na política, na economia, nas injustiças e corrupções, que acabamos também ficando cínicos, desacreditados, indiferentes.
 
Hoje repete-se sem o menor constrangimento: “comigo é preto no branco”. O tempo de olhar nos olhos, se admirar com o testemunho de uma vida honrada, parece ter ficado perdido com nossos avós em algum banco de uma praça qualquer. Prevalece a desconfiança mesmo entre aqueles onde nada de traíragem aconteceu. Ou seja, vivemos num clima de desconfiança de pai com filho, de irmão com irmão, de filha com mãe, de sangue com sangue. Para além destas relações de sangue a desconfiança só aumenta.
 
O estrago fica completo quando chega e adoece a própria fé. Se confiar desconfiando passa a ser o padrão, como desenvolver uma fé pura e genuína? A fé, tal qual aprendemos com nossos pais nos textos sagrados, pede essencialmente que se confie. Confiar é prerrogativa indispensável para amadurecer, fortalecer e criar músculos espirituais na fé. Porque se creio que Deus é Deus, beira o absurdo o confiar desconfiando do poder infinito que nEle habita.
 
Este é o ponto. A fé precisa ser defendida. Ela deve ser intocável. É a fé convicta em Deus que pode resgatar minha confiança nos meus semelhantes. Inverter esta ordem é fracasso certo. A confiança em homens não fortalece minha confiança em Deus, mas uma confiança pura em Deus resgata minha segurança para confiar nos meus iguais dos quais tanto preciso para me completar.
 
Ou seja, confiar confiando é mais saudável e tranquilo quando este confiar está seguro primeiramente em Deus. Se, atenção, eu disse se. Se homens me decepcionarem, Deus jamais me decepcionará. É bola pra frente e confiar na soberania e providência do Eterno.
 
De forma poética, a Bíblia na linguagem de hoje, no Salmo 33, a partir do verso 16 dá uma boa ideia sobre a confiança focada em Deus para cada um de nós. Acompanhe: “Nenhum rei vence por ter um exército poderoso, nem os soldados conseguem a vitória por causa de sua força. Não são os cavalos de guerra que ganham a batalha; a sua grande força não pode salvar ninguém. É o Deus Eterno quem protege aqueles que o temem e guarda aqueles que confiam no Seu amor. Ele os salva da morte e os conserva com vida nos tempos de fome. Nós confiamos no Deus Eterno; é Ele quem nos ajuda e nos protege. O nosso coração se alegra por causa do que o Deus Eterno tem feito; nós confiamos no Seu santo nome. Ó Deus Eterno, que o Teu amor nos acompanhe, pois nós confiamos em Ti.”
 
Paz!
 
 
por Edmilson Mendes
blog: calicedevida.com.br
twitter: @Edmilson_Regina
 

veja também